quinta-feira, 9 de abril de 2020

Quinta-feira Santa


A liturgia da Igreja, nos três dias anteriores, mostrou diferentes atos de amor, com os exemplos de Maria de Betânia, de São Pedro, São João Evangelista e de traições, como do mesmo São Pedro e Judas Iscariotes. Hoje, a Santa Igreja, através de sua liturgia, nos convida a refletirmos sobre os atos infinitos de Amor de Jesus, que lava os pés dos apóstolos e institui o sacerdócio e a Eucaristia.

INSTITUIÇÃO DA SAGRADA EUCARISTIA [1]. — Ponto 1. — “Tomai e comei: isto é o meu corpo” (Mt 16, 26). Crê primeiro, com fé viva, que a carne, o sangue, a alma, a divindade de Cristo e tudo quanto é Deus estão presentes na SS. Eucaristia, quer por força das palavras da consagração, quer por concomitância. Admira a sabedoria divina, que encontrou um modo novo de se nos comunicar. Bendiz cheio de espanto à onipotência, que num átimo, com poucas palavras, põe sob as espécies do pão e do vinho tamanhas maravilhas. Reconhece o amor infinito com que o Senhor realiza este mistério. Com efeito, “de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16): assim também o Filho se entregou a si mesmo, a fim de permanecer conosco até a consumação dos séculos. Oh! Deus admirável! oh! Deus de amor! Se já é muito que Ele, pensando em ti, haja decidido encarnar-se, quão grande não será que Ele, querendo estar em ti, torne a este mundo trazendo novamente consigo, para enriquecer tua alma, todas as riquezas que levara ao subir de volta para o Pai? Que lhe darás em recompensa, em sinal de gratidão?

Ponto 2. — “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão” (1Cor 11, 23). Considera o momento em que Ele instituiu a sagrada Eucaristia. Foi na mesma hora em que se lhe armavam laços de morte, em que ardiam de ódio os judeus e chefes do povo, em que Judas, sentado à mesma mesa, já determinara entregá-lo aos inimigos. Mas as torrentes imundas do pecado não poderiam jamais extinguir as chamas de sua caridade! É assim que Ele nos ama, mesmo que sejamos ainda inimigos seus. Os tormentos, pois, que se avizinhavam, a cruz que se ia erguendo ao longe, as acusações, os açoites, as cusparadas, nada disso pôde apartar Cristo de ti; antes, pelo contrário, quis Ele unir-se ainda mais ao teu coração, ao instituir o sacramento do seu divino amor. “Quem”, afinal, “nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo?” (Rm 8, 35). Conclui, portanto, com grande e ardente amor: “Em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 37).

Ponto 3. — “Durante a refeição, Jesus tomou o pão” (Mc 14, 22). Medita a condição dos que Cristo teve por convivas. Eram todos Apóstolos, e entre eles, segundo a opinião mais comum, também o Iscariotes. Mas que diversidade de comungantes! Aqueles o receberam física e espiritualmente, com ânimo de ardentíssima devoção; este, porém, apenas fisicamente, com o ânimo todo empenhado em trair a quem se lhe entregava. Vê como o traidor, mesmo alimentado de tão divino e amoroso manjar, não pôde refrear-se e mudar de intentos: é assim também com tuas paixões, que levam facilmente aos maiores delitos, quando não oprimidas tempestivamente.

Ponto 4. — Se não podes unir-te hoje aos Apóstolos na recepção física da Eucaristia, podes contudo te alimentares dela espiritualmente, renovando teus desejos de a receber com fé viva e caridade ardente. Não te esqueças de que ao Cenáculo não foram admitidos senão os futuros sacerdotes e príncipes da Igreja; nem Maria SS. nem as piedosas mulheres, que estariam atarefadas no andar debaixo garantindo o bom andar da ceia, tiveram a dita de comungar o corpo de Cristo na primeira Missa do mundo. Quem, no entanto, ousaria negar que, na mesma hora em que o recebiam os Apóstolos sob as espécies sacramentais, o estaria recebendo também em sua alma, com fé e pureza inigualáveis, a Rainha dos Apóstolos? Repete pois durante estes dias: “Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no SS. sacramento do altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por vós. Mas como não posso receber-vos agora no SS. Sacramento, vinde ao menos espiritualmente a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me a vós inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de vós” (S. Afonso M.ª de Ligório).

Fonte: Padre Paulo Ricardo

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