Dentro da Oitava da Assunção da Virgem Maria, a Igreja celebra a memória de Nossa Senhora, Rainha do céu e da terra, como contemplamos no quinto mistério glorioso do Rosário, e o Evangelho proposto para essa celebração nos apresenta o episódio da Anunciação. S. Gabriel Arcanjo adentra o recinto em que Maria se encontra e, após saudá-la cheio de encanto, diz-lhe: “Eis que conceberás e darás à luz um filho […]. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi”. Ora, sabemos já que, na tradição dinástica oriunda da casa de Davi — ou seja, a partir de Salomão (cf. 1Rs 2, 19) —, o rei de Israel governava ao lado, não da esposa, mas da mãe, a quem se concedia um trono, além do título de gebirah, que quer dizer justamente “Rainha Mãe”. Daí que a Virgem SS. seja chamada com toda razão e verdade Rainha do céu e da terra, pois seu Filho, sucessor definitivo de Davi, tem poder sobre todas as criaturas, do céu, da terra e dos abismos. Tampouco se deve pôr em dúvida que ele, que tinha bem gravadas no coração a S. Escritura e a história do povo eleito, soubesse perfeitamente que, tornando-se Mãe do Filho de Davi, se tornaria também Rainha do novo Israel.
É por isso que admira a profundíssima humildade com que ela responde às palavras do anjo, repletas de grandiosas promessas: “Eis aqui a serva do Senhor”; e mais tarde, na casa de Isabel: “Minha alma glorifica ao Senhor […], porque olhou para sua pobre serva […], realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1, 46.48s). Amada por Deus com especialíssima predileção, a Virgem mereceu, pela singular humildade com que transcorreram seus dias, ser proclamada bem-aventurada por todas as gerações e reconhecida como a “Mulher revestida do sol” vista por S. João, com “a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1). Que nós, soldados do exército de Cristo, lembremos sempre que estamos sob o amparo desta Rainha poderosíssima, sob cujos pés já foi esmagada a serpente infernal, o inimigo que devemos todos os dias combater pela récita do Santo Rosário.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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