sexta-feira, 30 de novembro de 2018

30 de Novembro - Festa de Santo André, Apóstolo


A Igreja comemora hoje a festa de Santo André, Apóstolo, irmão de Simão Pedro e, como ele, oriundo de Betsaida (cf. Jo 1, 44). Embora Sãi Pedro seja sempre mencionado em primeiro lugar nos catálogos de Apóstolos do Novo Testamento (cf. Mt 10, 2-4; Mc 3, 16-19; Lc 6, 14-16; At1, 13), o que leva a concluir que lhe coube desde o início uma posição de destaque entre os outros discípulos, foi Santo André quem teve a graça de ser o primeiro a conhecer Jesus e ser chamado para o seguir. É por isso que a tradição oriental o honra com o título de Πρωτόκλητος, expressão grega que significa “o primeiro vocacionado”. O quarto evangelho recorda que tanto ele como São João, filho de Zebedeu, eram discípulos de São João Batista. Foi este que lhes apontou Jesus como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 36) e os motivou a acompanhá-lo. Como os dois discípulos o seguissem ao longe, talvez um pouco  tímidos, o Senhor voltou-se a eles, dizendo: “Que procurais?” (Jo 1, 38), não porque ignorasse o que pensavam, mas para, com esta pergunta, incentivá-los a conversar mais de perto e atraí-los assim para a intimidade do seu Coração. Eles, porém, se limitaram a perguntar onde morava o Mestre (cf. Jo 1, 38), ao que este responde: “Vinde e vede” (Jo 1, 39). Eles foram aonde Cristo vivia e, alimentados com a sua doutrina e animados pela delicadeza do seu trato, ficaram aquele dia com Ele. Santo André, no entanto, saiu o quanto antes à procura do irmão para, como primeiro Apóstolo do Evangelho, comunicar-lhe a boa notícia: “Achamos o Messias” (Jo 1, 41), pois quem conheceu a Cristo e foi admitido à sua casa, isto é, à Igreja, não pode guardar só para si tamanha alegria.

Além dessas duas primazias no colégio apostólico, uma de poder e governo e outra de tempo e serviço, São Pedro e Santo André têm em comum também o modo como foram martirizados. Condenados a ser crucificados, os dois irmãos não se consideraram dignos de morrer como morrera Jesus. Por isso, São Pedro exigiu ser crucificado de cabeça para baixo, enquanto Santo André, conforme algumas atas de seu martírio, foi cravado em dois postes cruzados em forma de xis, ou seja, numa cruz decussata, também chamada habitualmente “cruz de Santo André”. A tradição também lhe atribui uma bela oração que ele teria rezado pouco antes de ser morto, prova do grande amor que este santo Apóstolo tinha a Jesus e testemunho inequívoco de que é não só proveitoso, mas muito adequado à ortodoxia da fé honrar e venerar os ícones e imagens que representam a Cristo a os instrumentos de sua Paixão. A oração é conhecida como O bona crux e deveria estar sempre pendentes dos nossos lábios, e com especial fervor nesta festa de Sabto André: “Ó boa cruz, que do Corpo de Jesus recebeste a formosura, tanto tempo desejada, tão ardentemente amada, sem descanso procurada! Para a minha alma ansiosa estás por fim preparada! Retira-me dentre os homens e devolve minha vida ao Mestre a quem pertenço! Por ti me receba aquele que por ti me resgatou. Amém.” — Santo André, Apóstolo, rogai por nós!


Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/festa-de-santo-andre

terça-feira, 27 de novembro de 2018

27 de Novembro - Memória de Nossa Senhora das Graças


Origem na eternidade

A história de Nossa Senhora das Graças começa, na verdade, fora do tempo, quando o Pai, nos seus mais altos desígnios, planejou a encarnação de seu Filho Jesus, no seio da humanidade. Nesse momento, o Pai também pensou em Maria, pois, seu Filho teria que ter uma mãe humana. E a mãe do Salvador teria que ser “cheia de graça”. E assim aconteceu. A história começou, o mundo foi criado, o homem decaiu e Deus prometeu o Salvador. Por isso, Ele preparou Maria. Tanto que, quando o Anjo Gabriel apareceu para anunciar que ela seria a Mãe de Jesus, afirmou que ela era “cheia de graça”. (Lucas 1, 28)

Portadora de todas as graças

Em seguida, quando Maria disse o seu “sim” a Deus, diante do mesmo Anjo Gabriel, ela passou a ser portadora da maior de todas as graças que a humanidade poderia receber: o próprio Filho de Deus. Gerando Jesus para o mundo, Maria proporcionou que todas a graças chegassem até nós.

