domingo, 29 de abril de 2018

29 de Abril - Memória de Santa Catarina de Siena, Doutora da Igreja


Nascida em Siena, na Itália, por volta de 1347, "Catarina ouvira o chamamento de Deus desde a mais tenra infância, numa idade em que, normalmente, só se pensa em brincar". Passava sua infância aproveitando o silêncio e a solidão de sua casa para rezar e, em segredo, flagelar seus ombros com uma corda, por amor a Deus.

"O desejo de isolamento e as lendas dos padres do deserto, que tanto lhe ocupavam a imaginação, levaram-na a sonhar com um gruta solitária onde pudesse esconder-se para entreter-se exclusivamente com Deus". De fato, um dia, cruzando o portão de sua cidade, Catarina saiu à procura de uma dessas grutas onde se escondiam os eremitas. Achando uma, entrou e, pondo-se de joelhos, rezou fervorosamente. Nessa experiência, aconteceu-lhe de "ser levantada do solo e flutuar livremente sob a abóbada". A humilde criança, "temendo tratar-se de uma tentação do diabo para impedi-la de rezar, redobrou de ardor e de firmeza na oração".

A pequena Catarina não se preocupava com as coisas com que normalmente dispendiam seus familiares. Ainda com sete anos, ansiando entregar-se exclusivamente a Deus, sem nenhuma ligação com o mundo aborrecedor dos homens, Catarina suplicou à Virgem Maria que a conservasse casta, a fim de tornar-se esposa de Jesus. "Amo-O com toda minha alma – dizia a Nossa Senhora – e prometo a Ele e a Ti jamais aceitar outro esposo".

Para fugir de seus pais, que queriam vê-la casada, Catarina cortou sua longa cabeleira, sem lhes dizer uma palavra. Para castigá-la, a mãe impediu-a de ter um quarto próprio, pondo-a para viver com o irmão Stefano. Mas nem isso a podia afastar de seu Bem-Amado. "Durante o dia, enquanto Stefano se atarefava no porão diante dos caldeirões da tinturaria, Catarina tinha o aposento só para ela; e à noite Stefano dormia como uma pedra, sem se aperceber das longas vigílias que a irmã passava em oração, a mil léguas deste mundo terrestre". Mais tarde, depois de uma experiente vida de oração, Catarina aconselhava aos seus filhos: "Construí uma cela no fundo de vossa alma e de lá não vos afasteis mais". Parecia prefigurar a bela analogia feita por Santa Teresa de Ávila, ao comparar a alma a um castelo em cujo centro está Jesus.

Visitada em sonho por São Domingos de Gusmão, Catarina tomou a firme resolução de tornar-se "mantelata" – como eram chamadas as leigas da ordem dominicana. Quando comunicou a decisão aos familiares, as reações foram as mais negativas possíveis. O seu virtuoso pai, no entanto, acalmou a todos, com maturidade: "Deixem-na inteiramente livre para servir a seu Esposo e rezar assiduamente por nós. Jamais teríamos sido capazes de proporcionar-lhe tão gloriosa aliança. Não nos lamentemos, pois, se, ao invés de tomar por esposo um homem mortal, ela se entregar ao Deus feito homem, que é eterno".

Voltando a ter um quarto só para si, Catarina entregou-se com assiduidade à vida de penitência. Consciente de que, como ela mesma escreveu mais tarde, "a satisfação se dá pelo amor, pelo arrependimento e pelo desprezo do pecado" e que "os gestos finitos são insuficientes para punir ou satisfazer, sem a força da caridade", unia às suas severas mortificações corporais e a seus rigorosos jejuns um amor filial a Jesus.

Admitida, então, na Ordem Terceira de São Domingos, não demorou muito para que sua vida de virtudes atraísse as pessoas à sua volta. Em torno dela, nota o Papa Bento XVI, "foi-se constituindo uma verdadeira família espiritual. Tratava-se de pessoas fascinadas pela respeitabilidade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e por vezes impressionadas também pelos fenômenos místicos aos quais assistiam, como os frequentes êxtases. Muitos se puseram ao seu serviço e sobretudo consideraram um privilégio ser orientados espiritualmente por Catarina". Daniel-Rops ainda faz notar que, "nesse núcleo de cristãos autênticos, lia-se a Divina Comédia, meditavam-se os místicos e perscrutavam-se os artigos da Suma de São Tomás de Aquino". Todos carinhosamente chamavam Catarina de "dolcissima mamma", pois se consideravam seus filhos espirituais.

Ao lado de uma sólida vida interior, Santa Catarina de Siena desempenhou um papel fundamental na história da Igreja, ao pedir ao Papa Gregório XI o fim do terrível "grande cisma do Ocidente". Ela exortou o Sumo Pontífice a sair do exílio em Avinhão e voltar para Roma, a fim de devolver a unidade ao povo católico. Fê-lo por amor à Igreja, ao Papa – a quem chamava de "doce Cristo na terra" – e aos sacerdotes – que ela tinha em altíssima conta, mesmo consciente de suas faltas humanas. Sobre esses, ela escrevia, repetindo palavras do próprio Senhor:

"Os ministros são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: 'Não toqueis nos meus cristos' (Sl 105, 15). (...) Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros.
Não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. (...) Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: 'Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos'!"

Com seus ensinamentos, Catarina não só pedia a volta do clero à pureza dos costumes, mas também o respeito devido aos sacerdotes pelo caráter que receberam no sacramento da Ordem. Quando se procura os sacerdotes para receber os sacramentos ou quando se beija as suas mãos ungidas, não se faz isso "por eles mesmos", mas pelo poder que Deus lhes deu de trazer à humanidade a Eucaristia e a remissão dos pecados.

Ao fim de sua vida, a santa de Siena configurou-se inteiramente a Nosso Senhor, sendo coroada com os santos estigmas. Ela –"que era capaz de não tomar, durante cinquenta e cinco dias, outro alimento senão uma hóstia" – converteu-se em um milagre vivo de Deus. Por isso, ainda em 1461, menos de um século depois de seu nascimento para o Céu, foi canonizada pelo Papa Pio II.


"Nunca, ao longo da sua breve existência, se rompeu o seu contato com Aquele que a chamava pelo nome", escreveu Daniel-Rops. E, agora, na Pátria Celeste, nada mais pode romper os laços tão estreitos que unem o seu coração ao Sagrado Coração de Jesus. Que a sua intercessão nos torne fiéis e perseverantes na oração e na penitência e fortaleça os nossos laços com a Igreja triunfante, de cuja plenitude pretendemos, com a graça de Deus, participar.

Santa Catarina de Siena, rogai por nós!

Fonte: Padre Paulo Ricardo

sábado, 28 de abril de 2018

28 de Abril - Memória de São Luís Maria Grignion de Montfort



São Luís, praticava sacrifícios pela salvação das almas

Neste dia, nós contemplamos o fiel testemunho de Luís que, ao ser crismado, acrescentou ao seu prenome o nome de Maria, devido sua devoção à Virgem Maria, que permeou toda sua vida.

Nascido na França, no ano de 1673, de uma família muito numerosa, ele sentiu bem cedo o desejo de seguir o sacerdócio e assim percorreu o caminho dos estudos.

Como padre, São Luís começou a comunicar o Santo Evangelho e a levar o povo, através de suas missões populares, a viver Jesus pela intercessão e conhecimento de Maria. Foi grande pregador, homem de oração, amante da Santa Cruz, dos doentes e pobres; como bom escravo da Virgem Santíssima não foi egoísta e fez de tudo para ensinar a todos o caminho mais rápido, fácil e fascinante de unir-se perfeitamente a Jesus, que consistia na consagração total e liberal à Santa Maria.

São Luís já era um homem que praticava sacrifícios pela salvação das almas, e sua maior penitência foi aceitar as diversas perseguições que o próprio Maligno derramou sobre ele; tanto assim que foi a Roma para pedir ao Papa permissão para sair da França, mas este não lhe concedeu tal pedido. Na força do Espírito e auxiliado pela Mãe de Deus, que nunca o abandonara, São Luís evangelizou e combateu na França os jansenistas, os quais estavam afastando os fiéis dos sacramentos e da misericórdia do Senhor.

São Luís, que morreu em 1716, foi quem escreveu o “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, que influencia ainda hoje, muitos filhos de Maria. Influenciou inclusive o saudoso Papa João Paulo II, que por viver o que São Luís nos partilhou, adotou como lema o Totus Tuus, Mariae, isto é, “Sou todo teu, ó Maria”.

São Luís Maria Grignion de Montfort, rogai por nós!



Fonte: Canção Nova

quarta-feira, 25 de abril de 2018

25 de Abril - Festa de São Marcos, Evangelista



Celebramos hoje a festa de São Marcos, evangelista e ajudante de São Pedro, príncipe dos Apóstolos, a quem serviu de tradutor e intérprete em língua grega e cuja pregação entre os gentios, sobretudo os de Roma, constitui a matéria do segundo Evangelho canônico. De fato, sabemos por inúmeros testemunhos antigos (cf., por exemplo, Eusébio de Cesaréia, Hist. Eccl. II, 15; III, 39) que Marcos, a quem os escritos dos Novo Testamento aludem também com o nome de João (cf. At 12, 12.25; 13, 5.13; 15, 37ss), foi discípulo e companheiro apostólico de Pedro (cf. 1Pd 5, 13), cujas palavras e sermões, referentes à doutrina e à vida de Cristo, pôs diligentemente por escrito. Nisto se destaca uma das tantas virtudes em razão das quais a Igreja o venera e propõe à imitação dos fiéis, a saber: sua fidelidade à fé apostólica. Fidelidade essa, no entanto, em que ele — como todos os outros santos — teve de amadurecer e ser provado. Uma antiga tradição, com efeito, identifica-o com o jovem coberto de pano de linho a que ele mesmo se refere em seu Evangelho, ao narrar a prisão de Jesus (cf. Mc 14, 51). Aquele medroso adolescente, que fugiu tão logo prenderam o Senhor, venceu pouco a pouco, com a ajuda da graça, seus temores e receios humanos, até o ponto de tornar-se secretário do primeiro Papa e, já ancião e maduro na fé, patriarca da igreja de Alexandria (cf. Eusébio de Cesaréia, Hist. Eccl. II, 16; S. Jerônimo, De vir. ill., 8), onde selou com o próprio sangue sua fidelidade a Cristo, nosso Salvador. Que São Marcos, do alto de sua cátedra no céu, interceda a favor de toda a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, assistindo-a com seu patrocínio e enriquecendo-a ainda hoje com os frutos de sua pregação.

