domingo, 24 de novembro de 2019

Solenidade de Cristo Rei do Universo


Neste domingo, celebramos a Solenidade de Cristo Rei do Universo, que foi instituída pelo Papa Pio XI, a fim de glorificarmos o reinado espiritual de Cristo em reparação às perseguições cometidas por diversos governos anticristãos no início do século XX; mas também para refletirmos que a paz, a justiça e a ordem, na sociedade civil, só serão alcançadas quando Cristo reinar nos corações dos governantes.

Nessa reflexão sobre o reinado de Cristo, é necessário destacar, de imediato, que a Igreja sempre foi, e sempre será, contra o Estado laicista. Para compreender as razões disso, não é preciso citarmos o Catecismo da Igreja ou alguma encíclica papal, basta olharmos para os dias atuais. Por exemplo, se você recomendar a alguém que busque a confissão, certamente a pessoa se esquivará com a seguinte falácia: “Não preciso me confessar! Eu não tenho pecado! Eu não matei, não roubei...”. Por trás desse sofisma — que está impregnado na sociedade contemporânea — encontra-se o pressuposto de que pecado é sinônimo de crime, e por consequência, assimila-se a ideia de que pecado é somente aquilo que o Código Penal reconhece como ação criminosa. Todo aquele que pensa dessa forma, na prática, escolheu o Estado como a “autoridade espiritual” que “revela” em que consistem o bem e o mal, ou o que é pecado e o que não é. Parece inacreditável, mas justamente o Estado, com seus governantes — cujo currículo é marcado pelo materialismo e pelo relativismo moral —, exerce o poder espiritual sobre a vida das pessoas, condicionando sua visão da realidade.

Assim, lenta e gradualmente, as pessoas vão assimilando as convenções estatais. A fonte da moral passa a ser a lei aprovada e interpretada pelo Estado. Está, aí, uma das grandes ofensas contemporâneas a Cristo Rei: quando as pessoas escolhem acreditar nos ditames arbitrários do Estado e ignorar as leis gestadas no coração amoroso de Nosso Senhor Jesus Cristo. No nosso país, por exemplo, percebemos a banalização do divórcio, a partir de aprovação legislativa ocorrida em 1977, e a relativização do conceito de família por meio do ativismo judiciário exercido, cada vez mais, pelo Supremo Tribunal Federal.

Nós, católicos, não podemos aceitar esse tipo de ingerência, pois, de acordo com a ordem natural das coisas, deve haver um poder espiritual que esteja acima do Estado e que exerça influência sobre seus governantes. Essa autoridade espiritual é de Nosso Senhor Jesus Cristo; se não o for, sempre haverá um poder substituto, que é exercido pelo Anticristo, Satanás.

O princípio ideológico do “Estado laico” tem sido usado como pretexto para a implantação de um “Estado laicista”, no sentido de um governo que se autoproclama “neutro” (como se isso fosse possível), mas que, na prática, é anticristão e antirreligioso, quando não, explicitamente ateísta. No entanto, a própria ideia de “Estado laico” é irrealizável, pois é impossível a constituição de um Estado sem que haja um poder espiritual acima dele.

Nesse sentido, se um governante, ao fazer política, não obedece ao Reinado de Cristo — a fim de ter uma suposta “neutralidade” —, na verdade, estará tendo uma atitude anticristã, pois, ao ignorar os ensinamentos de Jesus, estará servindo ao Anticristo. Sempre haverá uma autoridade espiritual à qual se está servindo. Todo administrador, legislador ou juiz inevitavelmente está sujeito a esse poder espiritual real e concreto: ou está servindo a Nosso Senhor ou ao Maligno, não há outra alternativa.

Para ficar mais claro, podemos pensar na educação dos nossos filhos. Suponhamos que tomemos a insensata decisão de ter uma família “laica”, não educando nossos filhos na fé católica nem lhes ensinando os valores cristãos. Com o passar do tempo, perceberemos que nossos filhos estão seguindo ideias marxistas, defendendo a ideologia de gênero, pensando a partir de uma visão liberal sem limites morais, ou até mesmo vivendo a sexualidade de forma depravada e promíscua. Em outras palavras, se os pais não educarem seus filhos, alguém certamente os “educará” ou, para ser mais preciso, deformará.

Quando falamos em poder espiritual estamos nos referindo, de forma prática, a um poder educador. Então, as perguntas que devem ecoar em nossos corações e inquietar-nos são: Quem educará os nossos filhos? Quem educará a nossa nação? Os ateus relativistas, materialistas e anticristãos, ou nós que cremos no Reinado de Cristo?

As pessoas não param para refletir que muitos problemas da sociedade poderiam ser sanados se estivéssemos sob a autoridade espiritual de Cristo. Só é possível manter a ordem pública, por exemplo, se estivermos alicerçados sobre um sistema espiritual de valores sólidos. No entanto, como o nosso país assimilou a falácia ideológica de que o Estado é laico — quando, na prática, é laicista —, a Igreja Católica fica “amordaçada”, impedida de proclamar a Verdade e de exercer sua missão de educar. Isso porque o Estado quer instaurar o seu projeto educacional, que é satânico e anticristão, no qual triunfa a destruição da família natural, dos valores cristãos e da civilização ocidental. Até quando deixaremos Satanás reinar no lugar de Cristo?

Celebrar a Cristo Rei é, pois, recordar o fato de que, em qualquer nação do mundo, existe um poder espiritual que está acima do Estado. Esse poder, ou será exercido por Cristo ou o será pelo Maligno. E se alguém levianamente defender que não existe nenhum poder espiritual sobre o Estado, podemos ter a certeza de que este serve ao poder espiritual do mal, uma vez que, ao negar o poderio de Cristo, ele está erigindo o poder anticristão.

Que o Cristo, Rei do Universo, reine também sobre o nosso país. Mas, para isso, Ele precisa primeiro reinar em nossos corações e em nossas famílias. Portanto, não tenhamos medo de educar nossos filhos e de exercer o poder espiritual sobre eles, não os deixemos a mercê de um Estado que disfarça ser laico, mas que, na verdade, é anticristão.

Oração. — Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, que coroado de espinhos reinastes a partir do trono da cruz, vinde reinar sobre nós, nossas famílias e nossa nação, a fim de que sirvamos somente a Vós. Assim seja!

Fonte: Padre Paulo Ricardo

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