O título Nossa Senhora das Graças

Desde o início da Igreja, Maria sempre foi vista como “portadora das graças”. Porém, o título “Nossa Senhor das Graças” surgiu num determinado tempo da história e num local específico. Estamos falando das 17 horas e 30 minutos do dia 27 de novembro de 1830, na Rua Du Bac, 140, em Paris, França. Neste local e data especificados, Catarina Labouré, então noviça da Congregação de São Vicente de Paulo, foi até à capela impelida para rezar. Estando em oração, teve uma visão da Virgem Maria, que se revelou a ela como Nossa Senhora das Graças.

A aparição


E tal revelação não aconteceu somente por palavras. Nossa Senhora deu a Catarina Labouré uma visão reveladora. Vejamos o relato da própria Catarina que, depois, se tornou santa: "...uma Senhora de mediana estatura, de rosto muito belo e formoso... Estava de pé, com um vestido de seda, cor de branco-aurora. Cobria-lhe a cabeça um véu azul, que descia até os pés... As mãos estenderam-se para a terra, enchendo-se de anéis cobertos de pedras preciosas. A Santíssima Virgem disse-me: ‘Eis o símbolo das Graças que derramo sobre todas as pessoas que mas pedem ...’ Formou-se então, em volta de Nossa Senhora, um quadro oval, em que se liam, em letras de ouro, estas palavras: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós’. Depois disso o quadro que eu via virou-se, e eu vi no seu reverso: a letra M, tendo uma cruz na parte de cima, com um traço na base. Por baixo: os Sagrados Corações de Jesus e de Maria. O de Jesus, cercado por uma coroa de espinhos e a arder em chamas, e o de Maria também em chamas e atravessado por uma espada, cercado de doze estrelas. Ao mesmo tempo, ouvi distintamente a voz da Senhora, a dizer-me: ‘Manda, manda cunhar uma medalha por este modelo. As pessoas que a trouxeram, com devoção, hão de receber muitas graças”.

A revelação de Nossa Senhora das Graças

Enquanto contemplava esta cena maravilhosa, Maria sobre o globo terrestre e raios saindo de suas mãos em direção à terra, Catarina ouviu uma voz a lhe dizer: "Este globo que vês representa o mundo inteiro e especialmente a França, e cada pessoa em particular. Os raios são o símbolo das Graças que derramo sobre as pessoas que Me as pedem. Os raios mais espessos correspondem às graças que as pessoas se recordam de pedir. Os raios mais finos correspondem às graças que as pessoas não se lembram de pedir.“

Pedir com fé

Compreendemos que o título Nossa Senhora das Graças está intimamente ligado à revelação da Medalha Milagrosa. Porém, as graças distribuídas por Nossa Senhora não dependem do uso da Medalha e sim de pedir a ela com fé e devoção. Tanto que, em outra aparição, Nossa Senhora se queixou a Santa Catarina Labouré dizendo: “Tenho muitas graças para distribuir... Mas as pessoas não me pedem...”

O poder da Medalha Milagrosa

Depois de um tempo, Catarina Labouré conseguiu que a medalha fosse cunhada, tal qual a Virgem Maria tinha lhe pedido. Logo, esta medalha se tornou um fenômeno inimaginável. A promessa da Virgem Maria se cumpria admiravelmente em todos os que usavam a Medalha com devoção. Graças a ela, uma terrível epidemia da peste negra foi debelada na França. Milhares de pessoas já tinham morrido quando a Medalha Milagrosa começou a ser usada. Então, os doentes que a recebiam com fé começaram a ser curados milagrosamente, pois a peste não tinha cura.

Milhões de Medalhas

Então, a Medalha Milagrosa passou de milhares para milhões de cunhagens. Espalhou-se rapidamente pela Europa livrando milhões de pessoas da peste. Depois, espalhou-se por todo o mundo. E as graças continuam acontecendo até hoje. A medalha Milagrosa é a mais cunhada de todos os tempos. O número de medalhas, porém, não se compara ao número de graças derramadas pelas mãos cheias de amor da Virgem Maria, Nossa Senhora das Graças.

O papel da Virgem Maria

É interessante lembrar que Nossa Senhora é despenseira, ou seja, uma “distribuidora” de graças. As graças são de Deus e só Ele pode dá-las. Mas, em sua misericórdia, o senhor escolheu distribui-las pelas mãos de sua mãe, Maria. Esta é a maravilha da nossa fé. Milhões de graças estão nas mãos de Nossa Senhora e ela quer distribuí-las a seus filhos. É vontade de Deus que assim seja. Por isso, vamos pedir a ela, com fé. São Bernardo de Claraval dizia que “Nunca se ouviu dizer que ela não atendeu a quem pediu com fé.” Esta realidade maravilhosa é testemunhada por milhões de pessoas, ao longo de séculos. Por isso, não deixe de faze seus pedidos à Mãe Celestial. E não deixe também de usar a bendita Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças. E grandes graças vão acontecer na sua vida.


Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-nossa-senhora-das-gracas/283/102/#c

domingo, 25 de novembro de 2018

Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo


O que significa para nós, católicos, celebrar, neste domingo, a solenidade de Cristo Rei? Ainda é possível falar em monarquia quando, em praticamente todos os países do mundo, o sistema republicano domina, e às figuras monárquicas restou apenas um papel simbólico e decorativo? De fato, soa estranho falar de um reinado social de Cristo, como pontificou Pio XI na encíclica Quas Primas, justo agora que essa forma de governo aparentemente caducou.

Para compreender a solenidade de hoje, o católico precisa ir às fontes da natureza humana, lá na origem das civilizações, quando o homem, embora já marcado pelo pecado, ainda se orientava pela liderança dos mais virtuosos. Em todas as sociedades antigas, desde as indígenas às africanas, os povos se organizavam naturalmente pelo reconhecimento das excelências humanas. Trata-se de uma lei da natureza. Para sobreviver, as populações se aliavam àqueles que tinham verdadeiras habilidades de governo; organizavam-se como uma família e se submetiam aos conselhos do rei, cujo papel remetia à figura paterna. As sociedades tinham, sim, um patriarca.

Falar de Cristo Rei, portanto, significa voltar para essa natureza humana, a fim de que todos os homens se coloquem debaixo do governo desse pai “manso e humilde de coração”, que outra coisa não deseja senão a salvação dos seus filhos. Diante de nossos fardos e tribulações, Ele nos chama para si, toma as nossas dores, e nos ensina o caminho correto para a felicidade: “Aprendei de mim”, diz o Senhor, “e achareis repouso para vossas almas” (Mt 11, 29).

A doença da sociedade atual tem origem, entre outras coisas, na perda do senso natural da realidade. As pessoas vivem uma ficção. Por isso, os governos já não são organizados como famílias, segundo um modelo naturalmente monárquico, mas por meio da propaganda demagógica, que forja falsas lideranças. Não se trata de líderes realmente habilitados para dirigir paternalmente uma nação, mas de oportunistas, que dissimulam uma falsa autoridade apenas para desfrutar das benesses do poder. Daí os escândalos políticos de corrupção tão comuns hoje em dia.

Nunca o mundo precisou tanto de um rei como agora. Por isso, a Igreja insiste no anúncio do reinado de Cristo, entendendo que é a partir da submissão a esse Deus amoroso que podemos, verdadeiramente, superar as seduções do diabo, as maquinações do mundo e a rebeldia da carne. O sacrifício de Cristo na cruz serviu exatamente para nos libertar da escravidão da morte e, ipso facto, colocar-nos debaixo de um jugo suave e um fardo leve. Se, antes da ressurreição de Jesus, a morte era nossa senhora, agora, que Deus a derrotou, Ele é o nosso único e autêntico Senhor.

Muitas tiranias têm se abatido sobre a consciência daqueles que, erroneamente, se apartaram de Deus: drogas e outros vícios; ideologias maquiavélicas; corrupção e violência generalizada. Tudo isso está destruindo a sociedade atual. Ou seguimos Jesus, ou nos tornamos reféns de nossas paixões. A Igreja, por isso mesmo, cumpre o seu papel de despertar as almas, encorajando-as para o combate e a resiliência diante das adversidades, a fim de que vivamos e sirvamos à caridade antes de servir às leis humanas positivas. Uma nação regida nesses termos certamente terá um destino diferente das demais. Sim, que Cristo reine sobre nós agora e para sempre. Amém.



quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Apresentação de Nossa Senhora segundo a mística Maria Valtorta


Maria é acolhida no Templo. Ela, em sua humildade, não sabia que era a cheia de sabedoria.

30 de agosto de 1944.

Vejo Maria caminhar entre o pai e a mãe, pelas ruas de Jerusalém. Os passantes detêm-se para olhar a formosa menina, toda vestida de um branco neve, coberta com um véu muito leve que, por seus desenhos de ramos e de flores, mais escuros por entre os pontos mais claros do fundo, parece-me ser o mesmo que Ana usou no dia de sua Purificação. Com esta diferença: enquanto para Ana ele chegava só até a cintura, para a pequenina Maria desce quase até o chão, e a envolve em uma nuvem tênue e clara de uma extraordinária beleza.

