quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Solenidade do Natal do Senhor


Foi justamente numa lapinha, aberta em algum montículo das redondezas, utilizada pelos pastores de Belém como estábulo natural, que José e Maria precisaram refugiar-se, depois de terem procurado em vão alguma vaga nas estalagens da cidade. É o que escreve o evangelista S. Lucas, dizendo tanto com tão pouco: “Não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7).

Mas que importância tem esse detalhe, hoje tão esquecido, para a celebração do Natal? A importância não está tanto na caverna quanto no que ela exige. Para entrar em uma gruta, como a em que nasceu o Menino Jesus, é preciso baixar a cabeça. As entradas das cavernas, de fato, geralmente são apertadas, baixinhas, exigindo de nós, se nelas quisermos entrar, humildade. Por isso, quem quer ver onde nasceu Cristo precisa humilhar-se, precisa baixar a cabeça, precisa fazer, numa palavra, o que fizeram Cristo, ao se encarnar, e Maria, ao dizer sim à Encarnação.

É este o maior mistério de humildade que jamais houve. Foi com a humildade que ele teve início, e foi com a humildade que ele teve cumprimento. A Encarnação, no início, dependeu da humildade de Maria, a virtude que mais atraiu, dentre as muitas que ela possuía, o olhar de Deus. É ela mesma quem o diz, ao entoar aquele hino magnífico: “Minha alma glorifica ao Senhor, porque olhou para sua pobre serva” — quia respexit humilitatem ancillae suae, “porque olhou para a humildade de sua escrava” (Lc 1, 46.48), diz a tradução Vulgata.

Foi no ventre dessa humildade que se quis humilhar, encarnando-se, a própria Humildade: “E o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14), rebaixando-se a ser como somos nós (cf. Fl 2, 8). Mas se Maria se rebaixou na Encarnação, se o Filho de Deus se rebaixou na Encarnação, por que nós não nos rebaixamos para contemplar o mistério que celebra hoje a Santa Igreja?

Por que, perguntemos ainda uma vez, não encontra Deus uma morada na época de Natal, como tampouco encontrou uma quando se encarnou? É verdade: muitas famílias se reúnem, põem-se à volta da mesa, coroada com um farto peru, estouram champanhe e trocam, sorridentes, várias lembranças. Mas a quantas destas ceias não estará ausente Nosso Senhor? E está ausente, não porque se coma e festeje, que a isso não nos proíbe a justa e sincera alegria do Natal. Ele está ausente porque, em meio a estas exações de fim de ano, falta quem creia, falta quem se humilhe, falta quem ponha de lado a soberba — triste honra do homem moderno — para crer em tudo o que implica a Encarnação de Cristo, nosso Deus.

Pois não há raciocínios, não há deduções, não há nada que nos faça compreender a grandeza que é um Deus feito homem por amor ao homem. E mais: feito Menino. O que sustenta com mão potente as estrelas é hoje, indefeso, sustentado nos braços de Maria. O que dá ser e vida a todas as coisas é hoje, faminto, amamentado por sua Mãe. O que é fonte de alegria e bem-aventurança hoje chora, assestado pelo frio da noite, sufocado pelo cheiro forte de curral.

Como um Menino recém-nascido, o Criador se faz a mais indefesa e inofensiva das criaturas. Por amor a mim, fez-se impotente a Onipotência, fez-se desprezível a Majestade, fez-se temporal o Eterno, fez-se mortal a Vida imortal. E por que os homens não o crêem? Porque se trata de uma verdade tão sublime que, pensam, há de ser invenção, não pode ser possível. E no entanto os fatos o comprovam, a Igreja o ensina com palavra infalível, os santos e mártires o testemunham com vida e com sangue: é verdade, Deus se fez homem, e veio habitar, ainda hoje, no meio de nós, mas desde que tenhamos fé.

Desde que tenhamos fé, sim, porque sem ela, sem a fé que nos abre as portas para o mistério da Encarnação, como havemos de participar da verdadeira alegria de Natal, daquela mesma alegria que tomou conta dos corações de Isabel e João Batista, ao receberem a visita de Maria e Jesus? “Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria”, diz S. Lucas, “a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’” (Lc 1, 41-42). E por que estremeceu ela, senão porque viu, pela fé, quem era aquele que a vinha visitar: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” (Lc 1, 43).

