domingo, 16 de agosto de 2020
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Celebramos, neste domingo, a grande Solenidade da Assunção da Virgem Maria, cujo dogma foi proclamado por Pio XII, em 1950. “A imaculada Mãe de Deus”, diz a Bula Munificentissimus Deus, “terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. Essa glória, de que goza agora nossa Mãe Bendita, é um privilégio maior do que o de todos os demais anjos e santos juntos, de modo que a felicidade de cada um deles, no Céu, consiste também em ver a felicidade eterna de Maria, que está singularmente unida a Nosso Senhor Jesus Cristo.
No Evangelho de hoje, a “humilde escrava do Senhor” canta jubilosamente as maravilhas que Deus ainda realizaria em seu coração, como uma profecia da sua Assunção gloriosa. A alegria que Nossa Senhora experimentou desde a Anunciação do Anjo foi consumada com a sua coroação na glória celestial. Por isso, a solenidade de hoje deveria ser celebrada com demasiado enlevo por todos os fiéis católicos. Porque, afinal de contas, qual filho não se alegraria com a felicidade de sua mãe?
Devemos, portanto, compreender o que é a felicidade, em primeiro lugar, para podermos meditar sobre o que se passou verdadeiramente no coração de nossa Mãe, no Céu. A felicidade, em sentido estrito, é a realização plena do propósito para o qual determinado ser existe. A finalidade dos olhos, por exemplo, é a visão, assim como a finalidade das narinas é a respiração. A alma humana, consequentemente, possui também uma finalidade última e é na realização dessa finalidade que podemos ser realmente felizes.
Infelizmente, é verdade, as pessoas de hoje acreditam que podem se satisfazer totalmente, tendo a liberdade para escolher apenas o que mais lhes apetece. Desse modo, elas se comportam como crianças que querem comer só bobagens, e não as refeições nutritivas para o desenvolvimento de seu organismo. Aqui, porém, é preciso recordar uma frase muito propícia de Santo Agostinho: “Fizestes-nos para Vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Vós” (Confissões, I, 1, 1). Não, homem nenhum pode encontrar a felicidade perfeitíssima fora de sua vocação para Deus. E a própria história da humanidade dá testemunho disso, sobretudo nos momentos em que ela mais se mostrou incrédula e irreverente ao Sagrado: todos aqueles que quiseram criar um paraíso sem Deus, neste mundo, só conseguiram produzir o inferno.
Além disso, a felicidade que já teríamos aqui na terra foi corrompida pelo pecado original. No “jardim das delícias de Deus”, nossos primeiros pais se deixaram seduzir pela palavra do inimigo, pelo que acabaram expulsos daquele paraíso terreno. Agora, carregamos os fardos das doenças, das contradições, das violências, enfim, de todo tipo de dor e sofrimento. Por isso, as tentativas de se criar um “mundo ideal” são bastante utópicas e só podem terminar em fracassos e contendas, com um acusando o outro pela própria miséria. Grosso modo, somos como galinhas num granjeiro, tendo de pôr ovos e bicando-nos mutuamente.
A boa notícia, por outro lado, é que o Deus felicíssimo quis nos tornar participantes da sua eterna felicidade no Céu. E para recebê-la, consequentemente, nós devemos imitar o exemplo de Nossa Senhora. Antes de tudo, a Virgem Santíssima recebeu a Boa-nova com um ato de fé no anúncio do mensageiro de Deus. Depois, feliz com a notícia, seguiu apressadamente para a casa de sua prima Isabel, a fim de ajudá-la em sua gravidez. E Santa Isabel a recebeu com estas palavras, cheias do Espírito Santo: “Bem-aventurada és tu que creste, pois se há de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc 1, 45).
Deus trouxe a felicidade à Virgem Maria e quer compartilhá-la conosco também. Mas sem fé não é possível recebê-la, porque, como diz a Carta aos Hebreus, “a fé é fundamento daquilo que ainda se espera e prova de realidades que não se veem” (11, 1). Nossa Senhora, por sua vez, alcançou a perfeita bem-aventurança na eternidade e, hoje, pode cantar o Cântico dos Cânticos: “Eu sou do meu amado e meu amado é meu” (6, 3). Do mesmo modo, nós precisamos crer na posse dessa felicidade eterna, o prêmio dos eleitos, “os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” e que “os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou” (1Cor 2, 9).
Peçamos, pois, à Virgem que nos ensine a crer com a mesma fé dos bem-aventurados.
Oração. — Mãe bendita, bem-aventurada Virgem Maria, vós que neste dia alcançastes a suma felicidade em corpo e alma no Céu, olhai compassiva para estes vossos filhos que peregrinam aqui na terra, e dai-nos viver com uma fé sempre crescente, uma esperança certa e um amor abrasado, para que, convosco, possamos um dia contemplar definitivamente a face daquele que quer entregar-se definitivamente a nós. Amém.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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