O loiro dos cabelos soltos sobre os ombros, ou melhor, sobre a graciosa nuca, transparece aqui e ali, nos pontos em que o véu não é adamascado, apresentando à vista apenas o fundo, que é quase diáfano. O véu está preso sobre a fronte por meio de uma fita de um azul muito claro sobre a qual, certamente por obra da mamãe, estão bordadas, a fio de prata, pequenos lírios. O vestido de Maria, como eu disse, é alvíssimo, desce até o chão, e os pezinhos mal se mostram, quando ela anda, com suas sandalinhas brancas. Suas mãozinhas lembram duas pétalas de magnólia, saindo das mangas largas. Fora o círculo azul formado pela fita, não se vê nenhuma outra cor. Tudo é branco. Maria parece vestida de neve. Joaquim e Ana estão vestidos, ele com a mesma roupa da Purificação e Ana ao invés, com um vestido de cor violeta muito escuro. Até o manto, que lhe cobre a cabeça, é de um violeta escuro. Ela o traz caído totalmente sobre os olhos, dois pobres olhos de mãe, vermelhos de tanto chorar, que não queriam ser vistos assim, por isso choram sob a proteção do manto. Essa proteção serve por causa dos transeuntes e também por Joaquim que, embora tenha sempre olhos serenos, hoje eles estão avermelhados e opacos de lágrimas. Ele caminha, muito encurvado, debaixo do seu véu colocado como um turbante, com as beiras laterais descendo ao longo do rosto. Joaquim agora está, realmente, envelhecido. Quem o vê deve pensar que ele seja o avô, talvez até bisavô daquela pequenina que leva pela mão. O sofrimento por ter que separar-se dela faz que o pai ande como que arrastando os pés, desanimado em todos os seus movimentos e modos, o que o faz ficar vinte anos mais velho. Seu rosto parece o de uma pessoa doente, além de envelhecida, tão grande é o grau do seu cansaço e de sua tristeza, e sua boca está com um leve tremor, por entre duas rugas ao lado do nariz, mais acentuadas hoje. Os dois estão procurando esconder o pranto. Mas, se o podem esconder para muitos, não o escondem de Maria que, pelo seu pequeno tamanho, pode ver, olhando de baixo para cima e, levantando a cabecinha, olha uma vez o pai, outra vez, a mãe. Eles se esforçam para sorrir a ela, com um tremor na boca, aumentando o aperto de suas mãos sobre a pequenina mão, cada vez que sua filhinha olha para eles sorrindo. Eles devem ficar pensando: “Aí está. É esta uma vez a menos que vemos este sorriso”.

Vão andando bem devagar. Parecem querer que aquela sua viagem dure o mais possível. Tudo serve de motivo para mais uma parada... Mas, afinal, uma estrada uma hora tem que acabar. E esta já está no fim. No alto deste último trecho da estrada, que vai subindo, estão os muros que rodeiam o Templo. Ana solta um gemido e aperta com mais força a mãozinha de Maria. - Ana querida, eu estou contigo! - assim diz uma voz, que vem da sombra de um arco baixo, que se projeta sobre um cruzamento. Isabel, que, com certeza, a estava esperando, se aproxima dela e a aperta ao coração. Vendo que Ana está chorando, lhe diz: - Vem, entra um pouco nesta casa amiga. Depois, iremos juntos. Zacarias também está aqui. Entram todos em uma morada baixa e escura, na qual se vê o clarão de um grande fogo. A dona da casa deve ser amiga de Isabel, mas para Ana é estranha, e então se retira dali delicadamente, deixando os recém-chegados mais a vontade. - Não pense que eu esteja arrependida, ou esteja dando o meu tesouro de má vontade ao Senhor - explica-lhe Ana, entre lágrimas - Mas o coração... oh! como o meu coração está doendo, o meu velho coração, que vai voltar para aquela solidão dos que não têm filhos!... Se pudesses sentir o que estou sentindo... - Eu compreendo, minha querida Ana... Mas, tu és boa, Deus te confortará em tua solidão. Maria rezará pela paz de sua mamãe. Não é mesmo? Maria acaricia as mãos maternas e as beija, e as passa em seu rosto para ser acariciada, enquanto Ana aperta entre as suas aquele rostinho, e o beija, repetidamente. 

E não se sacia de beijá-lo.

