quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A realeza de Nossa Senhora


A festa litúrgica de “A Virgem Santa Maria, Rainha”, ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.

Essa Realeza encontramos em vários documentos pontifícios, quase de contínuo, na expressão de “Rainha da terra e do céu”, atribuída à Virgem Santíssima, ou em expressões de todo equivalentes. Recentemente ainda o imortal Pontífice Pio XI, não contente de bendizer e aprovar o projeto de dedicar-se à Catedral de Port-Said a Maria, Rainha do Universo, enviou a consagrá-la um Legado seu e ofereceu um preciosíssimo colar de ouro, cheio de diamantes, para a imagem de Nossa Senhora. Além disso, permitiu à diocese de Port-Said acrescentar à Ladainha Lauretana a invocação: Regina mundi, ora pro nobis. Já antes de Pio XI, o Papa Leão XIII fizera coroar em seu nome, em 1902, uma imagem de Maria, Rainha do Universo, venerada em Friburgo, na Suíça.

A Igreja em sua liturgia nos faz continuamente saudar a Virgem Santíssima com o título de Rainha: “Salve Regina!”, “Ave, Regina caelorum!”, “Regina caeli, laetare!” Depois, mais de 800 Bispos, dispersos por todo o mundo, indulgenciavam em suas respectivas dioceses uma prece dulcíssima à Realeza de Maria, a qual foi difundida por um grupo de piedosas senhoritas romanas e publicada em várias centenas de revistas. A realeza de Maria Santíssima é, portanto, uma daquelas verdades que estão contidas na pregação quotidiana e universal da Igreja e, por isso mesmo, no depósito da Revelação, isto é, na Escritura do Velho e do Novo Testamento, e na Tradição.

Desde os primeiros séculos da Igreja Católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste.

Um célebre Mariólogo do século XVII, Marracci, em sua Polyantea Mariana, chegou a enumerar 135 escritores que deram a Maria o título de Rainha, de Imperatriz, de Soberana ou Senhora. Só a palavra Rainha ocupa 13 grandes páginas de citações.

Em uma pintura das Catacumbas de Priscila, a qual monta ao início do II século, a Virgem Santíssima se acha representada no ato de apresentar seu divino Filho à adoração dos Magos. Embora a Virgem não esteja sentada, como nas pinturas dos séculos III e IV, traz, contudo, atavios que recordam os das Imperatrizes da primeira metade do II século, sem véu algum sobre si. No século IV, a Virgem é representada como uma Rainha no mármore negro do Museu Kircheriano e nos fragmentos de Damons-el-Karita. No século VI, encontramos Maria representada nas ambulas conservadas em Modena. Aí se vê uma Rainha, cheia de sua majestade: o mesmo tipo que se depara nos famosos mosaicos de Santo Apolinário, em Ravena, nos afrescos de Santa Maria Antiga, junto ao Foro Romano e, mais tarde, nos portais de várias igrejas do século XII.

A Virgem Santíssima, portanto, é e deve ser chamada Rainha do universo não só em sentido metafórico, mas também em sentido próprio. Como a de Cristo, a Realeza de Maria é, também, principal e diretamente uma Realeza sobrenatural e espiritual; secundariamente, porém, e indiretamente é também uma Realeza natural e temporal, isto é, se estende também às coisas naturais e temporais, enquanto estas se referem ao fim sobrenatural e espiritual.

Como a de Cristo, assim também a Realeza de Maria não conhece limites de espaço, nem de tempo: estende-se a todos, a tudo e sempre à terra, ao céu, ao Purgatório e ao Inferno.

Estende-se, antes de tudo, à terra, pois que as graças que descem do céu sobre a terra passam, pela vontade de Deus, através do coração e das mãos de Maria. Estende-se ao céu, sobre todos os bem-aventurados, seja porque sua graça essencial é devida, além dos méritos de Cristo, também aos de Maria; seja porque sua graça acidental precípua é causada pela amabilíssima presença da Virgem. Estende-se ao Purgatório, levando os fiéis da terra a sufragarem de muitos modos as almas que ali sofrem e aplicando a estas, em nome do Senhor, os méritos e as satisfações de seu divino Filho, e os seus próprios. Estende-se, por fim, ao Inferno, fazendo tremer os demônios, tornando vãos seus assaltos para a perdição das almas. Não há, portanto, ponto algum do universo sobre que a Virgem Santíssima não estenda sua Realeza.

Fonte: Heroínas da Cristandade

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