Com grande alegria, hoje, segunda-feira depois de Pentecostes, nós celebramos a memória da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja. Neste ano, por coincidência, também por ser 24 de maio, é o dia de Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, Nossa Senhora Auxiliadora, a Virgem de Dom Bosco. Então, vamos meditar sobre a Virgem Maria enquanto Mãe da Igreja e Auxiliadora dos Cristãos.
No dia de Pentecostes, nós celebramos o nascimento da Igreja, Corpo Místico de Cristo. Quando as graças da Cabeça, que é Cristo, começam a transbordar e ser derramadas nos outros membros do corpo, nós vemos que realmente a Igreja inicia a sua vida plena. Porque a Igreja nada mais é do que o Corpo de Cristo. Então, o Espírito Santo derramado sobre os membros de Cristo faz com que nós sejamos membros do próprio Cristo, que significa “ungido”, Aquele que tem o Espírito Santo de amor.
Assim, é fundamental que, nesta solenidade de Pentecostes, nós tenhamos esta clareza de que a Igreja inicia novos tempos. Antes era como se a Igreja estivesse em estágio embrionário. Os Apóstolos já haviam sido chamados, já tinham recebido a graça de alguma forma. Jesus já lhes tinha dado a Comunhão, já lhes tinha mostrado todo o seu amor. Mas ainda faltava alguma coisa, e o dom do Espírito Santo vem para completar essa união do Corpo Místico de Cristo, de tal forma que os membros começam a agir como a Cabeça. Essa é a maravilha da ação do Espírito Santo.
E se nós somos membros do Corpo de Cristo, como fica o nosso relacionamento com a Virgem Maria? Nosso relacionamento com a Virgem Maria, evidentemente, é o mesmo que ela possui com a Cabeça, que é Cristo. São Luís Maria Grignion de Montfort nos recorda que seria uma anormalidade, uma monstruosidade, que uma mulher desse à luz a cabeça de uma criança, mas não desse à luz o resto do corpo. Então, é evidente que, sendo a Virgem Maria Mãe de Deus, ou seja, Mãe de Deus que se fez homem, ela também é mãe dos outros membros da Igreja.
Na Missa de hoje, de Maria, Mãe da Igreja, lê-se o Evangelho em que Jesus aos pés da Cruz dá sua mãe ao discípulo amado (cf. Jo 19, 25-34). Neste momento aconteceu algo grandioso e misterioso. Mas esse ato de doação feito por Jesus no Calvário torna-se pleno exatamente no cenáculo, em Pentecostes. Por quê? Porque, de fato, São João, os outros Apóstolos e nós todos só nos tornamos plenamente filhos de Maria quando nos tornamos plenamente membros do Corpo de Cristo. É muito mais profundo do que um ato de doação. Pode parecer que, na Cruz, o ato de entrega do discípulo amado a Maria soe como uma coisa simplesmente jurídica: “Como Ele ia morrer e não tinha para quem entregar a própria mãe, então colocou-a sob a tutela do discípulo amado”. Mas foi algo muito mais profundo, indicando que nós e Jesus somos um. Jesus manifestou, na Última Ceia, o desejo de que fôssemos um com Ele, como Ele e o Pai estão unidos. E essa união se dá através do Espírito Santo.
A partir disso, podemos imaginar como é o relacionamento da Virgem Maria com a Igreja. Alguém duvida do amor imenso de total entrega e devoção da Virgem Maria para com Jesus? Alguém duvida do que Maria, a Virgem Santíssima, seria capaz de fazer e de sacrificar pelo seu Filho? Pois bem, ela olha para nós, Igreja, e vê o seu Filho Jesus. O que Deus ama em nós é Jesus. O que Maria ama em nós é Jesus, pois ela verdadeiramente olha para nós e vê o seu Filho. Nós podemos saber com certeza absoluta que a Virgem Santíssima olha para nós como para o seu Filho muito amado, por quem ela faria de tudo. E não deixa de ser uma grande consolação que, nas batalhas da vida, nós tenhamos essa Mãe bendita, capaz de sacrificar tudo por nós, capaz de tudo fazer pela Santa Igreja de Deus, sobretudo nestes tempos de tribulação pelos quais passamos.
Muita gente fica escandalizada ao ver que a Igreja está passando por uma crise medonha. Como é possível que haja tantos escândalos? Como é possível tanta apostasia e falta de fé exatamente por parte daqueles de quem a gente mais esperaria a fé? Como é possível que exatamente quem deveria guardar e tutelar os bens espirituais da fé, dos sacramentos, sejam os primeiros a vilipendiar os tesouros da graça?
Ora, é preciso lembrar que Jesus Cristo é o Senhor da Igreja. E compreender tudo o que está ocorrendo a partir da metáfora de uma mãe querida que leva o seu filho ao médico para fazer uma intervenção cirúrgica e salvar a criança. Essa mãe não quer que o seu filho seja cortado pelo bisturi, essa mãe não quer que o seu filho derrame sangue e sofra, mas ela quer a saúde dele. E se é necessário, para a saúde da criança, passar pela dor de uma intervenção cirúrgica, a mãe vai estar ali ao lado, auxiliando e ajudando. Assim também a Igreja, nestes tempos turbulentos, está passando por uma dolorosa “intervenção cirúrgica”.
Deus, que é o Senhor da Igreja, está permitindo que a sua santa Esposa passe por isso. Jesus, Cabeça da Igreja, está permitindo que os membros do seu corpo sofram uma purificação. Pois muitas pessoas que nós pensávamos que faziam parte da Igreja agora estão deixando cair as suas máscaras, e nós estamos vendo que elas não têm fé e não são membros da Igreja. Muita gente que ia à Igreja simplesmente por inércia, por exemplo, nestes tempos de pandemia, abandonaram e desistiram de tudo. Percebe-se claramente que está havendo, sim, uma diminuição da Igreja, mas uma diminuição benéfica, para a sua purificação.
Maria, nossa Mãe Santíssima, está aí para nos auxiliar, para nos ajudar neste momento dramático de purificação da Santa Igreja de Deus. Então, meu querido irmão, minha querida irmã, nestes tempos difíceis, saiba que nós temos sim dois grandes advogados e consoladores do nosso lado: o Espírito Santo, cuja festa celebramos ontem em Pentecostes, e a Virgem Maria, advocata nostra. Ela, assim como o Espírito Santo, recebe o título de advogada, porque está conosco para nos consolar, para nos dar força nestes momentos decisivos que a Igreja vive. Então, coragem, vamos lá, não estamos sozinhos. Coragem! Se a nossa Mãe bendita nos leva ao médico para sermos purgados, curados e purificados, é porque ela nos ama, e quer o nosso bem. Não desanimemos, pois ela é a nossa Mãe e nosso auxílio.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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