Entra Zacarias, e saúda: - Aos justos, a paz do Senhor! - Sim - diz Joaquim - suplica para nós a paz, pois as nossas entranhas estão trêmulas, ao fazermos nossa oferta, como deviam estar as entranhas de nosso Pai Abraão, quando subia o monte, só  que nós não encontraremos outra oferta para darmos no lugar desta. Também não quereríamos fazer isso, pois somos fiéis a Deus. Mas estamos sofrendo, Zacarias. Sacerdote de Deus, procura compreender-nos e não fiques escandalizado conosco. - Nunca. Pelo contrário, a vossa dor, que sabe não passar além do permitido e levar-vos à infidelidade, serve para mim até como um exemplo de amor ao Altíssimo. Mas, tende coragem! Ana, a profetisa, tomará muito cuidado desta flor de Davi e de Arão. Neste mo mento ela é o único lírio de sua estirpe santa, que Davi ainda tem no Templo, e cuidaremos dela como de uma pérola real. Visto que os tempos vão chegando ao fim, as mães da estirpe deveriam consagrar suas filhas ao Templo, dado que há de ser de uma virgem, da estirpe de Davi, que nascerá o Messias. No entanto, por um relaxamento na fé, os lugares das virgens estão vazios. São muito poucas no Templo, e nenhuma da estirpe real, depois que Sara, a esposa de Eliseu, saiu para se casar, há três anos. É verdade que ainda faltam seis lustros para o fim, mas... ainda bem!

