Celebramos hoje a antiga memória da apresentação da toda santa Mãe de Deus no Templo. Trata-se de uma tradição que não está presente nos evangelhos canônicos, mas que embasada em documentos antigos segundo os quais a Virgem Maria, ainda pequenina, foi apresentada por seus pais no Templo de Jerusalém. A tradição nos conta que os pais de Maria, S. Joaquim e Sant’Ana, conceberam a Virgem Santíssima já na velhice e, é claro, vendo que se aproximavam da morte, cumpriram o voto que tinham feito de consagrar a menina ao serviço de Deus. A tradição diz ainda que, junto do Templo de Jerusalém, existia uma espécie de “escola” ou internato em que se acolhiam meninas para servir no Templo, nas tarefas do dia a dia, preparando o necessário aos sacerdotes etc. Foi ali que S. Joaquim e Sant’Ana apresentaram a Virgem Maria. Essa belíssima tradição diz também que a Virgem Maria, com mais ou menos quatro anos, ao chegar à entrada do Templo, foi de tal modo atraída por Deus, que subiu sozinha as escadarias, rodopiou de alegria e entrou sem olhar para trás, sinal maravilhoso tanto de desapego dos pais quanto da pureza de coração de quem se entrega a Deus.
Pois bem, a apresentação da Virgem Maria no Templo é para nós uma lição sobre o primeiro de todos os Mandamentos, amar a Deus com todo coração, com toda a alma, com todas as forças. Que significa isso? Não significa que não possamos nesta vida amar nossos pais nem o que é bom, honesto e dom de Deus, senão que é necessário enxergar em tudo isso a “atração” de Deus. Atraídos por Ele, devemos amar nossos pais; atraídos por Ele, devemos amar a esposa, o esposo, o filho, a filha, amar todas as coisas em Deus e por Deus. Ele deve ser nossa causa final, a razão de tudo, o sentido de tudo, o que nos atrai e impele. Portanto, celebrar a apresentação da Virgem Maria no Templo é apresentar esse sursum corda que nos é dirigido por Deus e à Igreja em cada Missa: corações ao alto, corações voltados para o céu! Que miséria é ver as pessoas voltadas para baixo, o coração voltado para as coisas terrenas, quase como um porco, um animal incapaz de levantar a sua cerviz, mas todo voltado para a lama, com o focinho metido nas sujeiras da terra.
Nosso Senhor, porém, quer que tenhamos coração e olhos de águia, isto é, voltados para o alto, como S. Teresinha do Menino Jesus nos ensinou no seu Manuscrito B, em que ela, confessando ser um pequeno passarinho incapaz de grandes obras, mostra ter um grande coração, um coração e olhos de águia, olhos que falam da fé, o coração que fala do amor. Porque as obras podem até ser pequenas, mas o importante é que a fé e o amor sejam virtudes grandes, que nos direcionem para a finalidade última de tudo: amar a Deus em todas as pequenas coisas que nós temos e fazemos. Eis aí: enxergar a presença divina em cada momento, em cada pequeno transtorno da vida, mas também em cada pequena alegria, para as festejar em Deus e em tudo lhe dar graça. Hoje, vemos a nossa Mãe bendita dar um passo de dança, subir a escadaria do Templo e rodopiar de alegria, alegria de quem se entrega a Deus, de quem tem o coração para o alto: sursum corda! Sejamos também nós alegres em nossa entrega a Deus.
Fonte: Padre Paulo Ricardo
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