A quem tem fé, o primeiro presente que traz Cristo é justamente a alegria. Foi o que trouxe, como vimos, ao visitar com sua Mãe a família de Zacarias. Foi o que levou também àqueles pastores que, despreocupados no campo, receberam do anjo aquele anúncio tremendo: “Eis que vos anuncio uma Boa-Nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 10-11). Mas isso, repitamos, só a quem baixa a cabeça, só a quem se humilha, só a quem — diferentemente de João no domingo de Páscoa, que só creu depois de ter entrado no sepulcro — primeiro crê para só depois entrar na gruta.

Meus irmãos, Deus hoje se humilhou por nós. Façamos nós o mesmo e nos humilhemos diante dele. Deus hoje se põe, pequenino, nos braços queridos daquela Virgem, em cujo Coração já havia muito que vivia. Saibamos nós nos aproximar dela, para podermos “mimar”, com o pouco de fé e devoção que tivermos, aquela santa criança, cujo nascimento e cuja morte foram duas grandes humilhações, duas grandes provas de amor aos homens, inclusive aos tantos ingratos que, como nós, não lhe dão o devido valor.

E para que a nossa humilhação seja sincera e verdadeiramente sentida, confessemos ao Menino de Jesus que, se a lapinha que o acolheu nesta noite era fria e mal cheirosa, muito pior, muito mais frio e de ares muito mais rançosos é o nosso coração. E no entanto, apesar de termos tão pouco a lhe oferecer, queremos que Ele se digne a fazer hoje em nós a sua morada. — Ó José, ó Maria, vede bem que o lugar que aqui vos tenho preparado é muito apertado e muito mais pobre do que vossa casinha lá em Nazaré; mas, ainda que estejais até mais bem acomodados na lapinha de Belém, aceitai hoje o meu convite e tende a bondade de refugiar-vos nesta noite, com o Menino Deus ao colo, na caverna do meu coração. Senti-vos em casa e, se não vos posso oferecer, nem a vós nem à divina criança que me trazeis, galas ou confortos, recebei ao menos o único que vos posso oferecer, e que tantos habitantes de Belém vos negaram: “Não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 7).

Hoje, meu Jesus, que ao menos hoje haja para vós e os vossos pais um lugar na lapinha do meu coração. Só assim será feliz este santo Natal!

Fonte: Padre Paulo Ricardo

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Nossa Senhora de Guadalupe, a Mulher do Apocalipse


A imagem da Virgem de Guadalupe, impressa milagrosamente no manto de São Juan Diego, chama a atenção pela semelhança com a descrição da Mulher do capítulo doze do livro do Apocalipse. A sua identidade é tradicionalmente atribuída à Virgem Maria. Nas suas aparições no México, Nossa Senhora confirma que Ela é a mulher vestida de sol com a lua debaixo de seus pés! As estrelas não estão distribuídas em forma de coroa, mas no seu manto. E Ela está grávida, como na descrição da Mulher do Apocalipse, de seu Filho Varão que há de reger as nações com cetro de ferro, Jesus Cristo!


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Nossa Senhora de Guadalupe, uma grande aliada dos exorcistas


Após sua invocação durante um exorcismo, o demônio respondeu violentamente

"Nossa Senhora de Guadalupe causa muito dano ao demônio", foi o que afirmou o Padre Sante Babolin, sacerdote exorcista da Diocese de Pádua (Itália), que participou na semana passada de um seminário para sacerdotes exorcistas realizado pela Pontifícia Universidade do México na capital do país latino-americano. O Padre Babolin, que foi entrevistado pelo Semanário Católico ‘Desde la Fé’, contou como Nossa Senhora de Guadalupe "é uma arma contra o demônio".

Tal como narra o semanário mexicano, o sacerdote atendia em sua Diocese o caso de um jovem com uma possessão demoníaca. Ao iniciar o ritual do exorcismo o Padre Babolin sentiu a necessidade de invocar Nossa Senhora de Guadalupe, por quem tem grande devoção: "Nossa Senhora de Guadalupe, Rainha de Tepeyac, libertai-o", disse então o exorcista. Diante disso o demônio lhe respondeu de maneira violenta: "Antes dEla, tudo isto era meu lá", referindo-se ao México. Nesse momento, pensando em Tonanzin, deusa terra da antiga mitologia mexicana, o exorcista fez outra invocação: "Nossa Senhora de Guadalupe, tu que destruístes o império de Tonanzin (…)", ao que de imediato respondeu fortemente o demônio: "Coatlicue", que significa na tal mitologia, serpente.