Esperemos que Maria seja a primeira de muitas outras virgens da estirpe de Davi diante do Sagrado Véu. E depois... quem sabe... - Zacarias não diz mais nada, mas, pensativo olha para Maria. Depois, retoma o assunto: - Eu mesmo velarei por ela. Sou sacerdote, e lá dentro tenho as minhas funções. E, no desempenho delas cuidarei deste anjo. Isabel também virá muitas vezes se encontrar com ela... - Oh! Decerto! Eu tenho tanta necessidade de Deus, e virei dizer isso a esta menina, para que ela o transmita ao Eterno. Ana se sente reanimada. Isabel, para aliviá-la ainda mais, lhe pergunta:  - Esse não é o teu véu de esposa? Ou será que o fiaste de um novo linho? - É aquele mesmo. Eu o consagro com ela ao Senhor. Já não tenho mais aquela vista boa... Depois, as riquezas estão muito diminuídas pelos impostos e pelas desventuras... Nem eu podia estar fazendo pesadas despesas. Tomei as providências necessárias só para um bom enxoval durante o tempo que vai passar na Casa de Deus, e para depois... pois penso que não serei eu quem a vai vestir para as núpcias... Mas quero que tenha sido a mão de sua mamãe, ainda que fria e imóvel, a preparar-lhe para as núpcias, fiando os linhos e as vestes de esposa. - Oh! Por que ficar pensando estas coisas?! - Eu estou velha, prima. Nunca me senti assim, como agora que estou passando por esta dor. As últimas forças de minha vida foram dadas a esta flor, quando a trouxe comigo, quando a alimentei, e agora... agora que estou nas últimas, estou sentindo a dor de perdê-la, o que vai acabar com minhas forças. • Não digas uma coisa dessas. Pensa no Joaquim. Tens razão. Procurarei viver para o meu homem. Joaquim fez como se não tivesse ouvido, atento como estava em ouvir Zacarias; mas bem que ele ouviu, e dá um forte suspiro, com os olhos marejados de lágrimas. - Estamos entre a terça e a sexta horas. Acho que seria bom irmos andando - diz Zacarias. Levantam-se todos para colocarem-se os mantos e partirem. Mas antes de saírem, Maria se ajoelha sobre a soleira, de braços abertos. 8.5 É um pequeno querubim, que implora: - Pai! Mãe! Dai-me a vossa bênção! A pequenina é forte, não chora. Mas seus labiozinhos tremem, e a voz, entrecortada por um interno soluço, tem, mais do que nunca, o som do gemido trêmulo da rolinha. Seu rostinho está mais pálido, e seus olhos têm aquele olhar cheio de uma resignada angústia que parece sempre mais forte até provocar-nos um profundo sofrimento. Este olhar só o verei de novo no Calvário e junto ao Sepulcro. Seus pais a abençoam e beijam. Uma, duas, dez vezes. Não sabem saciar-se... Isabel chora silenciosamente, e Zacarias, por mais que não queira demonstrá-lo está comovido. Saem. Maria entre o pai e a mãe, como antes. Na frente, vão Zacarias e a mulher. E¡-los dentro dos muros do Templo. - Vou ao Sumo Sacerdote. Vós subi até o grande terraço. Atravessam três pátios e três átrios sobrepostos. Chegam aos pés do grande cubo de mármore coroado de ouro. Cada cúpula, convexa como uma enorme laranja, está brilhando agora ao sol, cujos raios incidem perpendicularmente sobre o vasto pátio que circunda a majestosa construção, ocupando toda a ampla esplanada, abrangendo a escadaria que conduz ao Templo. Só o pórtico, que fica à frente da escadaria, está na sombra, tornando a alta porta feita de bronze e ouro ainda mais escura e majestosa, rodeada de muita luz. Maria parece ainda mais ser feita de neve, quando anda ao sol. Agora ela está aos pés da escadaria. Entre o pai e a mãe. Como devem estar batendo os corações dos três! Isabel está ao lado de Ana, mas a um meio passo atrás. Um toque de trombetas de prata, e a porta, girando sobre as dobradiças, parece produzir um som de cítara, ao correr sobre as esferas de bronze. Pode-se ver agora o interior, com suas lâmpadas lá no fundo, e um cortejo que vem saindo do interior. É um cortejo pomposo, com o soar das trombetas de prata, nuvens de incenso e muitas luzes. Ei-lo que chega à soleira da porta. O Sumo Sacerdote parece vir à frente. É um ancião cheio de majestade, vestido de linho finíssimo, tendo sobre o linho uma túnica mais curta, também de linho, sobre 56 a qual traz uma espécie de casula, um paramento multicolor, parecido com a planeta e a veste dos diáconos. Nas suas vestes, as cores púrpura e ouro, roxo e branco se alternam, e brilham como pedras preciosas ao sol; duas gemas verdadeiras brilham ainda mais vivamente sobre os ombros. Também parecem ser duas fivelas em seus engastes preciosos. Sobre o peito uma larga placa reluzente com pedras preciosas presas por uma corrente de ouro. Há ainda pingentes e ornamentos vários, que reluzem na barra da túnica curta, enquanto o ouro lhe resplende sobre a fronte por cima da cobertura da cabeça, fazendo lembrar os padres ortodoxos, na mitra que eles usam em forma de cúpula, diferente da católica, que tem uma ponta. O solene personagem avança sozinho, até o começo da escadaria, exposto ao brilho do sol, que o torna ainda mais esplêndido. Os outros, numa fila em semicírculo, o esperam do lado de fora da porta, à sombra do pórtico. A esquerda, há um grupo de meninas vestidas de branco, em companhia de Ana, a profetisa, e outras anciãs, que certamente são mestras. O Sumo Sacerdote olha para a pequena e sorri. Ela deve estar-lhe parecendo muito pequena, ainda mais, aos pés daquela escadaria que parece digna de um templo egípcio! Ele eleva os braços em oração. Todos abaixam a cabeça, como que aniquilados, diante da majestade sacerdotal que está em comunhão com a Majestade eterna. Depois, chegou a hora! Ele faz um sinal a Maria. E ela se separa da mãe e do pai e sobe, vai subindo, como se estivesse fascinada. Ela sorri. Está sorrindo, agora já à sombra do Templo, onde desce o Véu precioso... Já está no alto da escadaria, aos pés do Sumo Sacerdote, que lhe impõe as mãos sobre a cabeça, a vítima é aceita. Que hóstia mais pura terá tido algum dia o Templo? Depois o Sumo Sacerdote se volta até a porta do Templo, conservando a mão sobre o ombro dela, como para conduzir a cordeirinha sem mácula ao altar. Antes de fazê-la entrar, lhe pergunta: - Maria de Davi, sabes qual é o teu voto? Ao “sim” alto e claro, com que ela lhe responde, ele exclama: - Entra, então. Caminha em minha presença. E sê perfeita. Maria entra, pois, e a sombra a faz desaparecer, enquanto o grupo das virgens e das mestras, e depois o dos levitas, a escondem cada vez mais, até separá-la. Acabou-se... Agora a porta também gira sobre suas dobradiças harmoniosas... Uma pequena fresta, permite ainda que se veja o cortejo, que se vai encaminhando para o Santo. A fresta torna-se apenas um fio. Já não se vê mais nada. A porta é então fechada. Ao último acorde das dobradiças sonoras, responde o soluço de dois velhinhos e um único grito: - Maria! Minha filha! - depois, dois gemidos, um que chama o outro: - Ana! - Joaquim! - e terminam, dizendo: - Demos glória ao Senhor, que a recebe em sua Casa, e a conduz pelo seu caminho

E tudo termina assim.

