Celebramos hoje a festa da visitação de Nossa Senhora. Depois de receber o anúncio do anjo Gabriel, a Virgem SS. partiu apressadamente para as montanhas da Judéia a fim de assistir sua parenta Isabel, que, já no sexto mês de gravidez, estava para dar à luz S. João Batista. Ao meditarmos esse mistério, um dos quinze do Rosário, podemos neste ano de S. José recordar a presença do santo Patriarca. S. José e a Virgem Maria já estavam casados. Ainda não coabitavam, mas havia entre eles um verdadeiro matrimônio por estarem desposados. A Virgem Maria decide ir à Judéia. Ora, que esposo não iria acompanhar a mulher numa viagem que, de resto, era perigosa e cansativa, para ajudá-la em qualquer necessidade? É bastante lógico e natural imaginar S. José em viagem com Maria até as montanhas da Judéia. No caminho, José provavelmente ainda não sabia que ela estava grávida do Filho de Deus pelo poder Espírito Santo. Mas o segredo em breve seria desvendado. Por quê? Porque, quando Maria chegou à casa de Isabel e a saudou, a criança que estava no ventre da parenta pulou de alegria, e Isabel, cheia do Espírito Santo, reconheceu que Maria trazia dentro de si, como a verdadeira Arca da Aliança, ao próprio Deus encarnado: Unde hoc mihi?, “De onde me vem que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” Isabel exclama aqui como Davi exclamou outrora diante da Arca da Aliança, e assim como o rei sentiu-se indigno de que a Arca da Aliança o viesse visitar em casa, Isabel também se sentiu indigna da presença de Maria. Então disse a parenta: “Bem-aventurada aquela que teve fé, aquela que creu”. Bem-aventurada é Maria porque ela é πιστεύσασα! Foi pela fé dela que Deus se encarnou e veio ao nosso meio. São mistérios maravilhosos! Neste ano de S. José, podemos colocar-nos no lugar do santo Patriarca, que é pego de surpresa com a notícia tremenda: sua esposa está grávida do Filho de Deus altíssimo! Daí a perplexidade dele. Muita gente não sabe interpretar as SS. Escrituras quando vê o drama de José, e pensa como se ele estivesse indeciso entre abandonar ou não a Virgem Maria; mas, diante da cena da visitação, a solução é evidente. Com efeito, se Isabel percebeu logo que Maria estava grávida do Filho de Deus — “Que a Mãe do meu Senhor venha me visitar” —, é manifesto que S. José desde o primeiro momento entendeu perfeitamente que Maria era a Virgem anunciada pelo profeta Isaías: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho”. Todo o povo de Israel aguardava um Messias nascido da virgem. S. José vê-se casado com uma virgem e, de repente, fica sabendo por boca de Isabel, movida pelo Espírito Santo, que Maria está grávida do próprio Filho de Deus! É evidente que S. José, sendo um grande santo, era também imensamente humilde. Ora, quem de nós, se fosse humilde como ele, se arrogaria o direito de ser chamado pai do Filho de Deus? É uma loucura, é um absurdo! É evidente que S. José sentiu-se apequenado diante daquele abismo de mistério, diante da maravilha das maravilhas. Ora, sendo ele justo, ou seja, sendo ele um santo de pelo menos Sétima Morada, sentiu-se como Moisés diante da sarça ardente e ficou com medo de ser consumido pela presença divina. Não quis arrogar-se aquele título, como se dissesse: “Eu não pertenço a esse mistério”. Foi o que o humilde S. José pensou, então começou a articular dentro do coração uma forma de “escapar” desse mistério profundo, desse mistério divino, desse abismo de grandeza. “A minha esposa agora é a Mãe de Deus feito homem”! Ele então começou a pensar como abandoná-la secretamente, não para cometer uma injustiça nem porque estivesse suspeitando da honestidade da Virgem SS., mas porque o humilde quer esconder-se, quer ser esquecido. Certamente, se José pensou em escapar, é porque estava decidido a passar o resto da vida admirando Maria de longe, fazendo penitência e louvando a Deus pelo mistério do Salvador que veio ao mundo; mas os desígnios de Deus, que são insondáveis, permitiram que S. José permanecesse algum tempo em agonia. Nós não sabemos, é verdade, quanto tempo durou ela. Maria ficou cerca de três meses com Isabel. Se S. José padeceu todo esse tempo, foram decerto meses intermináveis, até que Deus, vendo que o seu servidor e amigo já sofrera o bastante por amor, enviou um anjo para lhe dizer: “José, não tenhas medo de receber Maria por tua esposa”. Ao meditarmos neste ano de São José o mistério da visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel, olhamos para as maravilhas de Deus e aprendemos de S. José a humildade; da Virgem Maria, a disponibilidade do amor; de Isabel, o reconhecimento, no Espírito Santo, da presença de Deus. Aprendemos tantas coisas! Que S. José, a Virgem Maria, S. Isabel e S. João Batista intercedam por nós junto a Jesus para vivermos sempre as virtudes e os mistérios da grande visitação do Senhor.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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