Ao terminar o rito, o Padre Babolin lhe perguntou ao jovem se conhecia o México e sua história pedindo-lhe que pronunciasse a palavra ‘Coatlicue’, mas foi evidente que não sabia nada de culturas pré-hispânicas e menos do México.

O sacerdote exorcista narrou este episódio para deixar em evidência que invocar a Mãe de Deus durante um exorcismo molesta muito ao demônio, em especial algumas invocações marianas, como Nossa Senhora de Guadalupe. De acordo com o Padre Babolin, a Virgem causa grande dano ao maligno porque ela expressa ternura maternal construindo tudo com amor e não com temor; além disso, "sua imagem de Mãe exalta a família, unida pelo espírito maternal, que oferece amor aos pais e aos filhos; e este mesmo espírito maternal -referindo-se especificamente na Guadalupana- trabalha a fim de que todo o povo mexicanos atue em uma fraternidade humana. Tudo isso molesta ao demônio".

"Por este motivo -continuou o sacerdote-, desde o princípio de meu ministério do exorcismo, invoquei a Nossa Senhora de Guadalupe, às vezes chamando-a Santa Maria, Mãe de Deus, Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe da Misericórdia".

O triunfo da Mãe do Filho de Deus sobre satanás

O Papa João Paulo II, ao referir-se a Imaculada Conceição, faz precisamente referência ao triunfo da Virgem Maria, Mãe do Filho de Deus, sobre satanás: "O Filho de Maria obteve a vitória definitiva sobre Satanás e fez beneficiária antecipadamente a sua Mãe, preservando-a do pecado. Como consequência, o Filho lhe concedeu o poder de resistir ao demônio, realizando assim no mistério da Imaculada Conceição o mais notável efeito de sua obra redentora (…) O apelativo cheia de graça e o Proto-Evangelho, ao atrair nossa atenção até a santidade especial de Maria e até o fato de que foi completamente liberada do influxo de Satanás, nos fazem intuir no privilégio único concedido a Maria pelo Senhor o início de uma nova ordem, que é fruto da amizade com Deus e que implica, em consequência, uma inimizade profunda entre a serpente e os homens".

Fonte: Gaudium Press

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dados intrigantes sobre a imagem da Virgem de Guadalupe


Todo ano, no dia 12 de dezembro, a Igreja Católica celebra a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe. Nesse dia em 1531, a Virgem Maria apareceu a um indígena de 57 anos chamado Juan Diego. A história da “tilma” em que a imagem da Virgem apareceu é conhecida, o que ainda é desconhecido para a ciência é como ela foi feita.

Em um de seus encontros, a Virgem Maria pediu a Juan Diego que recolhesse na “tilma” dele –um tecido muito singelo – rosas de Castilla que tinham florescido, apesar do inverno, para que as apresentasse ao Arcebispo do México, Dom Juan de Zumárraga, como prova das aparições.

Quando Juan Diego desdobrou a “tilma” com as rosas diante do Prelado, sobre ela estava impressa a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Nos sete anos seguintes, mais de 9 milhões de astecas se converteram ao cristianismo. Juan Diego foi proclamado santo por São João Paulo II em 2002, na sua última visita ao México.

A seguir, quatro fatos realmente impressionantes sobre a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe que ainda intrigam a ciência:

1. Ela possui qualidades que são impossíveis de replicar humanamente

Feita principalmente de fibras de cacto, a “tilma” era tipicamente de muito baixa qualidade e tinha uma superfície áspera, tornando-a muito difícil de usar, ainda mais para pintar sobre ela uma imagem que perdurasse. Entretanto, a imagem ainda se conserva intacta e os cientistas que a estudaram insistem que não se utilizou nenhuma técnica para adequar a superfície.

A superfície onde a imagem está “estampada”, no entanto, é muito suave, assemelhando-se à seda. A parte onde a imagem não está segue sendo áspera e tosca.

Mais ainda. Os peritos em fotografia infravermelha que estudaram a “tilma” no final da década de 1970 determinaram que não havia traços de pincel, dando como resultado uma imagem que foi plasmada toda ao mesmo tempo.

Isto, junto com uma qualidade iridescente de mudar ligeiramente de cores dependendo do ângulo que uma pessoa a veja e o fato de que a coloração da imagem não demonstra elementos animais ou minerais (os corantes sintéticos não existiam em 1531), o que gera ainda mais perguntas aparentemente impossíveis de responder. Isso é impressionante.

