Hoje, celebramos a memória do grande S. Luís Maria Grignion de Montfort, autor do famoso Tratado da verdadeira devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria, pelo qual muitas pessoas se consagram a Nossa Senhora. Olhemos um pouco mais de perto para a vida de S. Luís, a fim de entender que pode nos inspirar não somente o que ele escreveu, mas também o que ele viveu. S. Luís nasceu em uma família numerosa. Foi o segundo de dezoito irmãos e quis consagrar-se a Deus como sacerdote. Depois de ter estudado num colégio dos jesuítas em Rennes, saiu como andarilho e foi até Paris, onde entrou num seminário para rapazes pobres. Ele formou-se sacerdote e desde cedo abraçou pessoalmente a pobreza radical. É interessante notar isso, porque S. Luís era padre diocesano, ou seja, não pertencia a nenhuma ordem religiosa nem tinha nenhum voto solene. No entanto, ele fizera um voto pessoal de viver a pobreza radicalmente. De fato, ele viveu tão pobre, tão pobre, que até os pobres tinham compaixão dele, tão pobrezinho ele era na forma de vestir, na forma de portar-se. Um dia, S. Luís foi a uma espécie de hospital-albergue para pobres. Lá, pôs-se a esperar antes de cumprir um compromisso. Ele ficou quatro horas na capela rezando, horas que lhe passaram muito rapidamente, mas os pobres, vendo a figura daquele sacerdote maltrapilho, resolveram pedir-lhe que se tornasse capelão do hospital — afinal, ele parecia já muito santo —, por isso resolveram fazer uma “vaquinha” para ajudá-lo. Pobres dando esmola a um padre, tão pobre ele era! S. Luís foi perseguido desde o início por causa de sua santidade. Quando uma alma é santa, sem precisar fazer nada contra ninguém, mas apenas por incomodar o diabo, logo arranja muitos perseguidores. Tão logo conseguia uma missão num hospital de pobres, era tirado de lá; mandavam-no a outro lugar, mas de lá também o expulsavam… Por isso, ele decidiu entregar-se a Deus como missionário no exterior. Resolveu assim ir a Roma, saindo da França a pé. Era uma característica de S. Luís: ele passou a vida inteira andando a pé. Fazia parte do seu voto de pobreza. Em Roma, conseguiu uma audiência com o Papa quase por milagre e disse ao Pontífice: “Quero ser missionário nas Américas”. O Papa respondeu-lhe: “Não é preciso ir tão longe. A França necessita de missionários”. Ele então foi nomeado pelo Papa Clemente XI missionário apostólico, a fim de poder pregar na França, com seu estilo de muita oração, de muito recolhimento e também de um ardor apostólico enorme. Era uma característica de S. Luís. Ele mesmo diz em seus escritos sentir um chamado ao escondimento e, ao mesmo tempo, à entrega apostólica, à missão de levar o catecismo para todo o mundo e de levar todo o mundo à vida de oração, à vida com Deus. Parece contraditório, mas não o é; é a própria essência da vida sacerdotal. Quando Jesus escolheu os Apóstolos, disse-lhes primeiro: “Vinde estar comigo” no escondimento, na vida interior, e só depois “Ide”, isto é, “Sede missionários” para trazer as pessoas para Deus. Um dia, S. Luís estava pregando com um grupo de missionários e encontrou um leproso. Ele pegou o leproso, carregou-o nos braços e foi bater à porta da casa em que estavam hospedados os outros missionários. Como encontrasse a porta fechada, começou a berrar e gritar de fora: “Abri a porta para Cristo! Abri a porta para Cristo!” Era o leproso que ele trazia no colo! Naquela noite, o leproso dormiu na cama do santo. Esse era o homem! Eis o quilate do varão apostólico que se entrega a Deus! Ele também era — coisa que pouca gente sabe — um artista, fazia esculturas, desenhava etc. Era a forma de mostrar seu carinho a Nossa Senhora. Exatamente por seu talento, S. Luís sabia que o povo precisava de imagens. Há inclusive uma famosa história a esse respeito. Certa feita, S. Luís quis construir um Calvário perto da cidade de Nantes. Ele mandou preparar o cenário. Depois de meses e meses de trabalho, no alto de uma montanha ergue-se por fim a cruz de Jesus, Nossa Senhora ao pé dele, S. João ao lado, o bom e o mau ladrão: todos os personagens estavam lá. Finalmente, chegou o dia de o bispo de Nantes vir abençoar o Calvário. O bispo, porém, respondeu que não só não iria abençoar como tudo aquilo deveria ser desmontado. Perplexo, S. Luís partiu a pé até Nantes. Às seis da manhã, lá estava ele, na porta do bispo, para saber o que havia ocorrido. Descobriu que o próprio Luís XIV mandara destruir o Calvário. Por quê? Porque alguém — o diabo é o pai da mentira! — tinha convencido o rei de que o Calvário serviria de abrigo e fortaleza para os ingleses quando invadissem a França. Um despropósito! Apesar da injustiça, S. Luís voltou a pé. Chegando à cidade, disse aos fiéis: “Meus filhos, quisemos construir um Calvário no topo da colina, mas Deus quis construí-lo em nossos corações. Desmontemos tudo”. É a docilidade e a obediência de um homem entregue a Deus. Assim ele vivia a sabedoria da cruz. Aliás, pouca gente sabe que a devoção de S. Luís a Nossa Senhora tinha por finalidade adquirir a verdadeira sabedoria. E o que é a sabedoria? A Sabedoria, a Sabedoria encarnada, é Jesus; mas a sabedoria em nossas almas é um dom do Espírito Santo em virtude do qual, revestidos de verdadeira caridade, aprendemos a saborear a cruz de Cristo, por compreendermos que na cruz existe um desígnio salvador, um desígnio de santidade. Por que nos consagramos a Nossa Senhora, segundo S. Luís? A fim de adquirir a verdadeira sabedoria, ou seja, para que nós, verdadeiramente configurados ao Coração de Nossa Senhora, nos configuremos ao de Jesus. Poderíamos dizer que toda devoção, para S. Luís, consiste em adorar Jesus, Sabedoria encarnada, no ventre de Nossa Senhora, no seio de Nossa Senhora, no Coração de Nossa Senhora. É adorar Jesus em Maria. Essa foi uma das notas dominantes da espiritualidade dele, bebida dos sulpicianos, do padre Olier — a grande devoção à Encarnação do Verbo. Essa foi a vida de São Luís, um incentivo a que nós aprendamos como o amor, como a caridade para com Deus, leva um homem a tornar-se grande missionário, grande apóstolo, grande pregador apostólico, que dá a própria vida pelo resgate de muitos.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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