A liturgia da Igreja não tem o costume de celebrar a data de nascimento dos santos. Na verdade, ela considera o dia da morte como o verdadeiro dies natalis, por assim dizer, porque é neste dia que as almas santas “nascem para o Céu”. O nascimento para este mundo, tão cheio de pecados e misérias, pode ser celebrado apenas como um louvor ao dom da vida, claro, e ícone de uma esperança maior que virá com a redenção final, na eternidade.
Apenas três nascimentos são celebrados pela Igreja. Primeiro, o nascimento de Jesus, a 25 de dezembro, que, com sua Encarnação, assumiu a natureza humana para redimi-la de toda impureza e uni-la à vida divina. Depois, o nascimento da Virgem Maria, a 8 de setembro, cuja alma foi livre de toda mancha do pecado original desde a concepção. E, finalmente, o nascimento de São João Batista, que, embora não tenha sido imaculado como o foi Nossa Senhora, teve, porém, o coração purificado já no ventre de Santa Isabel, logo após a saudação de Maria, quando “a criança estremeceu no seu seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1, 41).
O que une esses três nascimentos é exatamente a redenção de Cristo. Celebrar a natividade de São João Batista é celebrar, pois, o derramamento da graça de Deus sobre nossos corações. João significa “agraciado de Deus”. Na solenidade deste dia, a Igreja recorda que fomos feitos para o Céu, porque, como canta o hino do Sábado Santo, Exsultet, “de nada adiantaria termos nascido se não tivéssemos sido redimidos”. Esta vida seria uma completa desgraça se Jesus não houvesse se encarnado para nos alcançar os méritos da nossa salvação.
Deus pensou em nossa existência e providenciou a nossa felicidade eterna. As palavras que lemos na primeira leitura da Missa de hoje se aplicam tanto a São João Batista como a todo o gênero humano. “O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe, Ele tinha na mente o meu nome”, diz o profeta Isaías (49, 1). De fato, nenhum ser humano é um acidente, mas uma realidade inteiramente desejada e sustentada por Deus. Ele tem um projeto para cada um de nós e conta com a nossa correspondência para que sejamos, já aqui na terra, uma família divina.
A felicidade humana depende dessa resposta ao projeto de Deus. Peçamos então a São João Batista que, assim como ele preparou os caminhos do Senhor, nós também saibamos preparar a nossa alma para a vinda do Divino Esposo.
Oração.— Senhor Jesus, de cuja Encarnação recebemos os méritos para uma vida de graça, pedimos-vos hoje, pela intercessão da Virgem Santíssima e de São João Batista, que santifiqueis as nossas almas com uma ardente piedade e total horror ao pecado. Não deixeis que nossas paixões dominem sobre nós, mas, antes, fortalecei a nossa inteligência e vontade para que elas, mortificadas pela vossa paixão, estejam em plena comunhão com o projeto do Pai. Assim seja!
Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/solenidade-da-natividade-de-sao-joao-batista-mmxviii
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