2. A ciência demonstrou que não se trata de uma pintura

Uma das primeiras coisas que dizem os céticos sobre a imagem é que de alguma forma houve uma fraude e que a imagem foi pintada com uma técnica conhecida naquela época, mas desconhecida hoje em dia. O fato é que há séculos ninguém conseguiu replicar uma imagem com as propriedades deste manto, começando pelo fato de que perdure tanto tempo, quase 500 anos, sem descolorir.

Miguel Cabrera, artista do século XVIII que produziu três das melhores cópias já conhecidas (uma para o arcebispo, uma para o Papa e uma para ele para futuras réplicas), escreveu certa vez sobre a enorme dificuldade de recriar a imagem mesmo sobre as melhores superfícies. Outro fato que impressiona.

3. O manto mostrou características surpreendentemente parecidas com as de um corpo humano

Em 1979, quando o Dr. Phillip Callahan, um biofísico da Universidade da Flórida (Estados Unidos), estava analisando a “tilma” usando tecnologia infravermelha, descobriu que a malha mantém uma temperatura constante de entre 36,6 e 37 graus Celsius, a temperatura normal de uma pessoa viva.

Quando o Dr. Carlos Fernández de Castillo, médico mexicano, examinou o tecido, encontrou uma flor de quatro pétalas sobre o ventre da Maria. Os astecas chamavam a flor de “Nahui Ollin” e era o símbolo do sol e da plenitude.

Depois de mais exames, o Dr. Fernández de Castillo concluiu que as dimensões do corpo de Nossa Senhora na imagem eram os de uma mãe por dar à luz em pouquíssimo tempo. E como se sabe, 12 de dezembro, dia da aparição está muito perto do Natal.

Finalmente, uma das atribuições mais comuns e descobertas reportadas estão dentro dos olhos da Virgem na imagem.

O Dr. José Alte Tonsmann, um oftalmologista peruano, estudou os olhos da imagem da Virgem com uma magnificação de 2.500 vezes e foi capaz de identificar até 13 indivíduos em ambos os olhos em diferentes proporções, exatamente como um olho humano refletiria uma imagem.

Parecia ser uma captura do momento exato em que Juan Diego desdobrou a “tilma” perante o Arcebispo Zumárraga. Isso é surpreendente.

4. Parece ser virtualmente indestrutível

Dois eventos ameaçaram o manto através dos séculos. Um deles ocorreu em 1785 e o outro em 1921.

Em 1785, um trabalhador estava limpando a proteção de vidro quando acidentalmente derramou solvente de ácido nítrico sobre uma grande parte da imagem. A imagem e o resto do manto deveria ser quase instantaneamente corroído pelo ácido, mas não foi assim. A imagem “autorrestaurou-se” após 30 dias e permanece intacta até hoje, com apenas pequenas manchas e em lugares onde a imagem não está plasmada.

Em 1921, um ativista anticlerical escondeu 29 cargas de dinamite em um vaso de rosas e o pôs diante da imagem dentro da Basílica de Guadalupe.

Quando a bomba explodiu, quase tudo, desde o piso até o genuflexório de mármore voou pelos ares. A destruição alcançou inclusive as janelas a 150 metros de distância e os candelabros de metal que estavam ao lado da Virgem ficaram retorcidos pela força do impacto.

Entretanto a imagem e o vidro ao seu redor, que não era a prova de bala, permaneceram totalmente intactos. Um pesado crucifixo de bronze, que terminou completamente dobrado para trás, evidencia a força das dinamites que deveriam ter estilhaçado o vidro e repartido o manto por completo.

Outros detalhes do manto ainda chamam a atenção de cientistas e fiéis como os seguintes:

O cabelo solto da Virgem, símbolo asteca para a virgindade.

As mãos, uma mais morena e a outra mais branca, mostram a união de duas raças.

As 46 estrelas do manto mostram exatamente as constelações vistas no céu daquela noite em 1531.

Os raios, que simbolizavam para os astecas o brilho do sol, a maior divindade desta cultura, os quais se intensificam no ventre da imagem, onde Maria carrega o menino.

A lua sob seus pés, que além de evocar a imagem do Apocalipse da Mulher vestida de sol com a lua sob seus pés, evoca o próprio nome do México, que em língua asteca significa “centro da lua”.

