Celebramos hoje uma memória devocional que não está no calendário universal: são os Esponsais da Bem-aventurada Virgem Maria com S. José, ou seja, o casamento de Nossa Senhora. É interessante meditar esse mistério neste ano dedicado a S. José. Assim podemos verdadeiramente mergulhar na missão que São José recebeu de Deus. Em primeiro lugar, quando se casou com a Virgem Maria, S. José não pensava que estava se casando com a futura Mãe de Deus. Aliás, nem Nossa Senhora sabia que, em pouco tempo, se tornaria Mãe de Deus. Mas os dois, inspirados pela graça divina, optaram pela virgindade, pela castidade, e se casaram porque, na época, não havia outro estado de vida. Por isso se amaram verdadeiramente em Deus, com caridade perfeita, mas castíssima. É no meio dessa história já tão santa, pura e maravilhosa, que se revela o segredo, o mistério de Deus escondido desde todos os séculos, como diz S. Paulo: Maria fica grávida. Sabemos que nela aconteceu a Encarnação, ou seja, o Filho de Deus, segunda pessoa da SS. Trindade, assume a nossa humanidade no ventre da Virgem Maria, dela recebendo, de alguma forma misteriosa, a natureza humana. S. José, que era um homem justo, ao ver este mistério — Deus feito homem —, não se sente incluído no projeto. Primeiro, porque ele já havia feito um grande gesto de humildade. Com efeito, S. José era descendente de Davi, e todo o mundo sabia que o Messias viria de um descendente daquela casa. Ora, quando S. José decidiu viver a virgindade junto com Nossa Senhora, estava fazendo um imenso gesto de humildade , como se dissesse: “Sim, o Messias virá, mas através de mim, que viverei virgem”.
Sabemos com certeza que Nossa Senhora, assim como S. José, queria a virgindade devido às palavras do Evangelho e à Tradição da Igreja. Ao anjo, depois de saber que seria Mãe do Filho de Deus, ela respondeu: “Como isso vai acontecer, se eu não conheço homem?” Ora, se Maria já era casada com S. José, por que ela levantaria essa objeção: “Eu não conheço homem?” Justamente porque ambos tinham voto de virgindade. S. José, vendo o mistério de Maria, virgem e pura, mas grávida do Filho de Deus, faz outro gesto de humildade: como homem justo, decide deixá-la. O mistério era grande demais para ele, mas eis que um anjo lhe aparece em sonhos e lhe revela o decreto divino, dizendo: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa”. Lembremos que o casamento entre S. José e Nossa Senhora que já tinha acontecido e as palavras do anjo o confirmam. Naquele momento, S. José recebe a notícia de que ele, por um desígnio, um decreto ou ato da vontade de Deus, fora incluído por Deus no mistério da Encarnação.
Essa é a grande maravilha! Quando o Papa bem-aventurado Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição, afirmou também que no mesmo decreto eterno em que decidira a Encarnação da segunda pessoa da SS Trindade, Deus incluiu a Virgem Maria, do que podemos deduzir com igual lógica que, nele, estava incluído também S. José. Como podemos saber disso? Vendo como S. José foi previsto e anunciado pelos profetas: “Virá o Messias”, disseram eles, “e será descendente de Davi”. Se relermos as genealogias de Jesus, veremos que elas se referem a S. José; ora, sabemos que José não é pai biológico de Jesus. Para garantir, porém, a ascendência davídica de Nosso Senhor, José está lá, previsto desde todos os tempos. Isso põe S. José em um nível de santidade e eleição divina superior ao de todos os santos. Ou seja: com exceção da divina pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora, S. José ocupa o terceiro lugar entre os maiores. Por quê? Porque ele pertence de algum modo à ordem da união hipostática, linguagem teológica com se quer dizer que ele faz parte do mistério da Encarnação. Ao decretar que seu Filho se encarnaria Deus quis Maria, Deus quis José. Por isso o anjo diz: “Não tenhas medo, José, de receber…”.
S. José, além de humilde, é obediente, porque é um ato de soberba não obedecer a Deus. Ele, então, recebe a Virgem Maria, como nós somos convidados, de forma análoga, a receber e entrar no mesmo mistério. Não tenhamos medo de receber a Virgem Maria em nossos corações, porque através dela nos é dado Cristo. — Que S. José, exemplo luminoso de devoto da Virgem Maria, seja para nós um auxílio. Que ele nos ajude a nos entregarmos a ela, a não termos medo de ir a Maria para, com ele e nela, receber Jesus. Que S. José seja uma presença constante durante este ano. A grandeza das graças recebidas por ele para cumprir sua missão de defender a Virgem Maria e Jesus, de ser o pai davídico de Nosso Senhor, nos mostra que ele, no céu, é muito glorioso e tem uma missão que continua aqui na Terra. Como diz S. Luís Maria Grignion de Montfort, assim como é absurdo dizer que uma mulher é mãe da cabeça, mas não do corpo, é absurdo dizer que Maria seria Mãe de Jesus, mas não da Igreja. Assim também professamos e dizemos que seria absurdo S. José ser o pai davídico de Nosso Senhor, mas não ser também, de alguma forma também, “pai” da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Que ele interceda por nós e esteja ao nosso lado como pai e protetor.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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