quarta-feira, 24 de junho de 2020
Solenidade da Natividade de São João Batista
Celebramos hoje a solenidade do nascimento de S. João Batista, primo de Nosso Senhor. Para bem aproveitarmos essa celebração, é importante considerar as razões por que a Igreja Católica comemora apenas três natividades: a) a de Nossa Senhora, no dia 8 de setembro; b) a de Jesus Cristo, no Natal; c) e, hoje, a do Precursor. Todos os homens, com efeito, estão implicados no pecado de Adão, pai do gênero humano, de sorte que todos herdam dele, por descendência carnal, uma natureza privada da santidade e justiça originais dadas por Deus aos nossos protoparentes antes da Queda (cf. CIC 404). Ora, é apenas por meio do Batismo que é apagada em nós a mancha do pecado original e nos é restituída a vida sobrenatural da graça (cf. CIC 405). Por isso, todo homem, desde a sua concepção, nasce em estado de pecado e necessita, para ser justificado, do lavatório da regeneração: “Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5).
Há no entanto três casos especialíssimos em que, por disposição da divina Providência, existe santidade desde o ventre materno: a) em primeiro lugar, Jesus Cristo, que, por ser o próprio Verbo encarnado, não poderia herdar de forma alguma a herança de Adão: Ele, ao assumir a forma de servo, elevou o que é humano sem diminuir o que é divino, passando “pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado” (Hb 4, 15); b) Maria SS., por sua vez, foi preservada do pecado, vencendo-o por sua santa e Imaculada Conceição; c) João Batista, enfim, foi santificado já no seio materno, conforme narra S. Lucas: “Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1, 41). A Igreja crê, pois, que por ocasião da visitação de Nossa Senhora à sua prima Deus purificou do pecado aquele que, nas palavras de Zacarias, seria “chamado profeta do Altíssimo” (Lc 1, 76).
Justificado, assim, desde o seu primeiro encontro com Cristo, S. João Batista foi santificado pelo Pai a fim de poder preparar como convinha as veredas do Filho (cf. Mt 3, 3). Ele, que é com justiça o último e o maior dos profetas (cf. Lc 7, 26), constitui como que a abóbada e o remate do Antigo Testamento: inaugurando o Evangelho (cf. Lc 16, 16; At 1, 22) pela pregação da conversão e da penitência, o Batista quer nos levar a morrer para o pecado, a fim de que Jesus Cristo, “o Cordeiro de Deus” (Jo 1, 29), nos faça nascer para a graça e a vida verdadeira. Ouçamos hoje com atenção os apelos do Precursor; convençamo-nos de que, se não morrermos para nós mesmos e para o nosso egoísmo, não poderemos deixar o Cristo ser gerado em nós. Convertamo-nos e façamos penitência, com amor e generosidade, porque o Reino de Deus está mais do que próximo (cf. Mt 3, 2): está já aqui, neste tempo da Igreja, em que por graça nos é dado ver e viver o que o Precursor anunciou sem ter visto nem vivido a não ser em figura e preparação.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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