Finalmente, o anjo representado com asas de pássaros típicos daquela região do México simboliza a junção A lua sob seus pés, que além de evocar a imagem do Apocalipse da Mulher vestida de sol com a lua sob seus pés, evoca o próprio nome do México, que em língua asteca significa “centro da lua”.

Finalmente, o anjo representado com asas de pássaros típicos daquela região do México simboliza a junção entre a terra e o céu.

Fonte: Acidigital

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

As aparições de Nossa Senhora de Guadalupe



Num sábado de mil e quinhentos e trinta e um, perto do mês de dezembro, um índio de nome Juan Diego, mal raiava a madrugada, ia do seu povoado a Tlatelolco, para participar do culto divino e escutar os mandamentos de Deus. Já amanhecia, quando chegou ao cerrito chamado Tepeyac e escutou que do alto o chamavam:

– Juanito! Juan Dieguito!

Subiu até o cimo e viu uma senhora de sobre-humana grandeza, cujo vestido brilhava como o sol, e que, com voz muito branda e suave, lhe disse:

– Juanito, menor dos meus filhos, fica sabendo que sou Maria sempre Virgem, Mãe do verdadeiro Deus, por quem vivemos. Desejo muito que se erga aqui um templo para mim, onde mostrarei e prodigalizarei todo o meu amor, compaixão, auxílio e proteção a todos os moradores desta terra e também a outros devotos que me invoquem confiantes. Vai ao Bispo do México e manifesta-lhe o que tanto desejo. Vai e põe nisto todo o teu empenho.

Chegando Juan Diego à presença do Bispo Dom Frei Juan de Zumárraga, frade de São Francisco, este pareceu não lhe dar crédito e respondeu:

– Vem outro dia, e te ouvirei com mais calma.

Juan Diego voltou ao cimo do cerro, onde a Senhora do céu o esperava, e lhe disse:

– Senhora, menorzinha de minhas filhas, minha menina, expus tua mensagem ao Bispo, mas parece que não acreditou. Assim, rogo-te que encarregues alguém mais importante de levar tua mensagem com mais crédito, porque não passo de um joão-ninguém.

Ela respondeu-lhe:

– Menor dos meus filhos, rogo-te encarecidamente que tornes a procurar o Bispo amanhã dizendo-lhe que eu própria, Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, é que te envio.

Porém no dia seguinte, domingo, o Bispo de novo não lhe deu crédito e disse ser indispensável algum sinal para poder-se acreditar que era Nossa Senhora mesma que o enviara. E o despediu sem mais aquela.

Segunda-feira, Juan Diego não voltou. Seu tio Juan Bernardino adoecera gravemente e à noite pediu-lhe que fosse a Tlatelolco de madrugada, para chamar um sacerdote que o ouvisse em confissão.

Juan Diego saiu na terça-feira, contornando o cerro e passando pelo outro lado, em direção ao Oriente, para chegar logo à Cidade do México, a fim de que Nossa Senhora não o detivesse. Porém ela veio a seu encontro e lhe disse:

– Ouve e entende bem uma coisa, tu que és o menorzinho dos meus filhos: o que agora te assusta e aflige não é nada. Não se perturbe o teu coração nem te inquiete coisa alguma. Não estou aqui, eu, tua mãe? Não estás sob a minha sombra? Não estás porventura sob a minha proteção? Não te aflija a doença do teu tio. Fica sabendo que ele já sarou. Sobe agora, meu filho, ao cimo do cerro, onde acharás um punhado de flores que deves colher e trazer-mo.

Quando Juan Diego chegou ao cimo, ficou assombrado com a quantidade de belas rosas de Castela que ali haviam brotado em pleno inverno; envolvendo-as em sua manta, levou-as para Nossa Senhora. Ela lhe disse:

– Meu filho, eis a prova, o sinal que apresentarás ao Bispo, para que nele veja a minha vontade. Tu és o meu embaixador, digno de toda a confiança.

Juan Diego pôs-se a caminho, agora contente e confiante em sair-se bem de sua missão. Ao chegar à presença do Bispo, lhe disse:

– Senhor, fiz o que me ordenaste. Nossa Senhora consentiu em atender o teu pedido. Despachou-me ao cimo do cerro, para colher ali várias rosas de Castela, trazê-las a ti, entregando-as pessoalmente. Assim o faço, para que reconheças o sinal que pediste e assim cumpras a sua vontade. Ei-las aqui: recebe-as.