Fonte: Padre Paulo Ricardo


segunda-feira, 23 de abril de 2018

23 de Abril - Memória de São Jorge


Neste dia 23 de abril, a Igreja Católica faz memória de São Jorge, um soldado que morreu como mártir durante as perseguições do Império Romano aos primeiros cristãos.

Embora sua principal glória esteja nesse fato histórico praticamente inconteste, o episódio mais conhecido de sua biografia é a vitória que ele alcançou sobre um “dragão” — e sobre a qual o mais completo registro que temos é o que vai abaixo transcrito.

Por trás desta história fantástica, encontra-se, como deve ser, uma lição espiritual. São Jorge libertou o povo de um “dragão” não simplesmente para livrá-lo da agonia e da morte físicas, senão para conduzi-lo à verdadeira fé. Por causa de sua vitória — diz a tradicional história contida na Legenda Áurea —, “20 mil homens foram batizados, sem contar mulheres e crianças”.

Por isso, ao invocarmos a proteção deste santo mártir, devemos fazê-lo da maneira correta, desprezando superstições que nada têm a ver com a doutrina católica e pedindo, além disso, o único bem que verdadeiramente importa: nossa salvação eterna.

Agora, se São Jorge derrotou mesmo um animal grande e aterrorizante, como um “dragão”, não é possível dizer com segurança. A origem da história a seguir é obscura e é praticamente impossível comprovar-lhe a veracidade. De qualquer modo, a Enciclopédia Católica garante: não há motivos para duvidar da existência deste santo, tão cheio de devotos desde os primeiros séculos da Igreja; sejam quais forem as batalhas que travou em vida, bem-aventurado Jorge é um desses tantos santos antigos “cujos nomes são reverenciados com justiça pelos homens, mas cujas ações só por Deus são conhecidas”.

Jorge, soldado nascido na Capadócia, foi certa vez a Silena, cidade da província da Líbia. Ali perto havia um lago, grande como um mar, no qual se escondia um pestífero e enorme dragão, que muitas vezes afugentou o povo armado que tentara atacá-lo.

Para acalmá-lo e impedir que se aproximasse das muralhas da cidade, incapazes de afugentar seu hálito empesteado, que matava muita gente, os habitantes davam-lhe todos os dias duas ovelhas. Quando começou a não haver ovelhas em quantidade suficiente, o conselho municipal decidiu que se daria uma ovelha e um humano, sorteando-se para tanto rapazes e moças, sem excetuar ninguém. Depois de algum tempo também faltou gente, e o sorteio designou a filha única do rei para ser entregue ao dragão.

Contristado, o rei propôs: “Tomai todo meu ouro e prata, a metade de meu reino, mas não deixeis minha filha morrer assim.” Furioso, o povo respondeu: “Foste tu, ó rei, quem promulgaste este edito, e agora que todos os nossos filhos estão mortos, queres salvar a tua filha? Se não fizeres com tua filha o que ordenaste para os outros, queimaremos a ti e a tua casa.”

Ao ouvir essas palavras, o rei pôs-se a chorar a própria filha, dizendo: “Ai, infeliz de mim! Ó minha meiga filha, o que posso fazer por ti? O que te posso dizer? Nunca poderei ver-te casada?” E, voltando-se para o povo, disse: “Eu vos imploro, dai-me ao menos oito dias para chorar minha filha.”

O povo aceitou, mas ao cabo de oito dias dirigiu-se, furioso, ao rei: “Preferes perder teu povo que tua filha? Estamos todos morrendo por causa do sopro do dragão.” Então o rei, vendo que não podia livrar a filha, fez com que ela vestisse trajes reais e beijou-a entre lágrimas, dizendo: “Ai, infeliz de mim! Minha doce filha, de teu ventre eu esperava netos de estirpe real, e agora estás prestes a ser devorada pelo dragão.” Ele a beijou e a deixou partir, dizendo: “Ó minha filha, queria antes ter morrido do que perder-te assim!” Ela então se jogou aos pés de seu pai para pedir a bênção, e depois de abençoada em lágrimas dirigiu-se para o lago.

O bem-aventurado Jorge passava casualmente por lá e, vendo-a chorar, perguntou-lhe a razão. Ela respondeu: “Meu bom rapaz, monta depressa em teu cavalo e foge, se não quiseres morrer como eu.” Jorge replicou: “Não tenhas medo, minha filha, e dize-me o que toda aquela gente procura ver.”

Ela respondeu: “Vejo que és um bom rapaz, de coração generoso, mas queres morrer comigo? Foge! Depressa!” Jorge então disse: “Não irei embora antes que me contes o que está acontecendo.” Depois que a moça explicou tudo, Jorge disse: “Não temas nada, minha filha, porque em nome de Cristo vou ajudar-te.” Ela replicou: “És um bom cavaleiro, mas salva-te imediatamente, não pereças comigo! Basta que eu morra sozinha, porque tu não me poderias livrar e pereceríamos juntos.”

Enquanto conversavam, o dragão pôs a cabeça para fora do lago e foi se aproximando. Toda trêmula, a moça falou: “Foge, meu bom senhor, foge depressa.” Jorge montou imediatamente em seu cavalo, protegeu-se com o sinal da cruz e com audácia atacou o dragão que avançava em sua direção. Brandindo a lança com vigor, recomendou-se a Deus, atingiu o monstro com força, jogando-o ao chão, e disse à moça: “Coloca sem medo teu cinto no pescoço do dragão, minha filha.” Ela assim o fez, e o dragão seguiu-a como um cãozinho muito manso.

Quando ela chegou à cidade, à sua vista todo o povo pôs-se a fugir gritando: “Ai de nós, logo todos vamos morrer!” Mas o beato Jorge disse-lhes: “Nada temais! O Senhor me enviou para que eu vos libertasse das desgraças causadas por esse dragão. Crede em Cristo e recebei o Batismo, que eu matarei o dragão.”

Então o rei e todo o povo foram batizados, e o bem-aventurado Jorge desembainhou a espada e matou o dragão, ordenando depois que o levassem para fora da cidade. Quatro pares de bois arrastaram-no para campo aberto.

Neste dia, 20 mil homens foram batizados, sem contar mulheres e crianças

Fonte: Padre Paulo Ricardo

domingo, 22 de abril de 2018

O Bom Pastor é o Cordeiro Imolado


“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”: com essas palavras, Nosso Senhor fala de si próprio e faz, ao mesmo tempo, uma “radiografia” do que deve ser todo sacerdote católico e pai de família. Pastor verdadeiro não é simplesmente quem manda, mas também quem se oferece, como vítima, por todos que Deus confiou à sua responsabilidade.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 10, 11-18)


Naquele tempo, disse Jesus: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; essa é a ordem que recebi do meu Pai”.

Meditação. — 1. Jesus preparou os seus discípulos para serem “bons pastores” e derramarem o próprio sangue pela salvação de suas ovelhas. Foi assim que esses homens, inicialmente covardes, que negaram Jesus, puderam caminhar bravamente ao martírio; transformados pela graça e o exemplo do verdadeiro “Bom Pastor”, eles mesmos seguiram os seus passos e, como diz São Pedro, viveram para a justiça (cf. 1Pd 2, 24). “Justiça”, nesse contexto, quer dizer “santidade”. Os discípulos foram santos pastores porque caminharam nas pegadas do verdadeiro pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas.

No Evangelho da Missa deste domingo, o tradicional Domingo do Bom Pastor, vemos esse retrato de pastor bondoso, que se sacrifica pelo rebanho, em contraposição ao mercenário, que age apenas pelo dinheiro e abandona as ovelhas ao menor sinal de perigo. Este é movido por interesses egoístas e deseja satisfazer a própria carne, ao passo que aquele age na caridade, pois “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13).

Jesus entregou-se por seus amigos na cruz, redimindo-os de suas misérias e conferindo-lhes uma vida nova — vida em abundância — para que, uma vez convertidos, fizessem o mesmo pelos outros. “Também Cristo padeceu por vós”, recorda São Pedro, “deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos”. E no que consistiu esse exemplo? São Pedro responde assim: “Ele não cometeu pecado, nem se achou falsidade em sua boca. Ele, ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado, não proferia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1Pd 2, 21-23). Com que constrangimento e gratidão São Pedro não deve ter escrito essas linhas? Ele mesmo, em cuja boca se encontrou falsidade um dia, exorta-nos agora ao arrependimento e a caminhar com Jesus na via da caridade.

Na verdade, o modelo de pastor proposto por Jesus é o do cordeiro imolado, como indica São João no livro do Apocalipse: “Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (7, 16). O Bom Pastor é uma vítima.

2. Todo cristão é chamado a ser pastor, segundo o seu próprio estado de vida, e deve sacrificar-se pelas suas ovelhas. Quando Jesus foi entregue aos algozes, cumpriu-se a profecia de Zacarias: “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas” (Mt 26, 31). A princípio, somos essas ovelhas desgarradas e errantes. E nós, que um dia saímos fugindo, olhamos agora para a cruz de Cristo e para a sua glória e podemos retornar, podemos nos converter, de modo que, pela sua graça, podemos também ser essas vítimas de expiação que atraem de volta ao redil as ovelhas perdidas da Casa de Israel. O pastor é um ponto de unidade, sem o qual se perde toda referência.

Em sentido estrito, apenas os bispos e presbíteros têm o sacerdócio ordenado e exercem a função de supervisionar as ovelhas. A palavra epíscopos quer dizer exatamente isto: vigia. Mas os demais fiéis leigos têm o chamado sacerdócio batismal e devem exercê-lo como verdadeiros pastores e cordeiros imolados. O pai e a mãe de família precisam sacrificar-se totalmente um pelo outro e por seus filhos, santificando-os dia a dia. Aquele que não quiser viver esse sacrifício acabará em uma vida extremamente egoísta e vazia, pois não dará frutos.

3. O sacerdote é a vítima por excelência, e essa realidade deveria ser a sua marca inconfundível. O celibato, por exemplo, é um desses sinais distintivos de imolação e dedicação total dos padres às ovelhas do Senhor. O padre não é um funcionário da Igreja — como no caso dos pastores protestantes —, mas uma vítima imolada. A batina “é sinal exterior de uma realidade interior: ‘efetivamente, o presbítero já não pertence a si mesmo, mas, pelo selo sacramental por ele recebido é ‘propriedade’ de Deus’” (Diretório para o Ministério e a vida dos presbíteros, II, n. 61). Daí o contratestemunho que muitos seminaristas e padres dão ao usarem o hábito eclesiástico apenas como um traje de gala. A batina deveria falar da sua imolação, não do seu poder aquisitivo.

