Hoje, 22 de fevereiro, a Igreja celebra a festa da Cátedra de São Pedro. Para entender essa festividade litúrgica, precisamos compreender que Jesus quis que o seu serviço de ser “Apóstolo do Pai”, isto é, enviado pelo Pai, continuasse ao longo dos séculos através da sucessão apostólica. Eis o grande mistério da Igreja: Jesus veio para nos revelar o Pai, pois “ninguém nunca viu a Deus, mas o Filho que está na intimidade de Deus” (Jo 1, 18), Ele veio nos contar. Veio como enviado, e “enviar” em grego, apostello (αποστέλλω), remete ao termo “apóstolo”. Nesse sentido, Jesus é o grande apóstolo do Pai, o enviado do Pai que veio trazer-nos uma mensagem; na verdade, Ele é a própria mensagem, porque é a expressão do amor do Pai e a irradiação de sua luz.
Mas seria muito triste que uma verdade tão linda e tão sublime se apagasse com a subida de Jesus aos céus. Seria como dizer que cada um deve “dar um jeito” de entrar em contato com a verdade de Cristo. Mas como fazer isso? Seria como dizer: “Ah, não sei. Mas por um ato mágico apareceu entre nós um livro chamado Bíblia, que você interpreta como quiser”. Não foi isso que Nosso Senhor fez. O próprio Jesus nos deu a Igreja, que está fundamentada nos doze Apóstolos, que, por sua vez, são enviados por Cristo ao mundo. Um enviado é uma espécie de embaixador, um vigário.
Em todas as listas de Apóstolos presentes no Novo Testamento, o primeiro deles é Pedro. Isso já mostra que Pedro não é o primeiro entre os seus iguais (primus inter pares); ele é diferente, porque em si mesmo, resume o ministério de todo o colégio apostólico. No ministério de Pedro está uma missão especialíssima, e é esse mistério que hoje celebramos. Essa festa nos mostra que, se os sucessores dos Apóstolos (que são os bispos) são vigários desses Apóstolos e possuem a missão de verdadeiramente continuar o ministério de Cristo, o sucessor de Pedro tem uma missão especial, ele resume em si próprio esse apostolado, sendo o Vigário de Cristo.
Neste ponto, a palavra vigário lança-nos uma luz para entender aquilo que o Papa, de fato, significa para nós. Ser “vigário de Cristo” significa que ele tem um poder que não é dele. Não é dele para que ele o disponha como quiser. É como o bispo em uma diocese: ele tem poder sobre a diocese, mas também há a figura do vigário-geral, que usa um poder que não é seu, mas do bispo. Portanto, o vigário-geral jamais pode usar o poder do bispo contra o próprio bispo.
O mesmo raciocínio se aplica ao Papa. Sendo o vigário de Cristo aqui na terra, cabeça visível da Igreja — que faz as vezes do Cristo invisível, sua verdadeira cabeça —, o Papa possui uma função extremamente ligada a Cristo, de tal modo que ele tem a missão de conservar a presença do Cristo, a palavra do Cristo, o sacramento do Cristo e a Cátedra de Pedro, que constitui o sinal visível de Cristo que ensina.
O Papa é vigário e, desse modo, possui um poder que não é dele. Não é um plenipotenciário que faz da Igreja o que ele quiser, como se fosse um fundador de igreja. Ele é o vigário de Cristo aqui na terra, é um sinal visível de uma cabeça invisível, a de Cristo, aquela que verdadeiramente governa a Igreja. Sendo servo dos servos de Deus, o Papa precisa transmitir a Palavra que o Cristo veio trazer a este mundo. Rezemos então pelo sucessor de Pedro, rezemos para que essa Cátedra continue a ensinar a Igreja como sempre o fez ao longo dos séculos.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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