Desdobrou em seguida a sua branca manta. À medida em que as várias rosas de Castela espalhavam-se pelo chão desenhava-se no pano e aparecia de repente a preciosa imagem de Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, como até hoje se conserva no seu templo de Tepeyac.

A cidade inteira, em tumulto, vinha ver e admirar a sua santa imagem e dirigir-lhe suas preces. Obedecendo à ordem que a própria Nossa Senhora dera ao tio Juan Bernardino, quando devolveu-lhe a saúde, ficou sendo chamada como ela queria: “Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe”.

Do “Nicán Mopohua”, relato do escritor indígena do século dezesseis Dom Antônio Valeriano (“Nicán Mopohua”, 12ª edición, Buena Prensa, México, D.F., 1971, p. 3-19.21/Séc. XVI)

Fonte: Cleófas

Festa de Nossa Senhora de Guadalupe


Com grande alegria celebramos hoje a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina. As circunstâncias que rodeiam a aparição da Virgem Santíssima no México, há cerca de 5 séculos, são um exemplo verdadeiramente divino de como deve a Igreja inculturar o Evangelho a cada povo ou, melhor dizendo, inculturar cada povo ao Evangelho. Com efeito, no tempo em que apareceu Nossa Senhora de Guadalupe, o México vivia sob a opressão de uma religião pagã. O império asteca alimentava-se de sangue, e sangue indígena, pelo sacrifício constante de dezenas de prisioneiros aos seus falsos deuses, com base na crença, de origem claramente satânica, de que apenas a oblação de carne humana garantiria o nascimento diário do sol. E Maria, quando quis aparecer no México, adotou feições indígenas, trajada com a veste típica da imperatriz asteca, portando em seu ventre um menino. Como mãe do futuro imperador, sob os pés dela jaziam, derrotados, o sol e a lua — cultuados como deuses pelos astecas —, a fim de mostrar que o Filho que ela traz dentro de si vem para libertar aquele povo da sua religião falsa e assassina. Nós, centenas de anos depois, vivemos ainda a mesma situação: não temos, é verdade, uma religião pagã que exija sacrifícios humanos, mas temos hoje a nossa própria cultura da morte. E embora não tenhamos altares, quantos homens não são consumidos diariamente nesta máquina de moer carne que é o aborto, expressão máxima da idolatria da própria “liberdade”, da própria “autonomia”? Mas Maria nos apareceu grávida, para dizer-nos que esta vida vale, sim, a pena, porque é nela que temos a chance de receber o batismo, porta de entrada para a outra vida, conquistada por Cristo na cruz. Como os milhões de índios que se converteram à religião da vida e da salvação, graças às aparições da Virgem de Guadalupe, também nós tenhamos a coragem de abandonar os nossos falsos deuses, de dizer um basta à cultura da morte em cujas “clínicas”, templos daquele que é homicida desde o princípio, incontáveis vidas são ceifadas, e refugiemo-nos debaixo do manto de Nossa Senhora. Por meio dela, temos acesso fácil e seguro ao nosso Rei e Senhor, que deseja reinar sobre nós com cetro de ferro, de verdade e justiça, mas com a delicadeza de um Salvador compassivo.

Fonte: Padre Paulo Ricardo

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A Imaculada Conceição e as aparições marianas


Em 1830, a Virgem Santíssima apareceu em Paris, berço da Revolução Francesa, e ensinou Santa Catarina Labouré a rezar através da jaculatória: “Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”. Além disso, Nossa Senhora confiou-lhe a Medalha Milagrosa, a fim de que as pessoas aprendessem a recorrer a ela como Imaculada.

Um quarto de século depois, em 1854, Deus permite que o bem-aventurado Papa Pio IX proclame o dogma da Imaculada Conceição. Poucos anos depois, em 1858, Nossa Senhora aparece em Lourdes dizendo “Eu sou a Imaculada Conceição”, e nos pede para rezar o Santo Rosário e considerá-la como nosso refúgio. E no século seguinte, em 1917, ela aparece em Fátima, revelando o seu Imaculado Coração; enfatiza que rezemos o Rosário e façamos penitência pela conversão dos pecadores; e apresenta uma série de tribulações pelas quais a humanidade passará, mas adverte que, ao final de tudo, o seu Imaculado Coração irá triunfar.

