Com grande alegria celebramos hoje a festa de Nossa Senhora do Carmo. Quem é Nossa Senhora do Carmo? Nossa Senhora é sempre a Mãe de Jesus, única e irrepetível. Acontece que, ao longo dos séculos, as pessoas foram dedicando-se a Deus na oração e na vida contemplativa, e um grupo de monges da Terra Santa resolveu reunir-se no Carmelo, um monte bastante verdejante, cheio de vegetação, coisa rara na Terra Santa, de clima um pouco árido, com a vista para o mar. Naquela região, desde o Antigo Testamento, se reuniram discípulos do profeta Elias. Quando chegou o cristianismo, diz a tradição que eles, dedicados à vida consagrada, se converteram, reconheceram que Jesus era o Messias previsto e começaram a viver ali mesmo como monges cristãos. Essa tradição foi transmitida ao longo dos séculos de forma oral. E ao que tudo indica, as escavações feitas no Monte Carmelo dão conta de que existem, sim, sinais de vida monástica muito antigos, anteriores aos cruzados da Idade Média, isto é, à época em que pela primeira vez tivemos notícia escrita dos monges do Carmelo. O fato é que essa tradição monástica, que chegou até o Ocidente por inúmeras vias, foi difundida pelo mundo graças à Ordem carmelita.
Trata-se, além disso, de uma tradição muito ligada à Nossa Senhora. Por quê? Porque Nossa Senhora sempre foi venerada como modelo da vida contemplativa. Dizem os carmelitas: “O Carmelo é todo mariano” porque Nossa Senhora, com o seu Coração Imaculado, é o ideal de cristão consagrado a Deus. Ora, como é o coração de um consagrado a Deus? Aqui vêm as comparações tão caras à tradição carmelita. O coração do santo, da alma em estado de graça, para usar uma comparação do Livro dos Provérbios, “é o jardim das delícias onde Deus gosta de passear”, o que remete à situação de Adão e Eva no paraíso. Houve um jardim originário. Esse jardim, em grego, chama-se παράδεισος, isto é, paraíso. É o Éden, é o jardim das delícias onde Adão e Eva, ainda em estado de graça e amizade com Deus, viviam em colóquios amistosos com Ele. O Livro do Gênesis, no capítulo 3, diz que Deus descia para passear com nossos primeiros pais à hora da brisa da tarde. De fato, o jardim foi perdido, mas a tradição carmelita nos diz que, se bem não tenhamos mais acesso ao paraíso terrestre, Deus fez algo mais extraordinário: replantou-o pela graça no nosso coração. É o mistério da inabitação. Deus, amigo que gosta de passear em nosso interior, habita agora em nossa alma. Ora, se é verdade que Deus está no coração dos justos, como não estará Ele no Coração santíssimo de Nossa Senhora?!
Celebrar Nossa Senhora do Carmo é celebrar o fato de que a Virgem Maria era o jardim onde Deus mais gostava de passear. Deus veio do céu, à brisa da tarde. Ao anúncio do Anjo, Ele veio não só para passear, mas para habitar no Coração da Virgem Maria. Ela é o jardim das delícias, o esplendor do Carmelo, decor Carmeli; é a flor do Carmelo, flos Carmeli, o paraíso antes perdido que agora existe no Coração Imaculado. Nela, Deus refez o jardim, o seu paraíso! É Nossa Senhora do Carmo, hortus conclusus, o jardim fechado onde Deus, na intimidade, gosta de passear. Contemplando este mistério maravilhoso, podemos dirigir-nos com confiança à nossa Mãe bendita e, colocando-nos debaixo do seu santo escapulário, pedir: “Minha Mãe, revesti-me com o vosso hábito e protegei o meu coração, esse jardim das delícias de Deus”. O santo escapulário nos foi dado por Nossa Senhora como muralha para guardar o nosso coração. Nossa Senhora, como o querubim do Gênesis, está de guarda à porta do paraíso do nosso coração para que, diante das armadilhas de Satanás, diante das investidas e dos ataques do demônio, estejamos sempre seguros. Ela é a protetora do escapulário. Ser devoto de Nossa Senhora do Carmo é ser devoto destes mistérios. Nossa Senhora prometeu a São Simão Stock que iria proteger o nosso estado de graça. Ela mandaria seus anjos para guardar o dom mais precioso que temos: nossa amizade com Deus, o jardim onde Ele passeia e quer estar com seus filhos e amigos. — Que Nossa Senhora do Carmo nos proteja, e que nós, que carregamos o santo escapulário, sejamos verdadeiramente filhos dedicados a ela. Contemplemos sempre o mistério desse jardim belíssimo que é o Coração de Maria, modelo do que Deus quer fazer com o nosso.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário