sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Solenidade do Natal do Senhor

1. Um parto virginal. — Com grande alegria, celebramos a solenidade do Natal do Senhor, e nesse ano de S. José, proclamado pelo Papa Francisco, somos convidados a nos colocar no lugar do santo Patriarca. Com que coração se aproximou José do mistério do Natal? A tradição nos conta que S. José estava ausente no momento em que Jesus nasceu, porque havia deixado a Virgem Maria na lapinha, na gruta de Belém em que nasceu o Menino. Vendo que sua esposa estava dando sinais do parto, saiu à busca de parteiras; mas, ao retornar com as únicas duas que pudera achar, o Menino já tinha nascido. Então, as parteiras entraram na gruta, terminaram o processo, cortando o cordão umbilical etc., e, uma vez composta Nossa Senhora, José se aproximou do grande mistério: Deus feito homem! Não só isso: o Filho de Deus, agora, de alguma forma misteriosa, era também filho dele. Sim, eis mistério de Deus! O Evangelho de S. Mateus nos diz que, em sonhos, o Anjo apareceu a José e disse-lhe: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa”. Oh! a humildade de José! Quando ele se casou, já tinha o propósito de viver com Maria o celibato e a virgindade, mas não lhe passara pela cabeça que iria casar-se com a Mãe de Deus. Ele não sabia disso, e no entanto, por vias misteriosas, Deus quis incluí-lo, e José, homem justo, vendo embora a própria indignidade, não teve medo de abraçar esse mistério.

2. A primeira comunhão de S. José. — Quando José foi deitar-se para dormir, o que ele provavelmente queria era apenas descansar. Ele não sabia que, daquele sono em diante, ele mudaria para sempre o destino da humanidade. No meio de um sonho, ele é chamado por Deus, convocado para ser o pai davídico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os profetas previram ao longo de séculos que viria um filho de Davi, e esse filho seria o filho adotivo de José. S. José, posto diante do grande mistério que é estar casado com a própria Mãe de Deus e ser, agora, chamado pai davídico do Filho de Deus, o Messias prometido por gerações... Que realidade tremenda! que realidade! introduzida no coração de S. José em sua humildade, em sua adoração, em sua aceitação, em sua obediência. É com semelhante coração que nos devemos aproximar do presépio, é com tal coração que devemos contemplar o mistério da Encarnação de Deus. Nessa Noite Santa, coloque-se no lugar de S. José, naquele momento em que, pela primeira vez, de coração humilde, puríssimo e castíssimo, ele pôde aproximar-se de Jesus e ver aquele Menino. Com que olhos ele olhou para Jesus! com que comoção! com que temor e tremor! mas, ao mesmo tempo, com que obediência e amor ele tomou nos braços aquele Menino! Foi a primeira comunhão de S. José, porque foi a primeira vez que ele teve contato físico com Deus feito homem. Quantas vezes iria comungar José! Ele não conheceu, de fato, o sacramento da Eucaristia, mas conheceu o próprio Filho de Deus feito homem e, ao tocar no corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, pôde sem dúvida receber as graças da comunhão.

3. Comungar com o coração de S. José. — Também nós somos chamados, nesta Noite Santa, a nos aproximar de Jesus; mas quem de nós ousaria comungar? Como José, também nós temos medo. Afinal, qualquer um que seja sensato, qualquer um que tenha um mínimo de noção de quem é Deus, ao olhar para dentro de si reagirá como S. Pedro: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador”. Mas nós, incentivados por Jesus mesmo, ousamos aproximar-nos como São José, que tomou coragem, foi, recebeu Maria Virgem como sua esposa e começou a participar daquele mistério. Também nós temos uma ordem do céu. É Nosso Senhor quem diz: “Tomai e comei”. Quem ousaria comungar se não fosse o próprio Deus que o mandasse? Sim, são dois imperativos: “Tomai e comei”, e é claro que isto supõe um coração disposto, não é um coração qualquer, em pecado. Mas se o anjo disse a S. José: “Não tenhas medo”, e José, sendo justo, teve medo, estaremos nós bem preparados neste Natal? Fizemos nossa confissão? Estamos em estado de graça? Se sim, não tenhamos medo: “Tomai e comei”. Somos chamados a nos aproximar do mistério da Encarnação por meio da Eucaristia. Peçamos pois emprestado a S. José o seu coração, humilde, puro, obediente, confiante, coração daquele que é o maior devoto da Virgem Maria, daquele que é o maior santo de todos depois dela, chamado por Deus a participar diretamente do mistério da Encarnação. — O nascimento de Jesus, naquela noite santa e silenciosa, foi visto só pela Virgem Maria e por Deus e no entanto S. José teve a honra de se aproximar logo em seguida. Nesta Noite Santa, os anjos se aproximam dos pastores humildes e dizem-lhes a mesma coisa: ide a Belém! Adeste fideles, como canta o hino português. Sim, estejamos lá presentes como fiéis, laeti triumphantes, alegres e triunfantes! Vamos a Belém com coragem, com o coração de José. Um feliz e santo Natal!

Fonte: Padre Paulo Ricardo

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