Fonte: Padre Paulo Ricardo

domingo, 8 de dezembro de 2019

Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria


Hoje, a Igreja celebra a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Para meditarmos de forma frutuosa sobre esse mistério da nossa fé, é preciso deixar claro que estamos celebrando o dogma — proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, através da Bula Ineffabilis Deus — de que Maria foi concebida sem a mácula do pecado original.

Dizer que a Virgem Maria é Imaculada, ou seja, que foi preservada do pecado original, consiste na forma negativa de expressar a realidade positiva de que Ela é cheia de graça, nela habitam em plenitude o amor e a graça de Deus. Assim, a ausência de pecado e a plenitude de graça, na Virgem Santíssima, são realidades complementares.

Para nos aprofundar neste mistério, podemos observar que a Virgem Santíssima teve três momentos fundamentais no seu caminho de plenitude de graça: i) sua imaculada concepção no ventre de Sant’Ana; ii) a concepção virginal de Jesus em seu ventre, pela ação do Espírito Santo; iii) sua Assunção e entrada na glória celeste. Nossa Senhora recebeu a graça plena nesses três estágios, que, na verdade, estão relacionados com três dogmas marianos — a Imaculada Conceição, a Virgindade perpétua, e a Assunção ao Céu.

Hoje celebramos o primeiro desses estágios, por isso vamos nos ater a ele. Quando o Arcanjo Gabriel saudou Maria dizendo “Ave, cheia de graça”, ele estava reconhecendo que, mesmo antes de conceber o menino Jesus, Maria já possuía a plenitude de graça (κεχαριτωμένη), uma vez que, desde o primeiro instante de sua concepção, já havia sido preservada da culpa original, tendo em vista os méritos de Jesus.

Na união conjugal entre os seus pais, ao ser concebida, Maria recebeu de Deus uma “quantidade” de graças muito maior e superior que as graças concedidas a todas as criaturas juntas. Nesse sentido, a plenitude de graça na Virgem Santíssima pode ser comparada com a luz refletida pela lua cheia, que é imensamente maior que a luminosidade de todas as estrelas juntas. O amor que Deus derramou sobre Maria é algo abundante e inefável. A língua humana não é capaz de explicar esse mistério, por isso precisamos do auxílio dos anjos, dos santos, e do próprio Espírito Santo, a fim de que consigamos celebrar este mistério de plenitude de graça.

A Virgem Maria é um prodígio espiritual superior a todos os anjos e santos juntos. E essa plenitude de graça, Deus concedeu a ela por nós e para a nossa salvação. Devemos compreender que Ele a privilegiou para nos beneficiar. Mas só é possível entender isso se abandonarmos nosso olhar invejoso. Lúcifer, na sua soberba e inveja, não foi capaz de aceitar que, quando Deus privilegia e dispõe mais graça a alguém, Ele o faz em nosso favor.

Deus Pai concedeu a Jesus uma mãe tão cheia de graça que Ele foi acolhido neste mundo com o maior amor que alguém poderia receber. O Filho amado de Deus foi acolhido por um coração imaculado, pleno de graça e amor. Nesse sentido, Maria é o grande presente que Deus Pai preparou ao Filho, desde toda a eternidade. E esse magnífico presente nos é dado por Cristo, aos pés da cruz: “Eis aí tua mãe” (Jo 19, 27). É impressionante saber que nós, totalmente marcados pelas sequelas do pecado, possuímos a Imaculada como nossa mãe.

Celebrar a Imaculada Conceição é crer no imenso amor que Deus derramou sobre a Virgem Maria, desde o primeiro instante em que ela foi concebida, e confiar que ela é aquela que irá nos guiar na grande tribulação, a fim de participarmos da vitória de Deus sobre a maldade.

Creiamos, pois, que, sob o refúgio da Imaculada, nós estamos plenamente protegidos. De Maria nunquam satis, dela nunca se conseguirá dizer o suficiente, jamais chegaremos a expressar a magnitude desse mistério de amor. No entanto, sabemos que esse amor nos foi dado, aos pés da cruz; só precisamos nos entregar a ela a ponto de dizer: “Maria é minha, e eu sou de Maria”.

Em seus braços somos conduzidos, ao longo da grande batalha, na qual a mulher humilde e obediente, que foi preservada do pecado original, esmagará a cabeça da serpente soberba e rebelde, que pecou e levou a humanidade a pecar. Que a Virgem Santíssima manifeste a sua vitória o quanto antes, para que, ao final de tudo, triunfe o seu Imaculado Coração.

Fonte: Padre Paulo Ricardo