Infelizmente, há um número grande de sacerdotes que perderam o sentido do sacrifício. E se o padre não é vítima, ele, de fato, age segundo uma estrutura de poder opressora. Esses padres que fazem do sacerdócio um status social acabam reproduzindo um estilo de vida contrário ao Evangelho, e não é espantoso que terminem desistindo da missão. Se o sacerdote não morre por ninguém, o seu ministério perde o sentido.

O padre deve, acima de tudo, ser um pai. Trata-se de uma questão de maturidade humana e espiritual. Que grande serviço não fazem, pois, as chamadas “mães espirituais” que rezam pelos sacerdotes, a fim de que Deus e Nossa Senhora os sustente em sua missão! Os sacerdotes mantêm-se de pé quando são sustentados pelas preces do seu rebanho, de modo que eles se unem como uma verdadeira família espiritual.

Peçamos, portanto, à Virgem Santíssima que nos ensine a ser bons pastores, pastores que dão a vida pelas suas ovelhas.

Oração. — Ó Jesus, meu bom pastor e guia, dirigi meus caminhos para que, fortalecido por vossa graça, eu também seja capaz de dar a vida pelas minhas ovelhas, como um cordeiro imolado.

Propósito. — Rezar todos os dias um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Glória pelos sacerdotes de minha paróquia e por todos aqueles que se encontram em crise no próprio ministério.

Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-bom-pastor-e-o-cordeiro-imolado

quinta-feira, 12 de abril de 2018

As aparições de Nossa Senhora em Tre Fontane, Roma - A Virgem da Revelação

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No sábado depois da Páscoa, 12 de abril de 1947, o condutor de bonde Bruno Cornacchiola, de 34 anos, achava-se livre de serviço depois do meio-dia e queria aproveitar aquela linda tarde de primavera para fazer uma excursão a Ostia com seus três filhos, mas como perderam o trem, resolveram ir até Tre Fontane. Bruno conhecia muito bem o lugar com seu bosque de eucaliptos, silencioso e tranquilo, longe do ruído da grande cidade de Roma.

Bruno havia lutado na Espanha, como legionário, a favor dos comunistas, e fazia cinco anos que abandonara a religião católica seguindo primeiro a doutrina dos batistas e depois a dos adventistas.

Era fervoroso propagandista de sua crença, e lia com assiduidade a Bíblia protestante, à procura de textos que pudesse utilizar em ataques contra a Igreja Católica.

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Bruno e sua família

Naquele fim de semana, Bruno se entretinha, em Tre Fontane, em formular ideias para uma conferência contra a virgindade da Santíssima Virgem.

Lia, apontando no papel os pensamentos para a conferência que devia ser lida no dia seguinte, enquanto seus filhos continuavam a brincar de futebol com uma bolinha de borracha, à sombra do bosque de eucaliptos. Súbito, o seu trabalho é interrompido: Isola, de 10 anos, e Carlos, de 7, gritam:

“Papai, papai, perdemos a nossa bola! Perdemos a nossa bolinha! ” Bruno sai à procura da bola em companhia das crianças, depois de ter dito a Gianfranco, de 4 anos, que ficasse ali numa gruta situada na parte mais alta do bosque, olhando as revistas infantis ilustradas.

Os três percorrem então o mato à procura da bola; mas, como o filhinho mais

Moço não respondesse mais, como antes, à voz do pai, dirigiu-se este, muito preocupado, para a gruta, à entrada da qual encontrou, com grande espanto, o pequeno Gianfranco ajoelhado, as mãos postas, repetindo sempre, a sorrir: “Bella Signora! Bella Signora! ”

A atitude católica de oração da criança era inteiramente contrária aos costumes da família Cornacchiola. Além disso, o menino nem era batizado. O pai chamou Isola, que se encontrava acima da gruta, e perguntou a ela e a Carlos, que se achava ao lado: “Vocês estão vendo alguma coisa na gruta? ” “Não, papai! ”, responderam.

Mas, no mesmo instante, Isola cai de joelhos e, de mãos postas como o irmãozinho, repete: “Bella Signora! Bella Signora!…” E também Carlos se ajoelha e balbucia como que extasiado: “Bella Signora! Bella Signora!…”

Bruno sacode as crianças, porém elas continuam na mesma posição, com os rostos pálidos, mas inteiramente espiritualizados, e os olhos muito abertos, fixos em um mesmo ponto da gruta.

Bruno é, no fundo, de natureza religiosa, crê em Deus, crê em Cristo e também no demônio. Temendo que os filhos estivessem sob o influxo demoníaco, rezou do fundo do coração: “Senhor, salvai-nos! ”

Foi como se mãos invisíveis o tivessem sacudido, e que alguém lhe tivesse arrancado a venda que lhe cobria os olhos. (Tudo isso ele mesmo narrou ao Sr. Lacatelli, colaborador do Giornale d’Itália.) Súbito, Bruno se sente leve como uma pena. Da gruta sombria não vê mais nada, a não ser que lhe parece inundada de luz deslumbrante, e naquela claridade excelsa Bruno vê uma encantadora figura de mulher, verdadeira formosura oriental, como se expressou ele, de 1,65m de altura conforme lhe pareceu.

Os pés nus pousavam sobre um bloco de pedra, atualmente conservado no vizinho convento dos trapistas. O corpo da celestial aparição está envolto numa túnica branca, presa por uma faixa rósea. Da cabeça, desce-lhe um manto verde até os pés. Na mão direita segura um livrinho cinzento. A esquerda aponta para baixo, indicando uma veste negra (batina?) No solo; perto havia uma cruz quebrada.



Bruno Cornacchiola disse ouvir uma voz a nenhuma outra semelhante, pelo tom e pelo modo como lhe falava:

“Sou aquela que está na Trindade Divina. Sou a Virgem da Revelação. Tu me persegues. Mas agora basta! Entra no santo redil, a corte celeste na terra. O Deus prometido é e fica imutável. Às nove sextas-feiras que praticastes antes de te desviares do caminho da verdade, deves a tua salvação… Deve-se rezar o rosário diariamente pela conversão dos pecadores e dos incrédulos e pela união entre os cristãos. Com esta terra de pecados operarei muitos milagres pela conversão dos pecadores. Para mostrar-te que esta visão é divina e não arte diabólica, como muitos hão de pensar, dou-te este sinal: deves andar pelas ruas e igrejas de Roma, e, ao primeiro sacerdote que encontrares, dirás: “Padre, quero falar-lhe”. E se ele te replicar: Ave Maria, filho, que desejas? dirás o que te vier à boca. Este indicará outro sacerdote, que receberá a tua abjuração e se ocupará de ti. Sê prudente… A ciência renegará a Deus."

"Quando fores levar a mensagem secreta ao Santo Padre, serás acompanhado por
outro sacerdote”. 

De fato, alguns dias depois, em 28 de abril, verificou-se a previsão.

Ao entrar na igreja de Todos os Santos, administrada por um dos filhos espirituais de dom Orione, se dirige ao Pe. Albino Frosi:

– Permita, padre, que lhe diga uma palavra…

– Ave Maria, filho, que desejas? Respondeu o Pe. Frosi.

– Sou protestante, mas quero tornar-me católico.

– Apresentá-lo-ei a quem melhor o atenda, retorquiu o padre.

Cumpriu-se à risca o sinal dado pela Senhora. O Pe. Frosi apresentou-o ao seu colega Pe. Gilberto Carniel, acostumado a tratar com convertidos.

Desde o dia 12 de abril, Bruno tornou-se outro homem, e essa conversão completa de um apóstata foi o primeiro milagre de graça operado em Tre Fontane. Bruno procurou reparar, segundo suas forças, o escândalo que havia dado e suportou pacientemente toda sorte de agravos.

Todas as vezes que podia, dirigia-se à gruta para rezar, e nos dias 6, 23 e 30 de maio foi agraciado com novas visões. Depois de receberem a necessária instrução, Bruno e sua mulher foram novamente admitidos no seio da Igreja Católica, no dia 7 de maio. Em 18 de maio, Gianfranco recebia o batismo, e Isola, a crisma e a primeira comunhão.

Na aparição de 30 de maio, Nossa Senhora enviou por meio de Bruno uma mensagem às irmãs Filipinas, que naquela região se dedicavam à educação da juventude. Que rezassem pela conversão dos incrédulos, principalmente pelos incrédulos do bairro.

Em 05 de maio de 1947, enquanto seu arrependido filho de joelhos, agradecia por todas as graças recebidas, Nossa Senhora apareceu sorrindo, porém nada falou. Na gruta ocorreram ainda outras aparições para ele. Em uma delas a Santíssima Virgem pediu:

“Neste lugar, quero ter um Santuário e ser venerada com os novos títulos: Virgem da Revelação e Mãe da Igreja. A Minha Casa deve estar aberta para todos, a fim de que possam entrar nela, a Casa do socorro, e se converterem. Os sedentos e confusos virão aqui para rezarem e encontrarem o sentido da vida”.

A gruta atualmente

A expressão “Virgem da Revelação” que Nossa Senhora usou é, conforme a suposição de Locatelli, uma alusão à “Misteriosa Revelação”, o Apocalipse, e uma indicação de que atualmente vivemos nos tempos apocalípticos, e visto que, como protestante, Bruno Lia outra Bíblia, é bem provável que o livro que Nossa Senhora segura na mão direita signifique a Bíblia católica.

O encontro com Pio XII e o aviso anos antes


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A Serva de Deus Luigina Sinapi

O encontro com o papa Pio XII ocorreu em 09 de dezembro de 1949 para o entrega da mensagem. O santo padre acolheu a tudo com total crença, pois já tinha conhecimento através de Luigina Sinapi, que falaremos a seguir, do que aconteceria com Bruno. Inclusive foi sua Santidade que abençoou a primeira imagem da Mãe de Deus colocada na gruta.

Nossa abençoada gruta do parque tré fontane, de Roma em 1937, ou seja, dez anos antes da Aparição a Bruno, a Santíssima Virgem Maria apareceu a Luigina Sinapi, e disse-lhe:

“Eu retornarei a esse lugar para converter um homem que lutará contra a Igreja de Cristo, e desejará assassinar o Santo Padre. Vai agora à Basílica de São Pedro e lá encontrarás uma religiosa que te fará conhecer o seu irmão, que é um cardeal. A ele deves levar a mensagem. Deverás dizer ao cardeal que logo mais ele será o novo papa”.

