O Sábado Santo, por ser um dia alitúrgico, carece de Evangelho próprio. A Igreja, em conjunto especialmente com Nossa Senhora, permanece em silêncio, velando o túmulo em que jaz, à espera da ressurreição, o santíssimo Corpo de seu divino Fundador. Neste dia, porém, é uso recordar uma verdade de fé que, de modo geral, não costuma ser tema recorrente de meditação: a descida de Cristo à mansão dos mortos para ali pregar a Boa-nova.
Além de estar presente no Credo, essa verdade é insinuada também por São Pedro, em cuja primeira epístola lemos que, depois de padecer e morrer, o Senhor “foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere” (1Pd 3, 19), isto é, “aos mortos, para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam segundo Deus quanto ao espírito” (1Pd 4, 6).
Esse período do Sábado Santo corresponde, pois, ao momento em que a Alma de Cristo, desprendida do Corpo, quis viver o que nós viveremos depois da morte, enquanto aguardamos a chegada do Fim dos Tempos: os que se salvam, com efeito, são admitidos à presença de Deus, enquanto os seus corpos permanecem neste mundo até que o Filho de Deus retorne para nos julgar a todos. Ora, as almas dos justos do Antigo Testamento aguardavam que as portas do céu finalmente lhes fossem abertas, e foi para as consolar e lhes infundir a luz da glória que o Salvador desceu em Alma ao cárcere temporário em que estavam retidos os que nele haviam crido e esperado.
No Fim dos Tempos, as almas desses justos, assim como as nossas — se assim Deus for servido —, ver-se-ão unidas novamente aos próprios corpos, configurando-se plenamente a Cristo ressuscitado. Na firme esperança da ressurreição de Nosso Senhor, vivamos santamente este Sábado de silêncio e, na noite de hoje, deixemo-nos invadir de alegria pela vitória de Cristo sobre a morte. Que Ele se digne associar-nos à sua Páscoa gloriosa.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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