Com grande alegria celebramos hoje a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Junho é mês do Sagrado Coração. Estamos no auge da celebração maravilhosa do amor com que Deus nos amou. Para celebrar o Sagrado Coração de Jesus, é preciso entender primeiro o que se está celebrando. Todo o mundo sabe que Deus é amor, como diz São João em sua carta. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, a Trindade de amor que no céu iremos contemplar face a face. Acontece que nós, por malícia e maldade de Satanás, caímos numa armadilha. Adão e Eva, no paraíso terrestre, foram enganados pelo diabo: “Deus não é tão bom como pensais. Ele vos proibiu de comer o fruto da árvore porque tem medo de que vos torneis iguais a Ele”. Nesse momento, a serpente mordeu a humanidade. Com o pecado de Adão e Eva, começamos a desconfiar de Deus e de seu amor a nós. Por sua bondade infinita, Deus nos deu Mandamentos, disse-nos o que é o certo e errado, o que nos faz felizes e infelizes; mas nós, em vez de ouvir a voz dele, preferimos ouvir a da serpente. Foi assim que o homem começou a ter medo de Deus. Ele, que tanto deseja passear no nosso coração como passeava outrora com nossos primeiros pais à hora da brisa da tarde, só encontra em nós desconfiança! Como Adão e Eva, escondemo-nos atrás do arbusto do medo. É o que se passa conosco quando temos alguma dificuldade grave (uma doença, um problema de família, uma angústia que nos tira o sono). Se alguém nos diz: “Reze para ser feita a vontade de Deus”, que medo temos! Que medo de fazer a vontade de Deus! “E se o que Ele quiser for ruim?”, diz a voz da serpente a nos morder… Ora, isso é loucura. O que Deus quer não pode ser ruim. A vontade dele é sempre boa. Na verdade, é ótima. Não tem como melhorar. Não podemos pedir melhor coisa do que “seja feita a vossa vontade”. Foi o que Jesus nos ensinou. Na imensidade de sua misericórdia, vendo o medo e a desconfiança do homem, o Filho de Deus quis rebaixar-se, criando para si corpo e alma. A segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que vive no amor do Pai e do Espírito Santo, formou para si um Coração humano para nos amar de uma nova forma. Eis o que celebramos na solenidade Sagrado Coração. O amor infinito de Deus se fez mais próximo de nós por meio de um Coração de carne. “Coração”, é claro, não significa aqui tanto o músculo cardíaco quanto a alma de Cristo e o amor com que Ele nos ama, a ponto de sofrer por nós em sua natureza humana. Deus em si mesmo não sofre, mas quis sofrer assumindo corpo e alma mortais, para que víssemos a loucura do nosso pecado, que tanto o ofende. Se pecamos e alguém nos diz: “Ofendeste a Deus”, quase sempre damos de ombro, dizendo: “Ah! Deus não vai se ofender com uma coisa dessas…”. Mas Cristo se encarnou e sofreu por nós na cruz, a qual grita aos nossos ouvidos: “Vede o que estais fazendo!” Olhemos para o Crucificado — para suas chagas benditas, seu rosto ferido, seu sangue derramado, sua coroa de espinhos, seu peito aberto… É o que fazemos quando pecamos! Quando pecamos, traspassamos o Coração bendito de Jesus com uma lança de perfídia, de ingratidão, de ofensa. Nosso Senhor quer nossa salvação. Ele veio morrer por nós, e nós o que fazemos? Pagamos tanto amor com ingratidão, indiferença e esquecimento…. Essa foi a mensagem que Jesus deu à Santa Margarida Maria de Alacoque ao lhe revelar seu Coração chagado pela lança do soldado: “Vede o meu Coração agonizante, cheio de dor porque só recebe ingratidão e esquecimento”. Celebrar o Sagrado Coração de Jesus é dar-nos conta de que Deus se fez homem para nos amar com imenso amor, e assim finalmente compreendermos o tamanho da nossa ingratidão, do nosso pecado, das nossas ofensas e da nossa perfídia. Por isso, precisamos reparar as dores e sofrimentos causados ao Coração de Nosso Senhor. Se tivéssemos a infelicidade de, num momento de raiva, cuspir no rosto de nossa mãe, o que não faríamos para desagravar a ofensa? De joelhos, diríamos humilhados: “Oh, minha mãe querida, perdoa-me! Não sei onde estava com a cabeça”. Pegaríamos um lenço para lhe enxugar o rosto, cobrindo-o de beijos. Compraríamos um presente, faríamos enfim tudo para que ela esquecesse aquela mágoa, mostrando-lhe nosso arrependimento. Nossa mãe, bondosa, iria se esquecer, desde que visse nossa emenda e mudança de vida… Assim também o Sagrado Coração de Jesus, e muito mais ele, mais amoroso do que a mais amorosa das mães! Que Jesus nos mostre hoje a grandeza do seu amor e a da nossa ingratidão, para que possamos repará-la e viver para amá-lo sempre mais.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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