O cardeal Eugênio Pacelli, futuro papa Pio XII, após inteirar-se dos fatos, através de sua irmã, afirmou: “Se são flores, florirão...” Depois disso, e a confirmação da profecia de Nossa Senhora, o papa Pio XII recebeu Luigina por diversas vezes. A Mãe de Deus também a Luigina deixou muitas mensagens. Em uma delas, disse:

“Eu sou a Mãe de Deus, e por isso a Mãe de todos os homens; e também tua. Sofra e expie por todos os povos. Eu vos levarei a todos, com o Meu amor, a Jesus. Para aqueles que tu me confiaste, Eu digo: Sede fortes e tomai os sofrimentos com mais amor. Os homens devem compreender que os sofrimentos preparam para as graças...”

Inúmeros são os milagres que se operam por meio da terra da gruta, por intercessão da Santíssima Virgem Maria.
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Bruno Cornacchiola

Concluímos, pedindo para que todos façam a devoção as nove primeiras sexta-feiras do mês, em honra ao Sagrado Coração de Jesus, pois o Deus Misericordioso e fiel não esquecerá. Também os nove primeiros sábados serão inesquecíveis no Imaculado Coração de Maria.

Fontes: http://www.derradeirasgracas.com/4.%20Apari%C3%A7%C3%B5es%20de%20N%20Senhora/Nossa%20Senhora%20em%20Tre%20Fontane.htm e https://blog.cancaonova.com/queluz/nossa-senhora-da-revelacao/

quarta-feira, 11 de abril de 2018

11 de Abril - Memória de Santa Gemma Galgani, a virgem de Lucca

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Santa Gemma Galgani em sua breve peregrinação por esta terra deixou-nos um exemplo de sua intensa vida espiritual se oferecendo a Deus como vítima de expiação pelos pecados dos homens. No participar da paixão ela deseja ajudar Jesus nas suas dores. Se cria assim um pacto de amor em modo tal que Jesus a possa oferecer ao Pai como vítima de amor por todos os pecadores.

Foi assim favorecida por toda sorte de carismas, como os estigmas da Paixão, a coroa de espinhos, a flagelação e o suor de sangue. Teve freqüentes êxtases, espírito de profecia, discernimento dos espíritos e visões de Nosso Senhor, de sua Mãe Santíssima, de São Gabriel e da Virgem Dolorosa, e uma incrível familiaridade com o Anjo da Guarda.

Foi constantemente atacada pelo demônio, que lhe aparecia em forma humana ou de animais. Enfim, teve o matrimônio místico com Nosso Senhor Jesus Cristo e morreu como vítima expiatória pelos pecados do mundo.

“Toda a vida de Gemma foi em síntese uma vida de união com Deus, de sofrimento com Jesus Cristo e de zelo ardente pela salvação das almas. No trabalho e no estudo, à mesa e nas conversas, no passeio e até no sono, Deus não se afasta um ponto de sua mente”.

A figura mística de Santa Gemma Galgani continua a fascinar pela sua única experiência espiritual que nos permitiu de conhecer a vontade de Deus. Uma experiência que ainda hoje pode aquecer o coração e iluminar a nossa mente.

De uma pureza angelical e enorme devoção a Nossa Senhora, essa jovem participou, de modo místico, de praticamente todos os atos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. É por assim dizer, uma teóloga simples, imediata e rica de humanidade, sem o uso daquelas grandes palavras tanto queridas aos Teólogos.

Dos escritos da mística se pode perceber uma linguagem simples, pobre, que permite, apesar da extrema simplicidade, de compreender e reviver a sua singular experiência com Jesus Cristo.



Pergunta Gemma.

- Quem te matou, Jesus?

Jesus, responde

- O amor. (II 82).



O amor a que se refere Gemma não é somente uma emoção, mas um Amor doado por Cristo através da Sua palavra, e ela se deixa tanto levar como discípula de colocar-se e sentir-se como ele.

Diversas vezes perguntei a Jesus que me ensine o verdadeiro modo de amá-lo, e então Jesus parece que me faça ver as suas Santíssimas chagas abertas. (I,15). Das suas "cartas" se entende todo o seu imenso amor por Cristo, amor que raramente se pode encontrar na mesma intensidade em outros Santos.

Esta é a sua missão, salvar os pecadores, não com a palavra ou com o ensinamento, mas com a vida, com a participação à Paixão de Jesus.

Através dessa graça mariana, descobre o significado místico da virgem aos pés da Cruz e doa a Maria a sua própria alma. Da sua parte, Maria prepara a Santa à graça da estigmatização.


Gemma com a oferta da sua vida concluiu a missão que Deus lhe havia confiado, amando-o com todo o seu ser. Porém, apesar de tudo, Gemma não pode revestir o hábito de consagrada a Deus e isto representou, sem dúvida, a maior desilusão da sua vida, mas consumiu a sua união de amor com Jesus Crucificado no mundo, na normalidade da vida laical. Um sinal evidente que esta estrada pode ser percorrida por todos nós.

A Personalidade de Gemma


A sua personalidade era de asceta: Caminhava descalça e sem meias, inclusive de inverno. Usava o cilício até quando não lhes foram proibidos. Nela existem todos os ingredientes de uma Santa Estigmatização como Padre Pio, cheia de amor como Santa Teresa de Lisieux. A seguir se pode encontrar tudo aquilo que se pode fazer arder o coração.

Atrás de uma aparência normal se esconde uma Santa extraordinária. Uma mística em contínuo e afetuoso dialogo com Jesus. Uma contemplativa que reza com a simplicidade de uma moça e a profundidade de um teólogo.

Supera as mais terríveis dificuldades deixando-se guiar pelo seu Anjo da Guarda. Desde moça mantém a alma cândida com a firme intenção de uma vida imaculada.

O Nascimento de Gemma.

Gemma Galgani nasceu a 12 de março de 1878 em Camigliano, um vilarejo situado perto de Lucca, na Itália. Gema em italiano significa jóia. Seu pai era um próspero químico e descendente do Beato João Leonardi. A mãe de Gema era também de origem nobre. Os Galgani eram uma família católica tradicional que foi abençoada com oito filhos.



           

A Santidade na Infância.

Gema, a quinta a nascer e a primeira menina da família, desenvolveu uma atração irresistível pela oração enquanto ainda era muito pequena. Esse carinho pela oração lhe veio de sua piedosa mãe, que lhe ensinou as verdades da Fé da Igreja Católica. Foi a sua mãe que infundiu em sua preciosa alma o amor pelo Cristo Crucificado. A jovem santa aplicou-se com zelo à devoção.

Quando a mãe de Gema tinha de se ocupar com suas tarefas diárias de dona-de-casa, a pequena Gema puxava a saia da mãe e dizia: “Mamãe, conte-me um pouco mais sobre Jesus”.


Certo dia, por exemplo, tendo apenas quatro anos de idade, ajoelhou-se diante de um quadro do Coração de Maria na casa da avó paterna. Com as mãozinhas postas, ficou absorta rezando. A avó, passando pelo aposento, ficou encantada com o espetáculo, e correu a chamar seu filho para que também o visse. Este, depois de ter contemplado detidamente aquela oração, não achou nada melhor do que interrompê-la:

— Gema, o que está fazendo? Perguntou-lhe.

Como quem sai de um êxtase, a menina olhou-o e respondeu com a maior seriedade:

— Estou rezando a Ave-Maria. Saia, que estou em oração.

Quando Gemma tinha apenas cinco anos, ela lia o Ofício de Nossa Senhora e o Ofício dos Defuntos no Breviário com tanta facilidade e rapidez quanto um adulto.

Infelizmente, a mãe de Gema deveria morrer em breve. No dia em que Gema recebeu o Sacramento da Confirmação, enquanto rezava ardentemente na missa pela recuperação de sua mãe (a Senhora Galgani estava gravemente doente), ela ouviu uma voz em seu coração que dizia, « Tu me darás a tua mãezinha ? »

“Sim," respondeu Gema, “contanto que Tu me leves também.”

“Não," replicou a voz, "dá-Me a tua mãe sem reservas. Por ora, tu deves esperar com o teu pai. Vou te levar para o céu mais tarde.”

Gema simplesmente respondeu “Sim”.

Este “sim” seria repetido ao longo de toda a breve vida de Santa Gema, como resposta ao convite de Nosso Senhor para que ela sofresse por Ele.

A Perda da Mãe.

Sua Mãe morreu quando Gemma tinha apenas 7 anos de idade. Como fizeram outros santos, pediu à Santíssima Virgem que a substituísse. A partir daí, sua devoção à Mãe de Deus tornou-se mais terna. Ela a invocava sempre com o carinhoso apelativo de “mamãe”.



 

Após a morte da sua querida mãe, Gema foi enviada pelo pai para um semi-internato católico em Lucca, dirigido pelas Irmãs de Santa Zita. Mais tarde, refletindo sobre seus dias na escola, Gema disse: “Eu comecei a ir à escola das Irmãs, eu estava no Paraíso”. Ela era excelente em francês, aritmética e música e em 1893 ganhou o grande “Prêmio de Ouro” por conhecimento religioso. Uma de suas professoras na escola resume melhor tudo isso, dizendo: “Ela (Gema) era a alma da escola”. Gema tinha se preparado arduamente para sua Primeira Comunhão. Ela costumava implorar: “Dá-me Jesus... e verás quão boa eu serei. Eu vou mudar bastante. Não vou cometer mais nenhum pecado. Dá-me Jesus. Eu o desejo tanto, e não posso viver sem Ele.”Com nove anos (o que era mais cedo do que de costume) foi-lhe permitido receber sua primeira comunhão. Com a permissão de seu pai, ela foi ao convento local por dez dias para preparar-se dignamente para esse acontecimento solene. O seu dia chegou finalmente a 20 de junho de 1887, na festa do Sagrado Coração de Jesus. Com suas próprias palavras, ela assim descreveu o seu primeiro encontro íntimo com Cristo no Santíssimo Sacramento: “É impossível explicar o que se passou então entre mim e Jesus. Ele se fez sentir, oh tão fortemente, na minha alma.”


Erico Galgani


O acontecimento mais marcante que se seguiu na vida de Santa Gema foi quando seu pai morreu em 1897. Como conseqüência de sua extrema generosidade, da falta de escrúpulos de seus interlocutores nos negócios e problemas com credores, os filhos foram deixados sem nada e não tinham nem mesmo meios de sobreviver. Gema tinha apenas dezenove anos, mas já tinha uma grande experiência em carregar a cruz.

Gema afirma em sua autobiografia: “Morto papai, nos encontramos sem nada, carecendo absolutamente de meios de vida”.
Santa Gema padeceu muitos sofrimentos não só morais, mas também físicos.


Curada por um Milagre.


Gema começou cedo a ficar doente. Ela desenvolveu uma curvatura na espinha. Uma meningite também deixou-a temporariamente surda. Grandes abscessos se formaram em sua cabeça, seus cabelos caíram e finalmente ela teve paralisia nos membros. Um médico foi chamado e tentou vários remédios, mas nada adiantou. Ela estava apenas piorando.

Gema tornou-se devota do Venerável Gabriel Possenti de Nossa Senhora das Dores (agora São Gabriel). Acamada pela doença, ela leu a história de sua vida. Mais tarde ela escreveu a respeito de São Gabriel:

“... eu comecei a admirar as suas virtudes e seus hábitos. Minha devoção por ele crescia. À noite eu não dormia sem ter sua imagem debaixo do travesseiro e, depois disso, passei a vê-lo perto de mim. Não sei como explicar isso, mas eu sentia a sua presença. Em todos os momentos e em cada ação, o Irmão Gabriel vinha à minha mente.”
Gema, agora com 20 anos, estava aparentemente em seu leito de morte. Uma novena lhe foi sugerida como a única chance de cura. Dia 23 de fevereiro de 1899, à meia-noite, ela ouviu o chocalhar de um rosário e se deu conta de que o Venerável Gabriel estava aparecendo para ela. Ele falou a Gema:

“Queres ficar curada? Reza com fé toda noite ao Sagrado Coração de Jesus. Eu virei a ti até a novena terminar, e rezarei contigo a este Sacratíssimo Coração”.


Na primeira sexta-feira de março a novena terminava. A graça tinha sido concedida; Gema estava curada. Quando ela levantou-se, os que estavam à sua volta choraram de alegria. Sim, um milagre havia acontecido!

Sofre com Cristo

Gema, agora em perfeita saúde, tinha sempre desejado tornar-se freira, mas isto não devia acontecer. Deus tinha outros planos para ela.


A 8 de junho de 1899, depois de receber a comunhão, Nosso Senhor deu a conhecer a Sua serva que Ele lhe daria uma graça muito grande.

Gema voltou para casa e rezou. Ela entrou em êxtase e sentiu um grande remorso por seus pecados. A Mãe Santíssima, de quem Santa Gema era extremamente devota, apareceu-lhe e disse:

“Meu filho Jesus te ama sem medida e deseja dar-te uma graça. Eu serei uma mãe para ti. Serás uma verdadeira filha?”
A Santíssima Virgem abriu então o seu manto e cobriu Gema com ele.

Eis como Santa Gema relata como ela recebeu os estigmas:

“Naquele momento, Jesus apareceu com todas as suas chagas abertas, mas daquelas chagas não mais saía sangue, mas chamas de fogo. Num instante aquelas chamas vieram tocar minhas mãos, meus pés e meu coração. Senti como se estivesse morrendo, e eu teria caído no chão, se minha Mãe não me tivesse segurado, enquanto todo esse tempo eu permanecia sob o seu manto. Tive de ficar várias horas naquela posição. Finalmente ela beijou minha testa, tudo desapareceu e eu me vi de joelhos. Mas eu ainda sentia uma forte dor nas minhas mãos, pés e coração. Levantei para ir para a cama, e percebi que saía sangue dessas partes onde sentia dor. Cobri-as o melhor que pude, e, ajudada então pelo meu Anjo, pude ir para a cama...”



Muitas pessoas, incluindo respeitosos membros da Igreja, testemunharam este milagre dos estigmas, que se repetiu praticamente até o fim da vida de Santa Gema. Uma testemunha ocular afirmou:

“Saía sangue dos ferimentos dela (Santa Gema) abundantemente. Quando ela estava de pé, ele caía no chão, e quando ela estava na cama, ele não apenas molhava os lençóis, mas encharcava o colchão todo. Eu medi alguns desses fluxos ou poças de sangue, e tinham entre cinqüenta e sessenta centímetros de comprimento e aproximadamente cinco centímetros de largura”.

Como São Francisco de Assis e recentemente Padre Pio, Gema pode dizer também: Nemo mihi molestus sit. Ego enim stigmata Domini Jesu in corpore meo porto: Que ninguém me faça mal, pois eu levo as marcas do Senhor Jesus no meu corpo.


Vida de Oração.




Com 21 anos, Gema foi acolhida por uma generosa família italiana, os Giannini. A família tinha já 11 filhos, mas estava feliz em receber esta jovem e piedosa órfã em sua casa. A mãe da família, a Senhora Giustina Giannini, diria mais tarde sobre Gema: “Posso jurar que, durante os 3 anos e 8 meses em que Gema esteve conosco, eu nunca soube do menor problema em nossa família que fosse provocado por ela e nunca vi nela o menor defeito. Repito, nem o menor problema, nem o menor defeito”.

Pe. Germano Seu diretor espiritual.


Santa Gema ajudava diligentemente com as tarefas da grande casa. Ela também tinha tempo para rezar, o que era a sua atividade favorita. Pela Providência, ela obteve como diretor espiritual o Passionista Pe. Germano, C.P., a quem ela era totalmente obediente.

Pe. Germano, um teólogo eminente no tocante à oração mística, percebeu que Gema tinha uma profunda vida de oração e conseqüente união a Deus. Ele estava convencido de que esta “Jóia de Cristo” tinha passado por todos os nove clássicos estágios da vida interior.

Gema assistia à Missa duas vezes por dia, recebendo a comunhão uma vez. Ela rezava o rosário com fé, e à noite, com a Senhora Giannini, ia às Vésperas. Com todos os seus exercícios espirituais, Gema nem mesmo uma vez negligenciou suas obrigações domésticas diárias na casa Giannini.

No ano 1901, com 23 anos, Gemma escreve por ordem de Padre Germano, a Autobiografia, "O quaderno dos meus pecados".

O Anjo da Guarda

O Anjo da Guarda de Gema aparecia freqüentemente para ela. Eles tinham uma conversa da mesma maneira que alguém conversa com o seu melhor amigo. A pureza e inocência de Gema devem ter trazido este Glorioso Anjo do céu para o seu lado.

Ela via seu anjo às vezes em adoração à soberana Majestade; outras, estendendo suas mãos sobre ela em sinal de proteção; no ato de defendê-la contra os ataques do demônio; ajoelhado junto a ela, sugerindo os pontos de meditação; ou simplesmente sentado a seu lado, dando-lhe bons conselhos. As vezes este com suas asas abertas ou ajoelhado ao lado dela - recitavam orações ou salmos alternadamente. Quando meditavam a Paixão de Nosso Senhor, o seu Anjo inspirava-lhe as mais sublimes reflexões neste mistério.

Seu Anjo da Guarda uma vez falou-lhe sobre as Agonias de Cristo:

“Olha para o que Jesus sofreu pelo homem. Considera uma por uma estas Chagas. É o Amor que abriu-as todas. Vê como execrável (horrível) é o pecado, já que para expiá-lo, tanta dor e tanto amor foram necessários”.

Nosso Senhor queria dela um desapego total de todas as coisas. Certa vez em que deveria ir ao palácio arquiepiscopal para receber a medalha de ouro que merecera no curso catequético, a tia quis vesti-la melhor. Gema até consentiu em levar ao pescoço uma correntinha com uma cruz e um relógio de ouro, lembrança de sua mãe. Quando voltou para casa e ia mudar de roupa, viu a seu lado o Anjo da Guarda, que a olhava com ar severo:

— Lembra-te, de que não devem ser outros; mas sim os espinhos e a cruz as jóias que adornarão a esposa de um Rei crucificado.Gema atirou para longe de si aqueles adornos, e prosternando-se no solo, em lágrimas, tomou a seguinte resolução:

“ Por amor a Jesus e para agradar só a Ele, proponho-me nunca levar objetos de vaidade, nem sequer falar deles”.
E afirma em sua Autobiografia:

“Desde aquele dia não voltei a possuir nenhuma dessas coisas”.
Era a fidelidade total à via para a qual Deus a chamava.


Outro dia, anota em seu diário:

“O Anjo da Guarda, que se mostra bastante severo em repreender-me, me disse:

- Minha filha, lembra-te de que cada vez que faltas à obediência cometes um pecado. Por que és tão remissa em obedecer ao confessor? Lembra-te de que não há caminho mais curto e seguro para chegar ao Céu que o da obediência.

O confessor lhe havia mandado escrever as graças espirituais que tinha recebido, e em sua humildade ela tinha muito escrúpulo em fazê-lo.

Assim, mesmo as ligeiras negligências de Gema no serviço divino encontravam no Anjo da Guarda um censor rigoroso. Este desaparecia por algum tempo ou lhe mostrava o aspecto severo, negava-se a dirigir-lhe a palavra ou mesmo dirigia-lhe duras admoestações, chegando às vezes a impor-lhe algum castigo.

Também lhe dizia o que ela deveria fazer para o progresso espiritual.

Por exemplo:

Se colocou perto de mim e me dizia carinhosamente:


"Oh filha, mas não sabes que tu deves ser em tudo conforme a vida de Jesus? Ele padeceu tanto por ti e tu não sabes que em todas as ocasiões deves padecer por Ele? Além disso, porque desagradas Jesus todos os dias deixando de meditar a Paixão?".

Era verdade, reconhece ela. Lembrou-se de que a meditação sobre a Paixão, não a fazia senão às quintas e sextas-feiras.

“Deves fazê-la todos os dias, não te esqueças”.


No final me dizia:

"Coragem, coragem! Este mundo não é um lugar de repouso: o repouso será depois da morte; agora tu deves padecer e padecer por qualquer coisa, para impedir á alguma alma a morte eterna".


O supliquei tanto que dissesse a minha Mãe que viesse a mim porque tinha tantas coisas a dizê-la; disse-me que sim. Esta noite porém não veio.

Ele também a incentivava no caminho da virtude:

“É pela excelsa perfeição de tua virgindade que Jesus te concede tantas graças”.


Com efeito, ela era de uma pureza Angélica. Nas várias intervenções cirúrgicas a que teve de submeter-se, era tal o seu recato, que chamava a atenção dos médicos. Uns a tomavam por santa, e os ímpios a consideravam “fanática”.

