sexta-feira, 25 de março de 2022

Solenidade da Anunciação do Senhor

É uma grande alegria para nós celebrar hoje a solenidade da Anunciação do Senhor. Estamos a nove meses do Natal, celebramos o nascimento de Jesus em 25 de dezembro, nove meses do dia bendito em que Deus, lá do céu, enviou o Arcanjo Gabriel para anunciar a Nossa Senhora a boa-nova. Que alegria, que felicidade essa notícia: Deus veio!

Esse momento havia sido anunciado pelos profetas, esse momento tinha sido esperado pelos Patriarcas. O próprio Jesus depois dirá no evangelho de São João que “Abraão viu o meu dia e se alegrou”, ou seja, o Filho de Deus, que existe desde todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, veio e quis nos amar, quis derramar a sua caridade divina, o seu amor infinito nos amando com uma alma humana, com um Coração humano.

Deus criou para si corpo e alma, uma natureza humana, esse é o mistério que nós celebramos hoje: o mistério da Encarnação. Deus veio, nós não estamos mais sozinhos, como diz a primeira leitura, do profeta Isaías: “Emanuel, Deus conosco”. Deus está conosco, é uma forma diferente de Deus estar presente.

Claro, Deus está presente em todos os lugares; claro, Deus estava presente no coração dos justos antes de Jesus vir ao mundo, mas agora Deus está presente na nossa humanidade de uma forma diferente, e a humanidade de Cristo agora é o instrumento da nossa salvação. É nele que nós somos salvos.

Que beleza esse mistério! Poder compreender como nós somos católicos nós nos prostramos, nos ajoelhamos para adorar um corpo humano, uma alma humana, uma natureza humana viva que está lá no sacrário, que não é somente um homem como nós, é Deus. Repito: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro.

Que grande mistério, que maravilha! E o primeiro sacrário, poderia dizer até quase que o único sacrário verdadeiro, Nossa Senhora, que acolhe com o Coração agraciado ao Deus que vem. Que beleza esse mistério! Poderíamos passar o tempo todo falando sobre isso, delongar bastante, mas aqui é mesmo a oração que vai nos levar diante desses segredos do coração de Deus para entendermos a grandeza do que nós estamos celebrando.

Os anjos celebram conosco, o céu celebra conosco. Na verdade, eles que celebram de fato; nós celebramos como seus coadjuvantes, tentando entrar nos coros dos anjos e dos santos, para dizer: “Deus conosco, bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”

Mas existe uma outra forma de celebrarmos bem mais dignamente essa solenidade da Anunciação do Senhor: fazermos a vontade de Deus. Na segunda leitura, o autor da “Carta aos Hebreus” nos recorda que, quando o Filho de Deus se encarnou, Ele veio e disse: “Eis que eu venho”, “Eis-me aqui”, como Nossa Senhora disse para São Gabriel: “Eis aqui a serva do Senhor”. O Filho encarnado no ventre de Maria também está dizendo: “Eis-me aqui, eis que venho. Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. Desde o primeiro momento da existência daquela natureza humana, Jesus, no ventre de Nossa Senhora, no primeiro instante da sua existência, Ele já está dizendo: “Eu vim fazer vossa vontade”. Um Coração humano tão unido a Deus, que o seu alimento é fazer a vontade daquele que o enviou! Para nós celebrarmos dignamente essa solenidade, é isso que precisamos fazer: conformar nossa vontade à de Deus.

Na verdade, essa é a nossa missão; na verdade, também nós podemos dizer com Jesus: “Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. Nós viemos nesse mundo para isso. Nós estamos num mundo onde as pessoas acham que a realização está em fazer a própria vontade. Mas para isso ser algo bom, supõe-se que a pessoa seja sábia e conheça o que é bom para si mesma. O que, obviamente, não é uma realidade.

Nós não sabemos o que é bom para nós, mas existe alguém que sabe: a Sabedoria encarnada! Jesus veio para nos dizer a vontade de Deus a nosso respeito. Ele é sábio e conhece o que é bom para nós; Ele é bom e quer o nosso bem. Ele veio nos trazer a graça de renunciar a nossa vontade própria, os nossos caprichos e as nossas veleidades, para dizer: “Eu vou fazer o que o Senhor mandar”.

Celebrar a Anunciação do Senhor é seguir o exemplo de Deus que se fez carne e diz: “Eis que eu venho fazer a vossa vontade”. É seguir o exemplo de Nossa Senhora e dizer: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim conforme a tua palavra”. É o que diz Nossa Senhora também, e é o que devemos fazer todos nós. Faça um exame de consciência. Como você está vivendo a sua vida? Não queira realizar as próprias vontades. Deus faz um grande favor a você contrariando sua vontade e não dando a oportunidade de realizá-la. Tenha horror de fazer o que você quer, queira o que Ele quer. Na verdade, Deus já revelou o que Ele quer; por exemplo, siga os Mandamentos.

Muitos acham que a sua “autorrealização” está em desobedecer aos Mandamentos: na fornicação, no adultério, na idolatria, na bebedeira, nas festas, nas drogas, no sexo desregrado. Então, renuncie a isso e obedeça aos Mandamentos porque Ele é bom, Ele é sábio e conhece o que é bom para você.

Uma vez que você obedece aos Mandamentos, o seu coração vai se configurando aos poucos ao coração de Deus, e vai ficando mais claro o que Deus quer de você em outras áreas. Estamos na Quaresma, precisamos renunciar às coisas, fazer pequenos sacrifícios para dobrar a sua vontade caprichosa e altiva, semelhante a de uma criança mimada. É preciso dizer: “Eis que eu venho para fazer a vontade de Deus porque esse é o meu bem”.

Esse é o nosso bem! Ele sabe o que é o nosso bem; na verdade, Ele é o nosso bem. Então, renunciando a si e fazendo a vontade de Deus, eis aí a forma de celebrarmos digna e verdadeiramente o mistério da santa Anunciação do Senhor. O Verbo se fez carne e habitou entre nós!

Fonte: Padre Paulo Ricardo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário