"Não lhe é dado o nome de virgem, mas a verdade é que foi tão excelsa a sua pureza após a conversão que deveríamos chamá-la 'arquivirgem', tão purificada ela foi na fornalha do amor sagrado e por ele restabelecida numa elevadíssima castidade por forma tal que era tão perfeito o seu amor que, depois da Santa Virgem, era quem mais amava a Nosso Senhor. Pode-se dizer que alcançou um amor de certo modo superior ao dos próprios Serafins, porque estes fruem do amor divino sem esforço e sem esforço o conservam, ao passo que a santa o adquiriu à custa de muitos esforços e cuidados, e o conservou com temor e solicitude. Deus, em recompensa, deu-lhe um amor ardente e firme, acompanhado de grande pureza que, se o divino Esposo lhe angustiava continuamente o coração, também ela feria o dele por ardentes desejos, suspiros e impulsos de amor...
"Por isso é padroeira dos justos, porque nada mais podia fazê-la mais justa que esse amor, acompanhado de uma humildade e uma contrição que a mantinham sempre aos pés do Salvador, que a amava com amor terno e delicado com que ama os justos e por isso não podia sofrer que lhe tocassem ou lhe arguissem dalguma coisa sem tomar o seu partido"
Noutra passagem, São Francisco de Sales volta a tratar de Maria Madalena e confirma com uma palavra encantadora o que acabamos de ver: "O Senhor restabeleceu Santa Maria Madalena na virgindade, a qual por vezes torna-se mais excelsa do que aquela que, não tendo tido mancha alguma, é acompanhada de menos humildade"
E enfim o amável Santo conclui: "Nunca Maria Madalena teria tido tanto amor ao seu Salvador se Ele não lhe tivesse perdoado tanto; e Ele nunca lhe teria perdoado tanto se ela não tivesse pecado tanto. Vede, pois, minha filha, este grande artista da misericórdia: converte as nossa misérias em graças e, da víbora das nossas iniquidades, extrai o remédio salutar para as nossas almas"
- Do livro: "A arte de aproveitar as próprias faltas." por Joseph Tissot
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