Gema nunca saía só à rua. Quando não tinha alguém da família para sair com ela, o seu Anjo da Guarda se oferecia para ser seu visível companheiro. Tinha tanta familiaridade com ele, que chegava mesmo a pedir-lhe para levar a correspondência ao seu diretor espiritual e trazer a que ele tinha para si.

A Devoção à Medianeira de todas as graças.

Sua devoção a Nossa Senhora, como já dissemos, era terna e filial.

A Mãe de Jesus aparecia-lhe aos sábados, geralmente como Mãe Dolorosa, e lhe comunicava algum detalhe da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outras vezes lhe aparecia com o Menino Jesus, entregando-O para que ela o cobrisse de carícias.

Quando Gema se via atolada naquilo que julgava o abismo de seus pecados, e não tinha ânimo de dirigir-se diretamente a Nosso Senhor, recorria à Medianeira de todas as graças:

“Minha mãe, tenho medo de ir em busca de Jesus sem Vós, porque, se bem que misericordioso, sei que cometi muitos pecados, e sei também que Jesus é justo no castigo. Peço-vos uma coisa grande, não é verdade, minha Mãe? Mas que hei de fazer, se o que perdi por meus pecados não o acho senão por vossa mediação? Ademais, pouco é o que vos peço em relação ao muito que podeis fazer por mim”.


Morte Heróica

Em 1902 Gema, em boa saúde desde a sua cura milagrosa, ofereceu-se a Deus como vítima pela salvação das almas. Jesus aceitou a sua oferta. A partir de setembro ela então ficou extremamente doente e sua vida é marcada profundamente da dor. Começa o período mais escuro da sua vida. As conseqüências do pecado caem pesadamente sobre o seu corpo e sua alma.

Seu estômago não suportava nenhum tipo de comida. Apesar de ter recuperado sua saúde rapidamente, pela Providência Divina, ela adoeceu novamente. Em 21 de setembro de 1902 ela começou a expelir sangue com as violentas palpitações de amor de seu coração. Enquanto isso ela passava por um martírio espiritual, pois ela experimentava aridez e nenhum consolo em seus exercícios espirituais. Além disso, seu inimigo, o demônio, multiplicava seus ataques contra a jovem “Virgem de Lucca”.

O Inimigo reforçava sua guerra contra Gema, pois ele sabia que o fim estava próximo. Ele esforçava-se para persuadi-la de que ela tinha sido totalmente abandonada por Deus. Usava suas diabólicas aparições e até mesmo violência física, batendo no frágil corpo de Gema.

Uma testemunha ocular que cuidava de Gema disse :

“Aquela besta abominável vai ser o fim da nossa querida Gema - golpes atordoantes, formas de animais ferozes etc. - eu a deixei com lágrimas nos olhos porque o demônio a está esgotando.”

Gema clamava incessantemente os nomes Santos de Jesus e Maria, mas a batalha continuava. O seu Diretor Espiritual, o Venerável Germano, vendo o esforço final de Gema, disse :

“A pobre sofredora passou dias, semanas e meses desse modo, dando-nos um exemplo de paciência heróica e razões para um medo saudável pelo que pode acontecer conosco, que não temos os méritos de Gema, na terrível hora da morte”.

Ainda assim, mesmo passando por essas provações, Gema nunca se queixou, ela apenas rezava. Gema estava no fim. Ela era praticamente um esqueleto vivo, mas ainda linda, apesar da devastação da doença. Ela recebeu o “Viático”.

Em suas últimas palavras, disse: “Eu não procuro mais nada; sacrifiquei tudo e todos a Deus; agora eu me preparo para morrer”. Ela falava com dificuldade. “Agora é mesmo verdade que não me resta mais nada, Jesus. Eu recomendo a minha pobre alma a Ti... Jesus !”

Gema então sorriu um sorriso celestial e deixando pender a cabeça para um lado, deixou de viver.



Uma das irmãs presente na hora da morte vestiu o corpo de Gema com o hábito dos Passionistas, que era a ordem à qual Gema sempre aspirou.

Essa morte abençoada aconteceu no Sábado Santo, dia 11 de Abril de 1903, quando Gema Galgani tinha 25 anos.



A Canonização.






As autoridades da Igreja começaram a estudar a vida de Gema em 1917 e ela foi beatificada em 1933. O decreto aprovando os milagres para a canonização foi lido a 26 de março de 1939 - Domingo de Ramos. Gema Galgani foi canonizada a 2 de março de 1940, apenas trinta e sete anos depois da sua morte.

Há um verso do poema de Dante (Paraíso, c. XXX, 19-21) no qual a beleza sobrenatural é admiravelmente recordada e exaltada. (2) Ele também se adapta bem à pequena Jóia de Cristo, verdadeira Beatriz, que o Senhor com tanta alegria enfeitou para Si mesmo:

Santa Gema, rogai por nós.

A autobiografia de Santa Gemma Galgani.

"O quaderno dos meus pecados"




                                   (Autobiografia da Santa, que o demônio tentou queimar)





Explicações tidas pelo Anjo da Guarda:
Do Diário de Gemma Galgani (alguns trechos).



Na manhã do dia 25 de março, Jesus se fez presente à minha alma mais vezes: sentia um recolhimento interno, que por graça de Deus nada podia me distrair; ao meio dia sinto que o meu anjo me bate no ombro e me diz:

- Gemma, venho em nome de Jesus a exaurir a sua promessa.


Não sabia o que pensar; fiquei admirada em escutar aquelas palavras.
- Filha, acrescentou, eu sou o teu guarda, mandado de Deus; eu venho para fazer-te entender um mistério, maior que todos os outros mistérios.


Era estupefata, ainda não entendia... O meu anjo percebeu e me disse:


- Lembras, 12 dias atrás, aquilo que te prometi?


Pensei e logo me veio à mente.

- Sabes, oh minha filha, que eu te falarei sobre Maria Santíssima, de uma mocinha tão humilde diante do mundo, mas de uma infinita grandeza diante de Deus; te falarei da mais linda, da mais santa de todas as criaturas; da filha predileta do Altíssimo, daquela que vinha destinada à incomparável dignidade de mãe de Deus.

... Era já noite adentro e Maria Santíssima estava sozinha no seu quarto: rezava, era toda compenetrada em Deus. De repente aparece uma grande luz naquele mísero quarto e o arcanjo, transformando-se em corpo humano e circundado de um numero infinito de anjos, vai perto de Maria, reverente e majestoso. A reverência como Senhora, sorri a Ela como anunciador de uma bela noticia e com doces palavras assim lhe diz: "Ave, ó Maria, o Senhor é com ti. A bendita tu és entre todas as mulheres". O belo, o grande e sublime augúrio, que na terra nunca se escutou nem se escutará jamais!

..."Apenas o arcanjo celeste pronunciou estas palavras, silenciou, quase esperando o sinal dela para explicar a sua divina embaixada. Maria porém, escutando a surpreendente saudação, se inquietou; se calou e pensava. Mas talvez crias, ó filha minha, que à Maria não tivessem descido os anjos do paraíso? Ela a cada momento gozava da visita e dos doces colóquios... Ela não vai investigar na sua mente o significado misterioso, mas se inquieta porque; acredita ser indigna da saudação Angélica. Ah! Filha minha", me repetia, "se Maria tivesse sabido quanto a sua humildade fosse de agrado ao Senhor, não se teria sentido indigna dos obséquios de um anjo. "Como, dizia para si mesma, "um anjo de Deus me chama cheia de graça, enquanto eu me reconheço não merecedora de qualquer divino favor? "Como, pensava Maria, "um anjo do paraíso me chama bendita entre as mulheres, enquanto sou entre as mulheres a mais inútil, a mais vil, a mais objeta? Qual mistério se esconde atrás do véu desta sublime saudação?...


"À saudação do anjo, Maria não havia dado nenhuma resposta; então Gabriel para acalmá-la repetiu: "Não temer, ó Maria, tu és a única que encontrou graça diante o Altíssimo. Deste momento conceberás no teu seio um filho, o chamará com o nome de Jesus e de todos será chamado Filho do Altíssimo: a ele será dado o trono de Davi, reinará em eterno e o seu reino não terá fim". Com estas sublimes palavras o arcanjo explicou tudo o que devia a Maria...


... O anjo já havia manifestado a Virgem o mistério da grande missão, isto é, que Ela estava para ser a mãe do Filho do Altíssimo. Mas Ela, olhando na direção do anjo, lhe disse: "E em que modo poderá acontecer isto, se conservo o meu candor virginal?" (Já tinha sido prognosticado por Isaías, que dizia que o Cristo devia nascer da mãe virgem)... Saiba, aqui me disse o meu anjo, "que Maria Santíssima, com um exemplo jamais ouvido, desde do início da sua vida tinha consagrado ao celeste esposo das almas castas a sua flor virginal e, mesmo que não fosse sujeita a tentações, não havia deixado de conservar aos seus lírios entre os espinhos da mortificação.

"Refleti", me dizia, "como Maria Santíssima silenciou a todas as coisas que se referiam ao grande mistério, somente falou e se demonstrou aberta, quando ouviu tratar do seu puro candor e se colocou perto daquele anjo de Deus com doce vontade… Entendeu, ó filha, quanto Maria amasse esta bela, Angélica, celeste virtude? Mas quem acreditas tu que a amasse mais? Jesus ou Maria? Certamente Jesus que nunca teria escolhido uma mãe, se não virgem pura, imaculada.


O anjo Gabriel respondeu:

"Maria, o Espírito Santo descerá sobre ti, a virtude sublime do Altíssimo te cobrirá; e porém aquele que nascerá da ti santo será o verdadeiro Filho de Deus. A este ponto te informo que Isabel, tua parente, na sua velhice concebeu um filho e é já ao sexto mês, aquela que dizia ser estéril, porque lembras que a Deus nada é impossível".

O anjo Gabriel continuou a Maria Santíssima com estas palavras:

"Estai tranquila e consola-te, ó virgem bendita: o divino Espírito será aquele que descerá para fecundar as tuas vísceras imaculadas. A onipotente virtude do Altíssimo operará em ti um novo prodígio que, conservando ao mesmo tempo a honra de virgem, te dará a alegria de mãe. O santo, que conceberás no teu seio, não será que o Filho de Deus".



Com estas palavras o arcanjo Gabriel revelava o arcano, explicava o mistério, tranquilizava Maria.


