Com alegria, celebramos hoje a memória da grande Doutora da Igreja, S. Catarina de Siena, nascida da família Benincasa na então República de Siena. Catarina viveu no período final da Idade Média, durante o século XIV, época bem conturbada para a Igreja, especialmente para o papado, exilado numa cidade da França chamada Avignon. Mas S. Catarina, mesmo sendo leiga, foi chamada por Deus para realizar uma obra de salvação pela Igreja inteira. Deus a chamou para se santificar e, santificando-se, indicar à Igreja um caminho de reforma e de salvação. É interessante notar isso. Estamos acostumados a ver imagens de S. Catarina de Siena vestida de freira, quando, na verdade, ela não era freira nem monja, mas uma leiga que vivia no mundo. Acontece que ela se consagrou a Deus por voto de virgindade e entrou numa confraria de leigas assistidas pelos dominicanos. Eram as mantellate, por se cobrirem com um manto ou véu na cabeça em sinal de consagração virginal a Deus. Mas Catarina vivia no mundo, como leiga. É exatamente aqui que S. Catarina aparece como grande Doutora, ensinando-nos a viver uma vida ao mesmo tempo contemplativa e apostólica. Ela, sem deixar de ser mística, graças ao seu apostolado fez diferença na história mesma da Igreja. Por suas cartas, Catarina conseguiu convencer o Papa a retornar de Avignon. Gregório XI voltou a Roma por influência de uma leiga — digamos assim — semi-analfabeta! Mas qual é a contribuição espiritual de S. Catarina de Siena? Catarina disse uma vez o seguinte ao seu confessor, o bem-aventurado Raimundo de Cápua, OP: “Desde a adolescência, acostumei-me a construir em minha mente uma cela da qual jamais pudesse escapar”. O que significa “construir uma cela na própria mente da qual jamais se possa escapar”? Entendamos primeiro o que é uma cela. Para nós, cela é o mesmo que cela de prisão; mas, na linguagem de S. Catarina, uma cela é, na verdade, um quarto. Os monges, os frades, as freiras de conventos etc. não dizem “quarto”; a palavra que usam é “cela”. É o lugar onde dormem e moram, é o lugar onde se recolhem. É aquilo que Jesus diz no evangelho de S. Mateus, no Sermão da Montanha: “Quando fores orar, entra no teu quarto, e o teu Pai, que vê no segredo, vai-te escutar”. Mas o que é, afinal, esse “quarto” em que é preciso entrar? Onde está essa “cela”? Dentro do nosso próprio coração, dentro de nós mesmos. Aqui está um dos grandes ensinamentos de S. Catarina: precisamos descobrir que, dentro de nós, mesmo no tumulto do mundo, no meio das confusões e aflições da vida, existe uma cela, um quarto escondido no qual precisamos entrar para estar a sós com Deus. Alguém pode dizer: “Muito bonito de dizer… Mas como faz isso?” Primeira coisa: é necessário ter vida de oração. Temos de entender que não podemos passar o dia inteiro dissipados, se o que queremos verdadeiramente é crescer no amor, ser almas contemplativas e ao mesmo tempo apostólicas, como S. Catarina de Siena. Quando Jesus chamou os Apóstolos, Ele os chamou em primeiro lugar para estarem consigo. Ele disse: “Vinde”, constituiu os Doze e os chamou para estarem consigo, e só mais tarde os enviou em missão. É “Vinde” para depois “Ide”. O “vinde estar comigo” em recolhimento é importante para todos os santos e na vida de todos os cristãos, portanto, é importante também para nós. É preciso tirar um tempo para estar com Jesus, para cessar as atividades em que se está o dia todo qual uma Marta agitada, dispersa, levada para todos os lugares. É preciso ter tempo para se recolher. O princípio da vida espiritual está no recolhimento, condição para estar com Jesus. Reservemos um horário do dia, de preferência de manhã, quando o cérebro não está tão agitado. É um tempo para Deus, para o recolhimento, para estar com Jesus na cela do próprio coração. Feita essa experiência concreta na vida de oração, será possível levá-la para o dia a dia. Um dos melhores meios para aprender a fazer isso bem concretamente é comungar direito. Em estado de graça, depois de uma boa Confissão, o fiel pode comungar; unido a Jesus, fisicamente presente no coração, encontrar-se com Ele; e, durante a ação de graças, aprender na prática que existe um lugar dentro de si no qual Jesus está presente, e está o tempo todo, convidando-o ao recolhimento: “Vinde a mim todos vós que estais cansados sob os vossos fardos pesados, e eu vos aliviarei”. Estar com Jesus! É exatamente na companhia de Jesus, nesta cela interior do próprio coração, que o fiel, depois ter comungado bem, pode, durante o dia, ir-se recordando de Cristo, fazendo memoria Dei: “Onde foi que Jesus me tocou hoje nesta manhã, quando fui comungar?” Mesmo nas agitações do dia, no meio das pessoas, quem comunga bem poderá recordar-se daquele lugar, dentro de sua alma, de seu coração, em que Jesus o tocou. Se fizermos isso bem e com constância, veremos nossa vida mudar, veremos as virtudes surgirem. De fato, a maior prova de que a oração é autêntica, verdadeira, é que vida a muda, e quem reza fica diferente — mais paciente, mais casto, mais generoso… Começa-se a ter aquela caridade de Cristo, aquele amor, aquele ardor apostólico de querer levar outras almas para Deus. Entremos na escola da grande Doutora S. Catarina de Siena! Construamos uma cela em nossa mente, da qual jamais possamos escapar. Exercitemo-nos nisso, estejamos lá, dentro do nosso coração, com Nossa Senhora, com Jesus, com os Apóstolos, com S. José, com os santos de nossa devoção. Recolhidos, compreendamos que existe dentro de nós uma morada, um lugar onde Deus, amor infinito, habita e está sempre conosco. Assim seremos capazes de transbordar de grande caridade.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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