Jesus diz: “O Sumo Sacerdote havia dito: “Caminha em minha presença, e sê perfeita”. Ele não sabia que estava falando à mulher que era inferior em perfeição só a Deus. Mas ele falava em nome de Deus e, por isso, sua ordem era sagrada. Sempre sagrada, especialmente quando dada àquela que é cheia de sabedoria. Maria havia merecido que a “Sabedoria fosse ao seu encontro mostrando-se primeiro a ela”, porque, “desde o começo de sua vida, tinha ficado vigiando à sua porta, desejando instruir-se por amor, quis ser pura para conseguir o perfeito amor e merecer ter a sabedoria por mestra”. Em sua humildade, não sabia que a possuía desde antes de nascer, e que sua união com a Sabedoria não era outra coisa, senão a continuação das divinas palpitações do Paraíso. Ela nem podia imaginar isso. E, quando, no silêncio do coração, Deus lhe dizia palavras sublimes, Ela humildemente pensava que fossem pensamentos de orgulho, e, elevando a Deus seu coração inocente, suplicava: “Tem piedade de tua serva, Senhor!”. Oh! É bem verdade que a verdadeira sábia, a virgem eterna, teve um só pensamento, desde a aurora do seu dia: “Dirigir a Deus o seu coração, desde a manhã de sua vida, estando atenta à vontade do Senhor, orando diante do Altíssimo”, pedindo perdão pela fraqueza do seu coração, como sua humildade lhe sugeria, sem saber que estava antecipando os apelos de perdão que haveria de fazer pelos pecadores, aos pés da Cruz, em companhia de seu Filho, quase morto. “Quando, pois, o Senhor o quiser, ela ficará cheia do Espírito de inteligência, compreendendo, então, sua sublime missão. Por enquanto, não é senão uma pequenina que, na sagrada paz do Templo, abraça, tornando mais estreitos com Deus, os laços de seus colóquios, de seus afetos e de suas recordações. Isto é para todos. Mas para ti, pequena Maria, não terá nada em particular para dizer-te o teu. Mestre? “Caminha na minha presença: e portanto sê perfeita”. Modifico ligeiramente a frase sagrada fazendo dela uma ordem para ti: sê perfeita no amor, na generosidade, no sofrer. Olha uma vez mais para minha mãe. E medita sobre aquilo que tantos ignoram ou querem ignorar, porque a dor é uma matéria por demais dura para o seu paladar e o seu espírito. A dor. Maria teve-a desde as primeiras horas da vida. Ser perfeita assim era possuir uma sensibilidade também perfeita. Portanto mais agudo ainda devia ser o seu sacrifício, sendo, então, mais meritório também. 

Quem possui pureza, possui amor, quem possui amor possui sabedoria, quem possui sabedoria, possui generosidade e heroísmo, porque sabe o motivo pelo qual se sacrifica. Eleva para o alto o teu espírito, mesmo quando a cruz te perturba, te estraçalha, te mata. Deus está contigo”.

Fonte: http://jesusfala.org/downloads/Valtorta_O_Evangelho_pt.pdf

21 de Novembro - Memória da Apresentação de Nossa Senhora


Com base numa antiga tradição, preservada por escrito no protoevangelho de Tiago (apócrifo do ano 150 d.C.), a Igreja convida todos os seus filhos a celebrarem hoje a festa da apresentação de Nossa Senhora. Feliz fruto da esterilidade de São Joaquim e Santa Ana, Maria Santíssima foi consagrada ao serviço a Deus no Templo de Jerusalém ainda bastante jovem, por volta dos três anos de idade. Entregue por inteiro ao Senhor, nossa querida Mãe do Céu permaneceu no Templo por mais ou menos dez anos, quando enfim foi desposada por São José e, segundo o relato evangélico, visitada por São Gabriel Arcanjo, de quem recebeu o anúncio da Encarnação do Verbo divino. Mais do que os detalhes históricos dessa apresentação, a importância da festa de hoje para a nossa vida espiritual consiste em venerarmos Maria em sua agraciada infância. Como sabemos por fé, a Virgem imaculada recebeu, no primeiro instante de sua concepção, uma plenitude de graças superior às derramadas por Deus em todas as outras criaturas. Isso significa que aquela pequena menina que contemplamos hoje a subir os degraus do Templo já vivia, num prodígio irrepetível de santidade, um amor tão intenso e consciente a Deus que sequer somos capazes de imaginar. De fato, se tantos santos, como nos atesta a história, deram provas de uma acendrada caridade antes mesmo de chegarem à idade da razão, com que carinho, com com desprendimento, com que fervor não deve nossa Mãe bendita ter amado aquele que, sendo seu Deus e Senhor, ela conceberia mais tarde como seu próprio Filho? Devemos, pois, dar graças ao Altíssimo por ter embelezado com todos os dons celestes essa angelical menina, a primeira criança a vir ao mundo sem a mancha do pecado original, com um coração reto e simples, com uma alma desde o início amiga e amante de Deus. Que saibamos propor a nossos filhos a Santíssima Virgem menina como modelo de amor e obediência, a fim de que eles, cuidadosamente educados na fé, se entreguem desde cedo à obra de sua própria santificação.


Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/memoria-da-apresentacao-de-nossa-senhora-mmxviii

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

2 de Novembro - Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos


Celebramos hoje o dia de finados, no qual se comemoram todos os fiéis já falecidos. E o nosso dever hoje, como bons católicos, é rezar pelas almas dos nossos irmãos que se encontram no Purgatório, onde esperam o dia em que, purificados de suas culpas, poderão associar-se à assembleia dos santos que ontem celebrávamos. Como nos ensina a Igreja, todo homem logo após a morte recebe de Cristo, num juízo particular, a sentença definitiva sobre o seu destino eterno: ou a salvação no céu ou a condenação no inferno. Acontece, porém, que muitos dos que se salvam (ou seja, que são admitidos à glória do céu) não se encontram em estado de perfeita santidade na hora da morte e, por isso, não estão ainda em condições de entrar no gozo do seu Senhor, em cuja casa, como dizem as Escrituras, não entrará nada impuro nem profano (cf. Ap 21, 27). Por causa disso, Deus institui um lugar de purgação onde os fiéis que já estão salvos podem purificar-se, mediante o sofrimento, das culpas e imperfeições que ainda lhes restam. E nós, como membros do Corpo Místico de Cristo, unidos em uma só família pela comunhão dos santos, podemos oferecer a essas almas pobres e ao mesmo tempo benditas uma série de socorros espirituais, tanto para lhes aliviar o sofrimento como para lhes encurtar o tempo de purificação. Se sabemos o quanto padecem as almas do Purgatório, não só pela dor que lá suportam, mas pela sede do Deus a quem tanto querem ver, por que cruzamos os braços e nada fazemos, sendo-nos tão fácil ajudá-las por meio de orações e pequenas obras de caridade e pelas inúmeras indulgências que em proveito delas a Igreja nos concede? Não fiquemos indiferentes e cumpramos esse dever de justiça e caridade para com os fiéis defuntos, e peçamos ao Deus de misericórdia que as nossas humildes preces sejam úteis às almas dos seus servos falecidos, a fim de que se vejam livres o quanto antes de todos os seus pecados e possam repousar no lugar da paz e do eterno descanso.

Oração. — Ó Deus, Criador e Redentor de todos os fiéis, concedei às almas dos vossos servos e servas a remissão de todos os seus pecados, a fim de que, por meio destas piedosas súplicas, alcancem de Vós a misericórdia que sempre desejaram. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém. Pai-Nosso e Ave Maria. — Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno, e que a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém.


Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/comemoracao-de-todos-os-fieis-defuntos-mmxviii

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

1° de Novembro - Solenidade de Todos os Santos


A Solenidade de Todos os Santos é uma data especial na Igreja, pois no dia 1 de novembro oramos por todos os santos e mártires que não foram relembrados ao longo do ano.

É uma data para orar e relembrar os santos mártires que deram a maior prova de amor por Deus, aceitando o martírio de bom grado por não renegar sua fé. Demonstrando com a prova da própria vida o Amor a Deus sobre todas as coisas.

O Dia de Todos os Santos é uma data especial de reflexão, oração e uma festa especial para os exemplos da Igreja, além de ser uma data e reflexão para os fiéis sobre o amor a Deus, sobre a fé.

Durante o Dia de Todos os Santos nossas orações não são apenas por um santo do qual somos devotos, mas sim direcionadas a todos em gratidão da sua luta para preservar a fé cristã e a palavra de Deus viva mesmo diante de terríveis obstáculos e sacrifícios.

Oremos a todos os santos e mártires da Igreja nessa data especial, e vamos comemorar o Dia de Todos os Santos celebrando a memória dos ícones e exemplos de fé.

Todos os santos de Deus, roguem por nós!

Fonte: https://www.nossasagradafamilia.com.br/conteudo/todos-os-santos.html