"Enfim tudo foi feito, não faltava que a última palavra de Maria, para que a virgem fosse mãe de Deus. O Verbo divino, gerado do Pai no esplendor dos santos, não devia ter pai na terra, assim como mãe não teve no céu. E Maria, sendo eleita genitora do Unigênito do divino Pai, se transformava do mesmo Pai, a unigênita filha. Sendo Ela a virgem que devia dar os humanos, membros ao Verbo divino; era elevada à dignidade de Mãe do Filho de Deus. Sendo Maria aquela, sobre a qual teria descido o Espírito Santo, que coberta com a Sua virtude onipotente a teria feita mãe virgem de um filho Deus, era por isso elevada à grandíssima honra de esposa ao Espírito Santo.

"Explicado o enigma, tranqüilizada completamente a virgem, o mensageiro divino silenciava, ansioso esperando a sua resposta, isto é, a autorização de Maria à encarnação do Verbo eterno... e Ela responde:

"Eis a serva do Senhor, seja feito de mim segundo a tua palavra".

Tudo é feito, Maria é a mãe do Filho do Altíssimo. A estas palavras exulta o céu, se consola o mundo inteiro. O anjo reverente se prostra diante à sua Senhora e depois pega o vôo e volta ao paraíso.



Maria, no ato de aceitar a altíssima dignidade de Mãe de Deus, se declarava humildemente serva do Senhor. Esta humildade profundíssima, em que a encontrou recolhida e quase abandonada, o anjo do Senhor, não faltou à gloriosa saudação e a mais gloriosa proposta de ser a mãe do Verbo divino.


"Maria tinha então proferido o prodigioso Fiat (sim), e em um instante, formado do divino Espírito no seu seio, da puríssima virginal substância, um tenro e perfeito corpinho e unindo uma alma humana, se juntaram em simbiose, à divina Pessoa do Verbo. O milagre! Aquele Deus, que não pode ser contido na grandeza dos céus, está dentro do ventre de Maria. Aquele Deus, que sustenta com um dedo a grande máquina do universo, é sustentado pelo puro seio de uma virgem. Quem pode dizer portanto qual seja a grandeza da alegria que inundou e incendiou a alma de Maria naquele feliz momento em que se transformou em mãe do Filho de Deus? O Rei dos Reis, o grande Senhor dos dominantes colocou o seu trono no seio de Maria. Um infinito gáudio inundou Maria, quando se fixou na infinita luz e pode mirar os arcanos esplendores da divindade.

Aceitando Maria a incomparável dignidade de mãe de Deus, aceitava o generoso dever de mãe do humano gênero.

Devemos alegrar-nos: Maria, dando o seu consentimento ao anjo, nos adotou como filhos e se transformou na mãe de todos nós.


Mais alguns Trechos do Diário de Gemma Galgani




... Era de muito tempo que suplicava a Jesus a fim de que me tirasse todos os sinais externos, mas Jesus invés acrescentou um outro; me fez experimentar pequenas partes da sua flagelação; as dores das mãos, pés, cabeça e coração acrescentou também alguns outros. Seja sempre agradecido. Lá pelas cinco horas comecei a sentir uma dor tão forte dos meus pecados, que me parecia de estar fora de mim: mas a este pavor logo apareceu a esperança na misericórdia de Deus e logo me acalmei.



... Não experimentava ainda nenhuma dor; depois de mais ou menos uma hora me pareceu de ver o meu anjo da guarda que tinha na mão duas coroas: uma de espinhos, feita a forma de chapéu e a outra de lírios branquíssimos.

A primeira impressão este anjo me deu um pouco de medo, mas depois, alegria; juntos adoramos a grandeza de Deus, gritamos; "Viva Jesus!" forte e depois, mostrando-me as duas coroas, me perguntou qual preferia. Não quis responder, porque padre Germano me o havia proibido, mas insistiu, dizendo-me que era ele que o mandava e para dar-me um sinal que verdadeiramente era ele que o mandava, me benzeu na maneira que era hábito ele fazer e fez a oferta de mim ao eterno Pai, dizendo-me que esquecesse naquela noite a mim mesma e pensasse aos pecadores.

Fui influenciada por estas palavras e respondi ao anjo que escolheria aquela de Jesus; me mostrou aquela de espinhos e me a deu; a beijei diversas vezes e o anjo desapareceu, depois de tê-la colocada sobre a minha cabeça.

Comecei então a sofrer, nas mãos, pés e na cabeça; mais tarde, no corpo inteiro e sentia fortes socos. Passei a noite deste modo; com força me levantei na manhã seguinte, para não dar na vista; os socos e as dores até as duas horas; nesta hora apareceu o anjo (e para dizer a verdade, quase não podia ficar em pé) e me fez estar bem, dizendo-me que Jesus tinha tido compaixão de mim, porque sou pequenina e era incapaz de chegar a sofrer até a hora que Jesus expirou.

Depois estive bem; porém eu sentia todos os ossos e mal me podia aguentar em pé. Mas uma coisa me afligia: via que os sinais não tinham desaparecido, nos braços e em qualquer outra parte do corpo (notei enquanto me vestia) havia manchas de sangue e alguns sinais de socos. De manhã, quando fiz a comunhão, rezei com mais fervor a Jesus, que me tirasse os sinais e me prometeu que no dia da sua Paixão me teria tirado. Soube que a Paixão era terça-feira e sextas-feiras, não deveriam mais passar.

A última sexta-feira, os sinais na cabeça, nas mãos, nos pés e no coração não mais existiam; mas Jesus pela segunda vez me fez sentir novamente alguns socos: veio-me um pouco de sangue em algumas partes do corpo, mas espero que Jesus logo me tirará também estas.

... Hoje que eu pensava de estar livre daquela fera, invés ela me atormentou muito. Eu fui com a intenção de dormir mas aconteceu tudo uma outra coisa:

Começou com socos que temi pudessem me fazer morrer. Era na forma de um grande cão todo preto e me colocava as pernas sobre os meus ombros; mas me fez muito mal porque me fez sentir todos os ossos.

As vezes acredito que ele me segurasse, aliás uma vez, tempos atrás, no pegar a água benta, me torceu tão forte o braço, que cai no chão com grande dor e então me tirou o osso do lugar; mas logo voltou, porque me tocou Jesus e tudo retornou ao normal.




... Ontem aconteceu a mesma coisa: fui para dormir e adormeci, mas o demônio não, parecia que não tinha vontade. Se mostrou de uma maneira suja, me tentava, mas fui forte. Dentro de mim pedia a Jesus que preferia que me tirasse a vida do que dever ofendê-lo. Que tentações horríveis são aquelas! Todas me desagradam, mas aquelas contra a santa pureza quanto me fazem mal!

Depois para colocar-me em paz, veio o anjo da guarda e me tranqüilizou dizendo que eu não havia feito mal algum. As vezes reclamo porque gostaria que me viesse ajudar em determinados momentos, e me diz: Que eu o veja ou não, está sempre acima da minha cabeça; e ontem, porque Maria Santíssima Venerada me ajudou de verdade e fui muito forte, me prometeu que à noite teria vindo Jesus a ver-me.


... Esta sexta-feira sofri muito mais, porque fui obrigada a fazer pequenas coisas, e a cada movimento pensava de morrer. Minha tia me tinha impedido de trazer para cima um pouco de água: fiz com dificuldade, e me parecia (mas era tudo idéia minha) que as espinhos me fossem ao cérebro e me começou a cair uma gota de sangue das têmporas. Me limpei rápido. Me perguntou se eu tinha caído e quebrado a cabeça; lhe disse que tinha-me arranhado com a corrente do pescoço. Depois fui procurar as freiras; eram 10 horas e fiquei com elas até às 5. Voltei para casa, mas Jesus já tinha feito desaparecer tudo.


... Fui dormir com a firme intenção de dormir; o sono não demorou a vir e me apareceu quase logo um homem pequeno, pequeno, de cor perto e de pelo preto. Que susto! Pousou as mãos sobre a cama, pensei que quisesse surrar-me. Não, não, não posso te surrar, não te amedronte, e no dizer isso, ia se alongando. Chamei Jesus em minha ajuda, mas não veio; nem por isso me deixou: depois de ter invocado o nome de Jesus, me senti logo livre, mas foi tudo de repente.


... Tinha terminado as orações: fui para a cama. Quando o anjo teve de Jesus a permissão de vir, voltou e me perguntou:


- "Quanto tempo faz que não rezas pelas almas do purgatório?... "A cada pequena pena que sofres, as alivia; também ontem e hoje, se tu tivesses oferecido a elas aquele pouco...".

Mas respondi um pouco admirada:

- "Me doía o corpo; e se as dores do corpo aliviam as almas do purgatório?


- "Sim", me disse; "sim, filha; o menor padecimento as alivia".

Prometi-lhe então que daquele momento em diante qualquer coisa seria oferecido por elas.


... Eram mais ou menos nove e meia, eu estava lendo: de repente sinto uma mão apoiada ligeiramente sobre o meu ombro esquerdo. Girei apavorada; tive medo, pensei em chamar, mas não o fiz. Me girei e vi uma pessoa vestida de branco: vi uma mulher, a olhei e o seu olhar me fez entender que não havia nada a temer:


- "Gemma", me disse depois de alguns minutos, "me conheces?".
Eu disse que não, porque bem que podia dizer; e ela acrescentou:
- "Eu sou a irmã Maria Teresa do Menino Jesus; te agradeço muito por ser tão primorosa porque logo possas alcançar a minha eterna felicidade".

... Naqueles momentos o anjo da guarda me sugeria ao ouvido:

- "Mas a misericórdia de Deus é infinita".
Me acalmei. Comecei logo a padecer muito na cabeça: eram mais ou menos dez horas. Quando fiquei sozinha, me coloquei na cama: sofri um pouco, mas Jesus não demorou a aparecer, mostrando-se, também ele, que sofria muito. Lhe lembrei os pecadores, pelos quais também Ele me estimulou a oferecer todos os meus pequenos padecimentos ao eterno Pai em nome deles.

... Depois do que me aconteceu, teria sabido com prazer que alguma coisa quisesse dizer aquela luz que saia das chagas, em particular da mão direita, com a qual me abençoou.

O anjo da guarda me disse estas palavras:

"Filhinha, neste dia a benção de Jesus derramou sobre ti uma abundante graça".



Os dois Santos foram quase contemporâneos.

Francisco Forgiane (Padre Pio) de 9 anos, mais jovem que Gemma, aos 5 anos sente o desejo de ser totalmente de Deus e inicia a experimentar os primeiros fenômenos sobrenaturais e durante o seu noviciado (1903-1904) experimenta plenamente a sua experiência mística (Gemma tinha apenas morrido).

A semelhança entre as suas experiências com aquelas de Gemma o leva a intuir e reconhecer que Gemma é aquela que pode ajudá-lo a compreender o que está vivendo na própria carne.

Como Gemma também Padre Pio deve lutar com o demônio, tem as mesmas experiências celestes feitas de revelações, presenças Angélicas, de Cristo e da Virgem Maria. Vive depois a dolorida experiência das estigmatizes, no inicio invisíveis, por quase 8 anos e depois manifestadas e permanentes.


Padre Pio se reconhece plenamente nas mesmas excepcionais experiências místicas de Gemma, dela descritas com uma linguagem muito simples e a escolhe como modelo. Na verdade em muitas suas cartas (mais ou menos 50) existem frases e expressões típicas da linguagem de Santa Gemma tiradas das suas cartas, diário e escritos.

Padre Pio tenha lido os escritos de Gemma se encontra a confirma em uma sua carta a padre Bento datado 2 maio 1921. Assim escreve:

"Venho a pedir-te uma caridade: teria a vontade de ler o livrinho "Cartas e êxtase da serva de Deus Gemma Galgani, junto com aquele outro da mesma serva de Deus, que se chama "A hora Santa". Certo que ela achando justo este meu desejo, me os procurará. Agradeço e peço a sua benção. O seu Frei Pio.


Santo Padre Pio recomendava a vários seus filhos espirituais à devoção a Gemma que chamava "A Grande Santa" e quando falava dela se comovia até as lágrimas e convidava os devotos visitadores a conhecer esta alma predileta.


Frequentemente Padre Pio convidava em Lucca diversos peregrinos vindos da Toscana e de algumas Regiões do Norte da Itália: "O que vocês vem fazer aqui? A pedir graças? Correis a Lucca que é mais perto de vós, porque lá está Santa Gemma, que é uma Santona".


Santa Gemma Galgani e São Padre Pio espalharam por todo o mundo o perfume de santidade e nós atordoados não resta que louvar Deus com agradecimentos por ter-nos doado criaturas tão resplendentes de amor e de virtude.

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/2.%20Segunda%20P%C3%A1gina/Santa%20gemma%20Galgani.htm

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Por que o Verbo se fez carne?


O maior acontecimento da história humana foi a Encarnação do Verbo. “Por nós, homens, e para a nossa salvação”, diz o nosso Credo, desceu à Terra, no seio virginal de Maria e se fez um de nós; “armou a sua tenda entre nós”; se fez nosso Irmão, e nos reconciliou com Deus por seu sacrifício na Cruz. “O Pai enviou seu Filho como o Salvador do mundo” (1Jo 4,14). “Este apareceu para tirar os pecados” (1Jo 3,5).

O pecado de todos os homens ofende a Majestade infinita de Deus; fere a justiça e o direito divinos; e isso não pode ser reparado por uma recompensa apenas humana. Só Deus poderia reparar uma ofensa infinita praticada contra Deus; então, Deus mesmo, na pessoa do Verbo encarnado, feito homem, veio reparar essa ofensa. No seio da Trindade o Verbo se ofereceu para essa Missão: fazer-se homem, para, no lugar do homem oferecer a oblação de valor infinito de sua vida pela salvação de todos os seus irmãos. “O´ Senhor, quanto Te custou nos ter amado!”, exclamou o doutor da Igreja Santo Afonso de Ligório.

A Carta aos Hebreus fala desse mistério: “Por isso, ao entrar no mundo, Ele afirmou: Não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram de teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui… para fazer a tua vontade” (Hb 10,5-7; Sl 40,7-9).

A Igreja reza na Liturgia: “No momento em que Vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos.” (Prefácio da Or. Eucarística do Natal III). “Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos recriastes na luz eterna de sua divindade” (Pref. Or. Euc. da Epifania).

O grande Padre da Igreja, São Gregório de Nissa (†340), assim explicou:

“Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um Salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um Libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visita-la, uma vez que a humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?” (Or. Cath. 15: PG 45,48B)

O nosso Catecismo explica que “o Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus”: “Nisto manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele” (1 Jo 4,9). “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a fim de que todo o que crer nele não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jo 3,16).

O Verbo se fez carne “para ser nosso modelo de santidade”: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim…” (Mt 11,29). “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). E o Pai, no monte da Transfiguração, ordena: “Ouvi-o” (Mc 9,7).

O Verbo se fez carne para tornar-nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4): “Pois esta é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus” (S. Irineu).

Inscrição dizendo "Verbum caro hic factum est" (O Verbo se fez carne aqui) na Basílica da Anunciação em Nazaré, Israel

Não foi sem razão que o grande compositor alemão Johann Christian Bach (†1782) compôs a magnifica música “Jesus, alegria dos homens”.

Fonte: http://cleofas.com.br/por-que-o-verbo-se-fez-homem/

domingo, 8 de abril de 2018

Domingo da Divina Misericórdia


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A Festa da Misericórdia é um dos elementos mais importantes da devoção à Divina Misericórdia presentes nas revelações de Nosso Senhor à Santa Faustina. No Diário o tema recorrem em 37 números, em 16 dos quais nos deparamos com uma manifestação extraordinária de Jesus a seu respeito. Com efeito, aos 22/02/1931, uma das primeiras revelações de Jesus à Santa Faustina diz respeito à Festa da Misericórdia, que deveria ser celebrada no 2º domingo da Páscoa:

“Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia”
(Diário, 49; cf. 88; 280; 299b; 458; 742; 1048; 1517).

A Festa é uma obra divina, mas Ele quer que Santa Faustina se empenhe tanto em sua implantação (D. 74; 341; 463; 1581; 1680), como em seu incremento: “Na Minha festa, na Festa da Misericórdia, percorrerás o mundo inteiro e trarás as almas que desfalecem à fonte da Minha misericórdia. Eu as curarei e fortalecerei” (D. 206); “Pede ao Meu servo fiel que, nesse dia, fale ao mundo inteiro desta Minha grande misericórdia, que aquele que, nesse dia, se aproximar da Fonte da Vida, alcançará perdão total das culpas e penas” (D. 300a; cf. 1072). Santa Faustina abraça com toda a alma esta causa, pelo que exclama e reza: “Oh! como desejo ardentemente que a Festa da Misericórdia seja conhecida pelas almas!” (D. 505); “Apressai, Senhor, a Festa da Misericórdia, para que as almas conheçam a fonte da Vossa bondade” (D. 1003; cf. 1041). Jesus leva a sério a dedicação de Santa Faustina nesta missão: “Pelos teus ardentes desejos, estou apressando a Festa da Misericórdia…” (D. 1082; cf. 1530), e por isso o demônio procura atrapalhar o seu caminho (D. 1496).

Em 1935, no domingo de encerramento do Jubileu da Redenção, Santa Faustina participa da Eucaristia como se estivesse celebrando a Festa da Misericórdia; Jesus então se lhe manifesta como está na imagem e lhe diz: “Essa Festa saiu do mais íntimo da Minha misericórdia e está aprovada nas profundezas da Minha compaixão. Toda alma que crê e confia na Minha misericórdia irá alcançá-la” (D. 420; cf. 1042; 1073). Sabe, contudo, que talvez não participe em vida da sua celebração, mas nem por isso se desanima: “Eu sou apenas Seu instrumento. Oh! quão ardentemente desejo ver essa Festa da Misericórdia Divina que Deus está exigindo através de mim, mas se for a vontade de Deus e se ela tiver que ser comemorada solenemente apenas depois da minha morte, eu já agora me alegro com ela e já a comemoro interiormente com a permissão do confessor” (D. 711). Chega a tomar conhecimento – por iluminação divina – das disputas que se dão no Vaticano por causa desta Festa (D. 1110; cf. 1463) e dos avanços positivos a seu respeito através do Beato Pe. Sopocko (D. 1254). A Festa propriamente dita seria celebrada no Santuário de Cracóvia-Lagiewniki seis anos após a morte de Santa Faustina (1944).

A Festa da Divina Misericórdia e o quadro



Fica patente no Diário que existe uma relação muito estreita entre Festa da Misericórdia e veneração do quadro, proclamação da divina misericórdia, confiança nesta divina misericórdia, participação nos sacramentos (Eucaristia e Confissão) e remissão dos pecados (culpas e penas):

“A tua tarefa e obrigação é pedir aqui na Terra a misericórdia para o mundo inteiro. Nenhuma alma terá justificação, enquanto não se dirigir, com confiança, à Minha misericórdia. E é por isso que o primeiro domingo depois da Páscoa deve ser a Festa da Misericórdia. Nesse dia, os sacerdotes devem falar às almas desta Minha grande e insondável misericórdia. Faço-te dispensadora da Minha misericórdia. Diz ao teu confessor que aquela Imagem deve ser exposta na igreja, e não dentro da clausura desse Convento. Por meio dessa Imagem concederei muitas graças às almas; que toda alma tenha, por isso, acesso a ela” (D. 570); “Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores. Neste dia, estão abertas as entranhas da Minha misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da fonte da Minha misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das culpas e das penas. Nesse dia, estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais fluem as graças. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de Mim, ainda que seus pecados sejam como o escarlate. A Minha misericórdia é tão grande que, por toda a eternidade, nenhuma mente, nem humana, nem angélica a aprofundará. Tudo o que existe saiu das entranhas da Minha misericórdia. Toda alma contemplará em relação a Mim, por toda a eternidade, todo o Meu amor e a Minha misericórdia. A Festa da Misericórdia saiu das Minhas entranhas. Desejo que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa” (D. 699); “Desejo conceder indulgência plenária às almas que se confessarem e receberem a Santa Comunhão na Festa da Minha misericórdia” (D. 1109).

Em 1936 o Senhor lhe pede que esta Festa seja preparada espiritualmente: “O Senhor me disse para rezar o Terço da Misericórdia por nove dias antes da Festa da Misericórdia. Devo começar na Sexta-feira Santa. Através desta novena concederei às almas toda espécie de graças” (D. 796; cf. 1059; 1209). A relevância desta Festa se pode depreender também da seguinte exortação e promessa: “As almas se perdem, apesar da Minha amarga Paixão. Estou lhes dando a última tábua de salvação, isto é, a Festa da Minha Misericórdia. Se não venerarem a Minha misericórdia, perecerão por toda a eternidade” (D. 965; cf. 998).

Fonte: http://misericordia.org.br/home/devocao/formas-de-devocao-divina-misericordia/festa-da-divina-misericordia/